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Crise dos alimentos: atuação do governo pode trazer riscos

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Fabiano Klostermann, JB Online

SÃO PAULO - O governo brasileiro anunciou na última quarta-feira a suspensão da exportação dos estoques públicos de arroz para evitar o desabastecimento e manter os preços sob controle. O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, descartou a intervenção nos estoques privados, mas fez um alerta: "desde que não haja risco de desabastecimento". Especialistas dizem que esta postura do governo pode trazer problemas.

Cristiano Souza, especialista em commodities do Banco Real, afirma que a suspensão das exportações, medida tomada por vários países para combater a alta dos alimentos, parece "sensata" em um primeiro momento, mas na verdade, é "danosa".

- É errado porque você desestimula o produtor. Se ele não pode produzir arroz, porque não pode vender pelo melhor preço, ele vai produzir outra coisa e aí sim vai faltar arroz - afirmou.

De acordo com Mauro de Rezende Lopes, pesquisador do Centro de Estudos Agrícolas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), as restrições de exportações, ou manifestações de governos negando ou reconhecendo os problemas entre oferta e demanda, apenas abrem espaço para a atuação de especuladores que, segundo ele, atuam na "incerteza".

- Você não pode ficar dizendo ao mercado que está vigiando ele, pois isso atrai os especuladores. Eles investem na incerteza. A economia brasileira é complexa, então cada setor interpreta essas informações do governo de uma forma. O que deveria ser feito é apenas mostrar os números, eles falam por si só. Apesar de ser um processo doloroso, o mercado faz os ajustes necessários - explicou.

Para exemplificar o fenômeno, Lopes apontou a atual situação do trigo no Brasil. Para ele, a suspensão das exportações do cereal pela Argentina gerou problemas nas cotações. No Brasil, que produz pouco mais de 30% do seu consumo anual, segundo o pesquisador, já há produtores considerando plantar o produto em áreas antes destinadas a outras culturas.

- Tem muita gente que está começando a pensar em trigo e deixar o feijão de lado - informou.

- Eu não vejo nenhum desabastecimento. Alguns preços subiram em resposta aos preços internacionais, é assim que funciona uma economia quando ela está inserida no mercado internacional - disse.

Lopes informou que, quanto às reservas de arroz, apesar de a conta ser um pouco mais "apertada", o Brasil não corre risco de ficar desabastecido do alimento este ano.

- Vamos produzir 11,8 milhões de toneladas e temos em estoque 1,8 milhão. Somando temos 13,6 milhões para uma demanda anual de 13,1 milhões. Se nós não comprarmos nenhuma tonelada de arroz, mesmo com Uruguai e Argentina querendo vender, vai dar e ainda vamos poder exportar de 250 mil a 400 mil toneladas - disse.