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Febre de frei Galvão vira do avesso rotina no Mosteiro da Luz

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REUTERS

SÃO PAULO - As missas na Igreja do Mosteiro da Luz, centro de São Paulo, estão mais que lotadas. A fila de fiéis atrás das pílulas milagrosas de frei Galvão também está cada vez maior. Na lojinha de imagens, esculturas grandes do frade franciscano já se esgotaram.

Desde que o Vaticano anunciou, na última sexta-feira, a canonização de frei Galvão (1739-1822) e reconheceu, em dezembro, seu segundo milagre, os pouco mais de 15 funcionários do Mosteiro da Luz viram sua rotina virar do avesso.

Frei Galvão, que será o primeiro santo nascido no Brasil após missa que o papa Bento 16 realizará em São Paulo em maio, fundou o Mosteiro da Luz em 1774, hoje um dos mais importantes monumentos da arquitetura colonial do século 18 da cidade.

O religioso está enterrado na capela da Igreja do mosteiro, considerado patrimônio cultural da humanidade pela Unesco.

- Antes, eu chegava para dar missa, e eram uns 10 ou 15. Hoje, levei até um susto, estava lotada, nem tinha mais lugar, disse na terça-feira o capelão Armênio Rodrigues Nogueira.

Nogueira afirmou que já pediu para aumentar o número de missas, tanto no domingo como nos dias úteis, passando de uma para três. A Igreja, cujos portões ostentam faixas agradecendo milagres, tem espaço para 250 pessoas sentadas.

Se não participam da missa matinal, os fiéis que entram no complexo religioso buscam as famosas pílulas de frei Galvão, produzidas pelas 14 irmãs que vivem enclausuradas no mosteiro.

- O número de procura é muito grande, não só centuplicou, trezentuplicou, disse a porta-voz, irmã Claudia de Santa Beatriz, que tem vida contemplativa há 17 anos.

- A procura sempre foi diária, mas nunca assim, com tanta fila.

Cláudia contou que os outros mosteiros da Ordem da Imaculada Conceição, nas cidades paulistas de Guaratinguetá, onde o religioso nasceu, Sorocaba, Itu e Piracicaba, além de Portaceli (PR), também fabricam "pilulinhas", como ela as chama.

Pessoas de todo o Brasil e do exterior mandam cartas pedindo comprimidos, com um envelope extra devidamente selado. A distribuição é gratuita.

A aposentada Sebastiana Macedo, 72, na fila pelas pílulas na tarde de terça, disse que era sua primeira vez. Os minúsculos papéis, que trazem dentro uma oração em latim, vêm em grupos de três, dentro de um embrulho pequeno de papel.

Nogueira comentou que muitas vezes tem que explicar aos fiéis que as pílulas estão dentro do pacotinho, que não é para engoli-lo. O trio de comprimidos é tomado durante a novena, um no primeiro dia, outro no quinto e o terceiro no nono dia.

A dona-de-casa Norma Peres de Alcatraz, 65 anos, frequenta o mosteiro atrás das pílulas desde 1962, quando teve a primeira de suas seis filhas. Os comprimidos são populares entre as grávidas, pessoas com câncer ou cálculos renais.

- Precisamos de santidade neste país, é muita coisa ruim. Precisamos de coisas boas para suplantar tanta violência, disse Norma, após pegar os papelotes para uma amiga que tenta engravidar há dez anos.

- As pílulas sempre deram certo, nunca falharam, só com uma prima da minha nora que não teve jeito.

Na lojinha ao lado da igreja, o movimento também era intenso. O faturamento mais que dobrou desde sexta, e as esculturas maiores do frei, a 80 reais, já se esgotaram.

Apesar do tamanho do mosteiro, com seis blocos, o visitante não tem acesso ao convento onde moram as irmãs, composto de pelo menos 45 quartos, que já chegaram a ser todos ocupados.

Há também no complexo o famoso Museu de Arte Sacra, com um acervo de 4 mil peças, incluindo obras de Aleijadinho e um conjunto de 190 presépios.

Frei Galvão foi arquiteto, mestre-de-obras e até pedreiro do mosteiro, cuja primeira ampliação levou mais de 28 anos, o que lhe garantiu o título de padroeiro dos profissionais da construção civil, após sua beatificação, em 1998.