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Jobim deixa a Defesa e Celso Amorim assume a pasta. "O copo encheu", diz líder do governo

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A saída de Nelson Jobim do Ministério da Defesa foi confirmada na noite desta quinta-feira após uma reunião entre ele e a presidente Dilma Rousseff. Jobim é o terceiro ministro a deixar o governo. O Chanceler Celso Amorim passa a ocupar a pasta.

A saída de Jobim é avaliada por aliados ao governo como natural, diante do posicionamento que ele adotou, de desferir comentários considerados, no mínimo, constrangedores para o Planalto durante uma entrevista concedida à revista Piaui. Já a oposição critica a saída do ministro. O senador Alvaro Dias disse hoje ao JB que Jobim foi punido por "dizer o que pensa".

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O líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), disse ao JB que Jobim vinha dando sinais de que queria deixar o governo e, agora, “o copo encheu”. O petista diz ainda que um dos motivos que gerou a divergência entre Jobim e Dilma foi a questão dos documentos sigilosos:

"Vinha nessa direção de descontentamento. Está colocado, ele divergiu do encaminhamento dos documentos sigilosos. Foi ali que se deu o contexto da divergência", disse Teixeira.

Para o líder do governo, a saída de Jobim não afeta a relação com o PMDB:

"Não. Isso não vai afetar o PMDB. A cota dele (Jobim) era mais pessoal da presidenta".

Teixeira nega que a presidente Dilma Rousseff tenha perdido o controle sobre aliados. E afirma que mudanças são naturais em qualquer governo.

Oposição

Já a oposição considera contraditória a saída de Jobim. O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), avalia que a entrevista concedida por Jobim à Piaui, ou mesmo a recente declaração de voto em José Serra para a Presidência, não justifica a demissão.

"Acho que a razão da saída é uma contradição para quem se diz democrata", dispara Alvaro Dias. "A manifestação de opinião deve ser sempre respeitada. Quem diz o que pensa não pode ser punido. Ele se afasta do governo exteriorizando sua opinião".

O senador se mostra preocupado com o fato de que a saída de Jobim possa mudar o foco da opinião pública, que vinha dando mais atenção a denúncias de irregularidades no governo.

"Isso não pode acontecer. Seria uma inversão de prioridades. A questão ética é fundamental. Não podemos ignorar o que está acontecendo. Os escândalos têm que ser investigados", avalia Alvaro Dias.

De acordo com o tucano, o incidente com Jobim "passa a ideia de um governo inseguro e nervoso politicamente".

Entrevista à 'Piaui'

Em entrevista a ser veiculada a partir desta sexta pela Piauí, o então ministro Nelson Jobim classificou a ministra Ideli Salvatti como "bem fraquinha". As declarações de Jobim, que na última semana havia informado que votara no tucano José Serra nas eleições presidenciais de 2010, incluem ainda ataques à ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann que, segundo ele, não conhece Brasília.

>> Relembre a trajetória de Nelson Jobim no governo

Após a repercussão da entrevista, Jobim negou que tivesse dado as declarações:

"Em momento algum fiz referência a ela (Ideli) dessa natureza", disse Jobim.

O ministro, segundo a assessoria, afirmou que vinha auxiliando Ideli Salvati nas articulações no Senado para aprovar o projeto de lei em tramitação que trata do acesso a informações públicas. De acordo com a pasta, ele elogiou a ministra e também negou ter feito qualquer comentário depreciativo em relação a outros membros do governo. 

"Reconheço na Ideli capacidade e tenacidade importantíssimas na condução dos assuntos dentro do Congresso", disse.

Ideli utilizou seu blog pessoal para responder às declarações. 

"Para um ministro da Defesa são desnecessários determinados ataques. Não é assunto relacionado à pasta dele. Não fiquei chateada até porque eu tenho clareza das minhas qualidades, das minhas potencialidades e das minhas dificuldades. Me esforço muito para corresponder a honra que a presidenta me deu de estar neste momento respondendo pela secretaria das Relações Institucionais", escreveu.

Sarney

Mais cedo, em resposta ao ministro da Defesa, o presidente do Senado Federal, José Sarney (PMDB-AP), ensaiou uma defesa da colega de governo, mas acabou chamando a coordenadora política do Executivo de "bem gordinha". "Eu acho até que esta (declaração) não combina com a ministra Ideli porque a Ideli é até bem gordinha", disse Sarney. A ministra responsável pelas articulações do Palácio do Planalto com o Congresso perdeu mais de 40 kg após uma cirurgia de redução de estômago há cerca de sete anos.