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Beleza extraordinária

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Por CRISTIANA AGUIAR, [email protected]
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Publicado em 11/08/2022 às 20:25

Alterado em 11/08/2022 às 20:25

Tudo canta no Universo. Há uma música ininterrupta em toda a criação. Podemos pensar que nasce dos pássaros ou do barulho das águas, mas até as rochas falam quando o assunto é contemplar a natureza.

O filósofo Friedrich Nietzsche em uma de suas famosas frases diz: “E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música”.

É bem verdade que em meio a uma linda orquestra coabitam também algumas notas destoantes. Como o joio no meio do trigo, quem somos nós para julgar? Há sempre o perigo de arrancarmos o trigo ao tentarmos tirar o joio.

Discernimento é importante, porém a humildade para reconhecer que não sabemos tudo, é mais ainda.

Estamos vivenciando um ano eleitoral, as incertezas não são novidades, os desajustes também não.

Nossa conjuntura atual nos apresenta dias com juros altos, inflação, baixo crescimento mundial. O FMI (Fundo Monetário Internacional) fez uma revisão das projeções econômicas para 2022 e 2023 de seus países-membros reduzindo a estimativa de crescimento mundial.

A estimativa é de forte desaceleração global, o que significa menor geração de riqueza de bens e serviços, de postos de trabalho e de níveis de renda, piorando as condições de bem-estar da humanidade.

Os gigantes China e EUA tem projeções pessimistas também, mas a China deve crescer mais do que os EUA, apesar da política covid-zero e seus problemas no setor de construção civil, de acordo com o FMI.

A previsão para o Brasil é de permanência em um ritmo lento, dada as restrições interna e externa, a previsão de crescimento do PIB para 2023 de acordo com o Bacen (Banco Central) é de apenas 0,49%, levando em consideração a taxa de crescimento acumulada de 2015 até 2021.

Dado esse cenário, alguns deixaram de se encantar com a “música”, mas ela está lá!

O que é preciso fazer para diminuir os ruídos?

Soluções como, investir em educação e saúde, construir caminhos para diminuição da desigualdade, aumentar a transparência na gestão das instituições (o que aumenta o interesse dos investidores), incentivo à pesquisa e inovação. E aqui abro um parêntese para me juntar ao coro dos que lastimam a falta de visão que acontece em nosso país em relação aos investimentos em pesquisas e inovação. Estamos atrasados tecnologicamente e correndo sérios riscos de cairmos cada vez mais, não por falta de excelentes profissionais, mas sim por falta de valorização dos mesmos. Vários outros países têm se beneficiado de nossos talentos.

Diante dessa lista conhecida, o que falta para corrigirmos a rota? Temos tantos “gestores de políticas públicas”, “cientistas políticos “e líderes altamente eficientes em nossos almoços de domingo.

O que precisamos avaliar é se de fato queremos provocar as mudanças construtivas. Uma explicação para muitos de nós não se motivarem a fazer um movimento em direção a construção de um novo cenário é caracterizado pelo que a ciência chama de Viés do Status Quo.

Os cientistas Daniel Kahneman e Richard Thaler, ganhadores do prêmio Nobel por seus estudos em economia comportamental, descobriram que para as pessoas ficarem dispostas a realizar mudanças elas precisam perceber ganhos 2,8 vezes maiores. Note que as pessoas precisam perceber ganhos exponenciais para quererem se mexer.

Esse tipo de comportamento é muito comum e refreia tomadas de decisões que poderiam melhorar muito as circunstâncias. Essa é uma das explicações para preferirmos deixar as coisas como estão, afinal de contas, mudar de estratégia requer trabalho. O conformismo é um caminho atraente por não nos tirar da zona estratégica de conforto.

Uma outra lógica também explicada pela economia comportamental é verificar que para a maioria das pessoas, a aversão à perda é maior do que o impulso pelo ganho.

Em um estudo provou-se que em uma situação de perda financeira idêntica, como por exemplo, perder um ticket de cinema no valor de R$ 50,00 ou perder os R$ 50,00 em espécie, no caso em que as pessoas perdem o ticket, a maioria compra outro para ingressar ao cinema. Já no caso hipotético da perda do dinheiro no caminho para a compra das entradas, a maioria das pessoas desistem de comprar o ticket.

Apesar da perda monetária ser a mesma, a sensação de perder algo que já se tinham em mãos (como no caso do ticket) é bem mais rejeitada, e a pessoa compra outro ingresso. No caso de perder o valor em espécie, a sensação é de maior perda se a pessoa tiver que desembolsar novamente os R$ 50,00.

Logo, na luta pela melhoria, algumas vezes nos desmotivamos por temer perder o que já conquistamos.

Nesses dias perdemos o ator, humorista e escritor Jô Soares, que antes de morrer escreveu sabiamente: “Não é necessário mostrar beleza aos cegos, nem dizer verdade aos surdos. Mas não minta para quem te escuta e nem decepcione os olhos de quem te admira”.

A vida não é sobre dar murros em ponta de faca, nem sobre entrar em batalhas que já estão perdidas, e sim sobre esperançar diante dos desafios e saber fazer as melhores escolhas.

Quanto ao Brasil, qualquer um que assuma a presidência terá enormes obstáculos e igualmente grandes possibilidades, afinal de contas estamos falando do gigante pela própria natureza, o segundo país no ranking mundial de água doce, maior em biodiversidade, uma potência verde com uma mão de obra ávida por oportunidades de emprego, renda, dignidade e propósito.

Nosso país é de uma beleza extraordinária!

Cristiana Aguiar. Economista, Sócia e CEO da empresa Jeito Certo Consultoria

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