JUSTIÇA

Desembargador manda Uol retirar do ar reportagem sobre os 51 imóveis 'comprados com dinheiro vivo' pela família Bolsonaro

...

Por JORNAL DO BRASIL
[email protected]

Publicado em 23/09/2022 às 14:00

Alterado em 23/09/2022 às 18:54

Flávio Bolsonaro e Jair Bolsonaro, adeptos de sigilos de 100 anos, comemoram decisão judicial tida como censura ao jornalismo investigativo Foto: Folhapress / Mateus Bonomi / Agif

Desembargador do TJ do Distrito Federal determinou que o portal Uol exclua todas as reportagens sobre os imóveis comprados pela família Bolsonaro nos últimos 30 anos, atendendo a pedido do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro (PL).

A decisão foi tomada em caráter liminar, concedida pelo magistrado Demetrius Gomes Cavalcanti. Além de duas reportagens, a medida vale para todas as publicações sobre o tema feitas pelo site em suas redes sociais.

O Uol informou que cumpriu a decisão, mas que vai recorrer.

 

 

"Tais matérias foram veiculadas quando já se tinha conhecimento da anulação da investigação, o que reflete tenham os Requeridos excedido o direito de livre informar. A uma, porque obtiveram algumas informações sigilosas contidas em investigação criminal anulada e, a duas, porque vincularam fatos (compra de imóveis com dinheiro em espécie), cuja divulgação lhes é legítima, a suposições (o dinheiro teria proveniência ilícita) não submetidas ao crivo do Poder Judiciário, ao menos, até o momento", argumentou o desembargador.

A advogada Mônica Filgueiras Galvão, ouvida pelo UOL, afirma que a decisão "viola precedentes estabelecidos no sistema jurídico brasileiro". Para ela, a medida "pretende retirar do debate público, às vésperas da eleição, informações relevantes sobre o patrimônio de agentes públicos".

A primeira reportagem, publicada em 30 de agosto, informa o uso pela família Bolsonaro de R$ 13,5 milhões (R$ 25,6 milhões atualizados pelo IPCA) em transações realizadas total ou parcialmente com dinheiro em espécie desde o início dos anos 1990.

Na segunda, publicada no último dia 9, o portal detalhou cada uma das 51 transações, com base em informações colhidas em 1.105 páginas de 270 documentos requeridos em cartórios. O Uol informou que a matéria foi produzida durante sete meses.

 

 

De acordo com o portal, parte dos dados da investigação do Ministério Público (MP), oriundos de quebra de sigilos bancário e fiscal, foram anulados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Uma nova investigação está sendo conduzida pela Procuradoria-Geral de Justiça (PGJ) do Rio de Janeiro.

Por isso, na avaliação do desembargador Gomes Cavalcanti, os dados não poderiam ser citados em reportagem, mesmo que sejam verídicos e tenham tido origem e status de uso em processo judicial informados no texto, publicou o Uol. (com agência Sputnik Brasil)

 

 

 

Tags: