ARTIGOS

Os livros de Carlos Lacerda

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Por MAURO MAGALHAES

Publicado em 02/03/2022 às 18:54

Alterado em 02/03/2022 às 18:54

O político Carlos Lacerda (1914-1977) foi, também, escritor, tradutor, apresentador, locutor e ator. Lacerda escreveu e traduziu alguns livros.

Entre os que traduziu, destacam-se Júlio César, de William Shakespeare, e O Triunfo, de John Kenneth Galbraith.

A tradução de Júlio César foi publicada em 1965, pela Record. Após o golpe militar de 1964. Mas o trabalho começou a ser pensado em 1955, meses depois o suicídio de Getúlio Vargas.

O suicídio de Getúlio Vargas fez com que a população brasileira saísse para as ruas para chorar e protestar contra a morte do presidente trabalhista. E entre os protestos estavam palavras de ordem

contra a Aeronáutica e contra Carlos Lacerda.

Lacerda comentou sobre isso quando lançou a tradução de Júlio César, em 1966.

Getúlio Vargas foi comparado a Júlio César, inúmeras vezes, por Carlos Lacerda.

Traído por alguns integrantes da UDN e por setores militares, que não cumpriram a promessa de que as eleições diretas para presidente seriam restabelecidas em 1965, logo após a deposição de João Goulart, em 1964, Lacerda decidiu publicar Júlio César em 1965, no auge de seu mandato como governador do antigo Estado da Guanabara.

Além do livro, Lacerda deixou, ainda, discos de vinil, com gravações de sua interpretação sobre o texto que traduziu e o discurso de Marco Antonio Brutus.

Esses discos foram doados por Lacerda para seu fiel assessor de imprensa, Walter Cunto, jornalista que herdou o acervo do político no tempo do governo, no Palácio Guanabara.

Na condição de presidente da Sociedade de Amigos de Carlos Lacerda, recebi o acervo da viúva de Walter Cunto, depois que o jornalista morreu. E, há pouco tempo, entreguei o material, por empréstimo, ao Arquivo Geral da Cidade.

Orador brilhante, no discurso sobre Júlio César Lacerda recita o discurso de Marco Antonio Brutus, de autoria do genial William Shakespeare.

Além de ter traduzido Júlio César e O Triunfo, Carlos Lacerda escreveu inúmeros livros.

Entre eles, "O caminho da Liberdade" (1957), "O poder das ideias" (1963), "Brasil entre a verdade e a mentira" (1965), "Paixão e Ciúme" (1966), "Crítica e Autocrítica" (1966) e "A Casa de Meu avô" (1977).

Após a morte de Carlos Lacerda, em 1977, foram publicados "Depoimento" e "Discursos Parlamentares".
"Depoimento" e "A Casa de Meu Avô" foram, certamente, os melhores livros que Carlos Lacerda escreveu.

Filho de Olga Werneck e Maurício de Lacerda, em "A Casa de Meu Avô", Carlos Lacerda relembra a chácara onde passou a infância, em Vassouras. E que pertencia a Sebastião Eurico Lacerda.
Neto de Sebastião Eurico Gonçalves de Lacerda (1864-1925), o ex-governador tinha 9 anos quando o avô morreu.

Descendente de nobres açorianos, os Lacerda do Faial, Sebastião Lacerda formou-se pela Faculdade de Direito de São Paulo, em 1884, foi eleito deputado federal em 1894, nomeado ministro dos Transportes em 1897, no governo de Prudente de Morais, ministro do Supremo Tribunal Federal, em 1912, e, sempre que podia, passava um tempo na chácara que herdou de sua família, em Vassouras (localidade de Comércio).

Além de pai de Maurício Lacerda (de quem Carlos Lacerda foi filho), jornalista, escritor e militante do Partido Comunista), também teve mais dois filhos, Paulo de Lacerda e Fernando de Lacerda, que foram dirigentes do Partido Comunista.

Antes de morrer, Carlos Lacerda dizia sentir saudades, também, de seu pai, Maurício Lacerda.
Formado pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, em 1906, o pai de Carlos Lacerda trabalhou com o ex- presidente Hermes da Fonseca, entre 1910 e 1912, foi deputado federal entre 1915 e 1918. E, ainda, prefeito de Vassouras, entre 1915 e 1920.

Quando saiu do Partido Comunista, Maurício Lacerda foi um dos fundadores da extinta UDN ( junto com o filho, Carlos Lacerda).

O ex-comunista Maurício Lacerda chegou a ser o presidente da seção carioca da UDN, até 1946.

O pai de Carlos Lacerda morreu em 1956.

Lacerda também deixou livros de contos, com histórias escritas nas décadas de 30, 40 e 70.
Escreveu, também, "O Quilombo de Manuel Congo" (seu primeiro livro publicado), dedicado ao Rio Paraíba, onde ele mistura a narrativa aos anseios de liberdade dos escravos fugidos em 1839.

Apreciador do Teatro, Carlos também sonhava em escrever uma peça sobre Antonio José, o Judeu.

A editora da UNB lançou, depois que ele morreu, três peças teatrais escritas pelo político e jornalista. O rio. A bailarina solta no mundo e (ele visitou o Território do Amapá nos anos 40, quando Getúlio Vargas era o presidente).

Essas peças teatrais chegaram a ser representadas por grupos do Teatro Amador.

"A Casa de Meu Avô", no entanto, foi considerada pela critica como o melhor livro de Carlos Lacerda.
A obra chegou a receber, na época em que foi lançada, elogios do grande escritor, Carlos Drummond de Andrade.

Mauro Magalhães. Ex-deputado e empresário.

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