ARTIGOS

A compreensão da realidade

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Por TARCISIO PADILHA JUNIOR, [email protected]
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Publicado em 05/05/2021 às 09:12

Alterado em 05/05/2021 às 09:12

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'O mundo não possui
um propósito elevado'.
                                                  Arthur Schopenhauer

 

Em geral pesamos cursos de ação possíveis mediante a consideração de futuros prováveis. Experimentamos nossas capacidades para a ação; e, ao fazê-lo, tornamo-nos conscientes de que iniciamos processos. Pensar com Hegel que a verdade se pode desvelar no processo temporal, realidade tangível em palavras que podemos escutar, em feitos que podem ser vistos, em eventos que podem ser comentados, relembrados e transformados.

Nossa vida política, apesar de ser o espaço destinado à ação, faz parte de processos que se incorporam ao grande livro da história, que tendem a se tornar tão automáticos quanto os processos naturais ou cósmicos. Embora as verdades de maior importância política sejam factuais, o conflito entre verdade e política perdura. Quando verdades factuais inoportunas são toleradas, elas são, conscientemente ou não, transformadas em opiniões.

Onde todos mentem acerca de tudo que é importante aquele que conta a verdade começou a agir. A probabilidade de que a verdade prevaleça em público é aumentada em grande escala pela existência de estudiosos e instituições independentes, supostamente desinteressados. O dizer a verdade dos fatos abrange mais do que a informação diariamente suprida por jornalistas, requer isenção do interesse pessoal no pensamento e no julgamento.

Os meios tecnológicos encorajam a proliferação de lugares comuns, de opiniões sem fundamento. Mais do que nunca, precisamos compreender o que lemos, e saber refletir criticamente sobre o que compreendemos. Só enriquece a compreensão da realidade o estímulo continuado ao exercício do espírito crítico - sobretudo para jovens - através do diálogo permanente entre sistemas políticos conflitantes, na sociedade organizada em rede.

Alterações intempestivas em regras de jogo deixam impressão de que tudo pode ser mudado ao sabor de circunstâncias, dependendo de ganhadores e perdedores conjunturais - na recente negociação do orçamento. No mundo de políticas de poder, a consciência é um grande transtorno. Daí, atualmente, o imperativo de defender de todas as maneiras possíveis os princípios e valores inalienáveis, sem os quais nossa vida não tem sentido.

O Brasil não é uma estrutura institucional petrificada, sentada em cima de um território definitivamente demarcado, e sim uma unidade em meio a um conjunto de nações que concorrem institucionalmente. A nação só constrói sucesso sobre nós relacionais que soube estabelecer. O que se cria é um tecido sem costuras aparentes, acréscimo indefinido de elementos econômicos, políticos, sociais e culturais, interdependentes entre si.

Apenas informação e conhecimento fundamentados sobre a realidade do País podem ocasionar a desmoralização de diversas propostas políticas irrealistas, ou daquelas que geram malefícios e nenhum dos benefícios apregoados.

Engenheiro, é autor de "Por Inteiro" (Editora Multifoco, 2019)