ARTIGOS

Em tempos de exaltação aos métodos, como não perder a autenticidade?

...

Por CRISTIANA AGUIAR
[email protected]

Publicado em 01/05/2023 às 09:40

Alterado em 01/05/2023 às 09:40

Saúde, bem-estar e felicidade, será possível encontrá-los, e até, nutri-los, em ambientes corporativos?

Como deixar de ter apenas um emprego, ou correr em busca de uma carreira e descobrir o seu verdadeiro chamado?

Para muitos, deixar um legado só é possível quando disponibilizamos nossos dons e talentos na construção de algo para o qual fomos vocacionados.

Vivemos na era dos métodos e metodologias, pílulas de conteúdos, conhecimentos fragmentados e estereótipos de sucesso. Difícil mesmo é se manter autêntico.

Tudo é ensinado, ou melhor, ensinável. Como arranjar um emprego, como se manter empregado, como ter uma carreira de sucesso.

Todos os dias somos bombardeados de conteúdos que podem ter a intenção sincera de ajudar, ensinar, alavancar, guiar ao caminho da ascensão financeira e do sucesso profissional. Mas será que funciona?

Há quem vá mais longe e prometa não apenas o sucesso na carreira, mas também a plenitude na vida.

É comum ver nas redes sociais a venda de “fórmulas” do tipo: como ter uma vida plena!

A cada dia, mais e mais pessoas, consideradas “gurus da internet”, aparentemente bem-sucedidas, por vezes extravagantes, ostentam suas imagens repletas de artigos de luxo, tendo como pano de fundo, cenários paradisíacos de viagens incríveis, com direito a corpos esculpidos de forma escultural.

A questão vai muito além de ser ou não real toda aquela plenitude, mas o ponto da discussão é: será que é possível vender a fórmula da felicidade? Conseguimos atingi-la com ascensão financeira?

Em certo sentido, sucesso não é um conceito absoluto. O que é sucesso para uma pessoa, pode não ser para outra. Estaríamos padronizando a maneira de vivermos e agirmos?

Na tentativa de responder minhas próprias indagações, começo falando um pouco sobre felicidade.

Em 1862, um anatomista francês chamado Duchenne de Boulogne descobriu que certos músculos faciais foram envolvidos pelo verdadeiro sentimento de alegria, são eles o músculo zigomático maior e o orbicular, esse, que fica logo atrás dos olhos, se movimenta de forma involuntária, ambos compõem o
sorriso, sinal universal de felicidade.

Anos depois, o psicólogo americano Paul Ekman, tornou-se conhecido por seu trabalho, também pioneiro, no estudo das emoções e das expressões faciais.

Ekman descobriu que existem seis emoções universais que são exteriorizadas por meio de expressões faciais, em todas as culturas humanas: felicidade, tristeza, raiva, medo, surpresa e aversão.

O interessante é que ele identificou a diferença entre sorrisos genuínos e sorrisos falsos. Segundo sua pesquisa, as expressões faciais são diferentes e envolvem músculos faciais dissemelhantes.

Além do sorriso, muito estudamos sobre felicidade, sabemos que ela é de certa forma gerenciável. É possível buscar práticas que contribuam para o seu aumento ou diminuição.

Experiências agradáveis prolongam o sentimento de felicidade, o sentimento é mais duradouro do que, por exemplo, quando adquirimos um bem material.

E quando o assunto é saúde e bem-estar?

A pandemia elevou o nível de atenção ao tema. Cargos de CEO e outros níveis de lideranças foram criados nas empresas, como por exemplo, head de saúde mental. Valorizou-se ainda mais as
experiências dos colaboradores nas organizações.

Ora, se são as experiências que mais nos trazem felicidade, como garantir que o que entendo como boa experiência, vai ser percebido por você, da mesma forma?

Conversando recentemente com a Taís Targa, especialista em carreira e recolocação profissional, falamos sobre a importância de ensinar as pessoas estratégias para ampliar as chances de conquistar uma vaga no mercado, contudo, o grande diferencial é conseguir que a pessoa tome conhecimento do seu próprio
potencial. O caminho do autoconhecimento, esse sim, funciona!

Vale ressaltar que 60% das crianças de hoje terão profissões que não existem ainda. Se não é possível mapear o futuro com exatidão, nos resta construí-lo de forma íntegra e sem perder nossa identidade.

Gosto do conceito de futuro que nos leva a refletir que temos muitos futuros, porque na verdade o futuro é plural.

Temos segundas, terceiras, quartas, e muitas chances de construir e reconstruir nossa jornada profissional e pessoal. E que bom!

Você conseguiria imaginar o mundo sem a possibilidade de uma nova oportunidade? Arrisco dizer que as pessoas viveriam em completa solidão, pois não é possível conviver intensamente sem nos ferir uns aos outros. Relacionamentos que não precisam de perdão são relacionamentos superficiais, relacionamentos
próximos, inevitavelmente, vivem de reconciliação em reconciliação, faz parte da nossa natureza errar.

Diante da constatação de que estamos cercados de fórmulas que não nos garantem muita coisa, que o mundo está em constante mudança e que estamos mais conscientes de que precisamos de saúde, bem-estar e felicidade para viver bem, o que fazer?

Podemos e precisamos nos espelhar em pessoas que nos inspiram.

Os métodos têm o seu lugar, o que não podemos é nos perder de nós mesmos.

Não é interessante acreditar, padronizar ou fornecer “receitas de bolo” para vida plena, colocar as pessoas na mesma “página”.

A ideia é não nos robotizarmos, as máquinas nos ajudam a prolongar e melhorar a qualidade de vida, mas nos diferenciamos delas justamente pela nossa humanidade.

Os robôs estão sendo humanizados, nós não devemos nos automatizar!

Se o caminho das empresas é o relacionamento com os clientes, a experiência dos colaboradores, a comunicação assertiva, os espaços de convivência, a cultura organizacional cocriativa, espontânea, sinérgica e humanizada, como vamos construir isso nos padronizando?

No feriado de 1° de maio, quando comemoramos o Dia do Trabalho, que possamos entender que neste mundo intitulado BANI (acrônimo em inglês das palavras brittle, anxious, non-linear, incomprehensible), em português, frágil, ansioso, não linear e incompreensível, muito podemos realizar se considerarmos o valor da nossa identidade, buscarmos nossa autenticidade, acreditarmos na verdade.

Afinal de contas, autenticidade, por definição, é sinônimo de veracidade, sinceridade e realidade.

É preciso ser autêntico para ser real!


Cristiana Aguiar. Economista – Especialista em Gestão Empresarial. CEO da Jeito Certo Consultoria.

Tags: