ARTIGOS

A vida é a arte do encontro

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Por CRISTIANA AGUIAR, [email protected]
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Publicado em 22/10/2021 às 22:02

Alterado em 22/10/2021 às 22:02

A vida é a arte do encontro. Como sabiamente já disse Desmond Tutu, arcebispo da Igreja Anglicana consagrado com o Prêmio Nobel da Paz em 1984 por sua luta contra o Apartheid na África do Sul, “uma pessoa é uma pessoa por intermédio de outras pessoas.

Através dos encontros a vida é tecida, e não são poucas as vezes, que não entendemos seus caminhos e nem achamos bonitos seus cenários, isso talvez porque não estejamos entendendo as dimensões dos acontecimentos que nos cercam. Como um tapete visto pelo lado do avesso, cheio de nós e linhas entrelaçadas, ao olharmos para a parte superior encontramos uma obra de arte. Basta uma mudança de paradigma, para que, o que era apenas um emaranhado de linhas, se revele como uma arte.
Toda vida é uma obra de arte!

Talvez eu esteja “imaginando/sonhando”, como John Lennon quando escreveu a música “Imagine”, aspirando e respirando por um mundo melhor. Mas afinal de contas, quem pode construir esse mundo melhor? Não seríamos nós?

Para construirmos isso, não seria através da união, se não de todos, então da grande maioria?

Mas como nos uniremos se evitamos os encontros?

Não queremos encontrar com o diferente, nem se quer tolerá-lo. Não queremos encontrar com nós mesmos, preferimos evitar conversas mais profundas com o nosso eu.

Não queremos encontrar com a realidade que nos cerca, preferimos maquiá-la, se é que isso é possível.
No mundo corporativo já há muito tempo entendeu-se o poder dos encontros, tanto da importância do autoconhecimento, como das relações interpessoais, networking e agora de uma forma mais recente, da valorização da diversidade.

As empresas que não tiverem equipes diversas terão muita dificuldade de entender o mercado. Mais eficiente do que mapear o cliente é entendê-lo e poder se relacionar com ele. Em uma realidade onde não conseguimos “catalogar” os clientes, precisamos ter o maior número de pessoas dentro das empresas que os representem.

Equipes diversas são mais produtivas, traduzem melhor as necessidades, dores e anseios dos mais variados perfis de consumidores, e ainda são mais criativas no encontro de ideias para resolução de problemas.

Por que não levamos esse conceito também para os nossos relacionamentos fora do ambiente de trabalho? Procurar o igual nos limita, não nos expande. Interessante que estamos sempre à procura de algo maior, excepcional em nossas vidas, mas não estamos abertos para aceitar e ouvir o diferente, a novidade.
Obviamente, sabemos que mudanças nos tiram da nossa zona de conforto, mas será que essa zona existe mesmo em nossos dias?

Em um mundo com tantas mudanças, alguém está parado confortavelmente em algum lugar? Todos nós precisamos estar nos movimentando. Correndo o risco de ser simplista demais, quem fica parado está na verdade ficando para trás. E não ficar parado hoje é precisar conhecer, se adaptar, fazer conexões.

Como disse o futurólogo Alvin Toffler: “o analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler nem escrever e sim o que não consegue aprender, desaprender e reaprender.”

É bem verdade que existe o perigo de exageramos para a outra vertente, há pessoas que estão sofrendo da síndrome de FUMO (acrônimo em inglês para fear of missing out), em português seria algo como medo de perder alguma coisa, medo de ficar desinformado.

O fato é que não temos condições de abrigar todas as habilidades e conhecimentos disponíveis, a única maneira de crescermos é estarmos conectados uns com os outros.
Através das relações é que existimos!

Voltando para o mercado de trabalho, as empresas entenderam que precisam se conectar com as emoções humanas, elas precisam de mais legitimidade, exemplificando, para ser um exímio vendedor é fundamental que haja um interesse real pelo que o comprador de fato está buscando.

Por mais que existam pesquisas de tendências de mercado, nada vai substituir o relacionamento pautado na autenticidade e verdade. E aqui aparece o que eu chamaria de ponto crucial.

Estamos vivenciando o mundo dos métodos, metodologias, conteúdos fragmentados e disponibilizados com um click, fórmulas de como fazer e acontecer, “receitas de bolo”, etc...

Acredito que tudo isso tem seu lugar e valor, contudo não devemos nos esquecer que as pessoas discernem a autenticidade e a veracidade. São elas que fazem a diferença. Contextualizando com a geração dos storytellers (contadores de história em português), storytelling (narrativa em português) é muito mais sobre o que somos, do que sobre o que fazemos.

Somos na grande maioria fãs do que é autêntico, isso porque autenticidade abre uma porta para que boas sinergias aconteçam, o que por sua vez proporcionam resultados surpreendentes de trocas, aprendizados e realizações ganha-ganha.

Estamos nos aproximando de 2022, ano de novas eleições presidenciais.
Sinceramente espero que possamos mudar o mundo, por meio da construção de relações mais justas, oriundas de olhares mais altruístas, de pessoas que entendem que até mesmo na maternidade foram ajudadas por mãos possivelmente desconhecidas.

Precisamos do outro. As pessoas nos ferem, mas também através delas temos a cura.

A vida nasce de um encontro! Que possamos valorizar as diferenças.

O aproximar-se do que nos é comum e particular é natural e ordinário, o acolhimento ao que nos é diferente é extraordinário e constrói pontes e vias para o surgimento de um mundo melhor.
Imagine, mas também aja!

Cristiana Aguiar. Economista e Especialista em Gestão Empresarial. Sócia-Fundadora da Jeito Certo Consultoria.

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