SÃO PAULO - Expulsa da sala de aula por vestir uma bermuda, a estudante Ana Carolina Pagliari Januário, 13 anos, passará por acompanhamento psicológico, e seus pais afirmam que vão processar a escola estadual do Conjunto Habitacional Ezequiel Barbosa, onde ela estuda, em Araçatuba, interior de São Paulo. Após ser expulsa devido à bermuda, a jovem foi hostilizada pelos colegas de classe por questionar a punição, na última sexta-feira.
Surpresa com a decisão da escola, a mãe da aluna, Eliana Pagliari, chamou a Polícia para fazer um boletim de ocorrência. "Perguntei aos policiais se minha filha estava com roupa inadequada para ir à escola, eles disseram que não", contou. Ela tirou fotos de outras estudantes com bermudas mais curtas que a de sua filha e blusas decotadas. Essa informação consta no B.O..
Constrangimento
Ana Carolina disse que se sentiu constrangida. "Tenho vergonha de voltar lá. Todos os alunos ficaram gritando na classe comigo porque eu estava discutindo com a coordenadora", contou. Ela discutiu pois se recusara a deixar a sala, contrariando a determinação da coordenadora de alunos, que alegava que ela e uma amiga estariam com roupas curtas. "Minha amiga estava, mas eu não. Havia outras garotas com roupas mais curtas que as minhas. Eu não estava com bermuda curta e não iria para casa sozinha, porque eu nunca vou e nem volto da escola sozinha", disse.
Eliana diz que ainda tentou conversar com a coordenadora, mas não teve acordo. "A situação ficou difícil depois, porque minha filha ficou chorando e constrangida e tive até de recorrer ao Centro de Referência de Assistência Social (Cras) para buscar um psicólogo para ela, que está inconsolável. Minha filha é uma excelente aluna, nunca deixou lição de casa por fazer, nunca precisou ser chamada a atenção por professor nenhum e nunca precisei ir à escola por causa dela", disse.
Comissão
Na escola, ninguém quis falar com a reportagem. A assessoria de imprensa da Secretaria Estadual da Educação informou que uma comissão formada por três supervisoras foi nomeada para apurar o que de fato ocorreu. As supervisoras farão uma investigação preliminar que vai embasar futuras medidas.
Segundo a assessoria, as primeiras informações são de que a estudante não teria obedecido a normas de conduta das escolas, que proíbem o uso de roupas curtas, e que a bermuda da garota estaria dobrada no momento em que foi convidada pela coordenadora a deixar a sala de aula. A providência nesse caso seria liberar o estudante para voltar em casa e trocar de roupa e retornar à escola, ou ainda pedir a alguém da família que leve roupas adequadas até a escola. Ana Carolina nega que estivesse com a bermuda dobrada
Cinco centímetros
Com uma trena, o pai de Ana Carolina, Waldomiro Januário Filho, mostrou a medida da bermuda: cinco centímetros acima do joelho. "Você acha que essa bermuda é curta? Aqui é um calor danado e olha só, são três dedos acima do joelho. Agora veja, nem que ela quisesse, conseguiria levantar essa bermuda", mostrou a mãe.
Os pais têm tentado vaga em outra escola, mas sem sucesso. "Já fomos a duas escolas aqui perto e não conseguimos. Não sei o que fazer, porque minha filha não quer mais voltar para aquela escola", disse Waldomiro. No final da tarde de segunda-feira, eles conseguiram a promessa da Secretaria da Educação de que uma vaga será liberada em outra escola próxima de casa