EDITORIAL

Labaredas ainda queimam o Museu Nacional

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Por JORNAL DO BRASIL
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Publicado em 12/08/2022 às 21:39

Alterado em 13/08/2022 às 07:25

O incêndio que atingiu o Museu Nacional em Setembro de 2018 ainda queima até hoje. A ganância e a incompetência, que foram elementos essenciais na consumação da tragédia, agora rondam a reconstrução do museu, como se nada tivesse acontecido. Ou melhor, como se a tragédia tivesse sido provocada exatamente para gerar novos lucros para quem imaginou acender o fósforo e que, agora, lucraria novamente reconstruindo o monumento que virou cinzas.

O JORNAL DO BRASIL teve acesso a documentos com denúncias gravíssimas de irregularidades na contratação de uma empresa encarregada de elaborar as diretrizes de reconstrução para o imóvel incendiado. Em linhas gerais é algo como incendiar uma segunda vez, só que com injeção de verbas em vez de injeção de fogo. E esse parece ser o modus operandi de todo o processo de reconstrução.

O Museu Nacional da UFRJ teria contratado, de forma até hoje tecnicamente não esclarecida, uma empresa que tinha como responsáveis pelos projetos um casal que é parente do funcionário de outro órgão federal que autorizava esses mesmos projetos. Uma triangulação que segundo as denúncias poderia descortinar um evidente jogo de cartas marcadas e um conflito de interesses que vem alimentando as labaredas das gra-ves suspeitas de corrupção que estão por trás da reconstrução do majestoso palácio incendiado.

A documentação que comprovaria as manobras pra lá de suspeitas entre amigos e familiares não está em nenhum site secreto. Pelo contrário. Está à disposição para quem tiver a curiosidade de verificar em processo de livre consulta pública. É curioso que essa atuação suspeitíssima do Museu Nacional nunca tenha sido investigada ou nunca tenha provocado o interesse da imprensa. Também causa surpresa que nenhuma esfera de governo tenha se dado ao trabalho de questionar indícios de irregularidades explícitos neste caso que causou tanta comoção nacional e internacional.

Agora, às vésperas do Bicentenário da Independência do Brasil, o assunto talvez esteja prestes a vir à tona. Uma denúncia sobre administração irregular do Museu Nacional chegou ao Congresso. Parlamentares já tiveram acesso aos processos de livre consulta pública que, investigados, poderiam comprovar um esquema viciado para obras de reconstrução desde o início e possivelmente até hoje por se tratar dos mesmos gestores que continuam lá no comando do Museu Nacional.

E isso não é tudo. A Controladoria Geral da União já foi alertada sobre as possíveis irregularidades em contratações do Museu Nacional. Observando com atenção os documentos de livre consulta, é possível cogitar a necessidade de suspensão das obras até que sejam investigadas as responsabilidades. A celebração dos 200 anos de nossa Independência é a cortina de fumaça favorita daqueles que não querem chamar atenção sobre as denúncias de irregularidades e seus projetos sob suspeita. Mas as denúncias estão aí, estão em evidência e devem ser apuradas com rigor, e com a eventual punição exemplar dos responsáveis. Esta será a melhor maneira do Brasil comemorar seu Bicentenário, salvando da desonra o palácio da assinatura do ato da Independência e da criação da nossa bandeira verde e amarela.

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