POLÍTICA

'Semipresidencialismo no Brasil é aventura, é saltar no escuro', diz Joaquim Barbosa

Ex-presidente do STF condena ideias em torno da adesão do semipresidencialismo no Brasil, uma vez que o país tem, há 130 anos, referência presidencialista, e julga que dar esse passo no sistema político brasileiro pode fazer com que "o tiro saia pela culatra"

Por Jornal do Brasil
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Publicado em 25/07/2021 às 18:23

Alterado em 25/07/2021 às 18:23

Joaquim Barbosa Foto: Fellipe Sampaio/STF

Diante dos diálogos acerca da adoção de um novo sistema político no Brasil, o do semipresidencialismo, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, após um silêncio de quatro anos, resolveu dar sua opinião sobre o assunto.

Segundo Barbosa, que nas eleições de 2018 descartou a possibilidade de se candidatar à presidência e deixou parte da população frustrada, adotar esse sistema no país é "uma aventura, um salto no escuro".

"Como você vai mudar de uma hora para a outra um sistema [o presidencialismo] que vem sendo aplicado há 130 anos no país, e trocar por algo que não se conhece? Eu acho isso muito irresponsável. Por isso me dispus a falar sobre esse tema", disse o ex-presidente do STF citado pela mídia.
Barbosa também afirma que o semipresidencialismo deu certo na França porque "ele é fruto de circunstâncias históricas específicas daquele país", e que em nada teria a ver com o Brasil.

"Eu conheço o semipresidencialismo porque vivi na França […] Vi funcionar e o acompanho há 35 anos. Conheço, portanto, as suas virtualidades e os seus defeitos. Não sou contra esse tipo de governo, mas acho que não se está levando em conta o fato de que ele é fruto de circunstâncias históricas específicas à França."

Mesmo que o sistema tenha dado certo no país europeu, Barbosa diz que isso não seria motivo para acreditar que daria certo no Brasil, uma vez que o país tem uma grande quantidade de partidos.

"Um sistema como esse requer um número pequeno, sólido e coeso de legendas, sem dissensões internas relevantes. Uma base leal que dá sustentação ao governo e não permite que ele caia a cada seis meses."
Como segundo motivo, o ex-ministro afirma que o Brasil está acostumado há 130 anos com o sistema presidencialista, e que não entenderia "a queda de um governo a cada seis ou sete meses, proporcionada por pessoas [os parlamentares] com as quais a população não tem nenhuma identificação".

"O Brasil está acostumado, por 130 anos de prática do regime presidencial, a ter como referência um presidente da República. O país não entende e não é vocacionado para o sistema parlamentar, mas entende muito bem o sistema presidencial", completou.

Barbosa também acredita que o alvoroço em torno do semipresidencialismo é feito por pessoas que não entendem profundamente da questão, e diz que "o tiro pode sair pela culatra".

"Agora eles querem oficializar isso através de um suposto semipresidencialismo em que dariam as cartas. Mas eles não sabem o que é realmente esse sistema político. O tiro pode sair pela culatra. […] Adotar o semipresidencialismo na intenção de transferir oficialmente a essência do poder a esses homens seria um erro político imperdoável. É uma aventura. Um salto no escuro", afirmou Barbosa.(com agência Sputnik Brasil)