INFORME JB

Por Jornal do Brasil

[email protected]

INFORME JB

Lula chega antes de Bolsonaro no lamento por Pelé

Presidente eleito emite nota oficial de pesar uma hora antes que o presidente em exercício. Leia outras histórias memoráveis sobre o rei, contadas com exclusividade

Por GILBERTO MENEZES CÔRTES
[email protected]

Publicado em 30/12/2022 às 05:23

Alterado em 30/12/2022 às 06:44

Rio de Janeiro. Ano de 1962. Vestido com a camisa 10 do Santos, Pelé domina a bola durante o Mundial de Clubes de 62 na primeira partida contra o Benfica (Portugal), no Maracanã Foto: Domicio Pinheiro

Ao fugir de avião para os Estados Unidos para não passar a faixa ao presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva, o presidente Jair Bolsonaro perdeu mais uma para Lula. Coube a Lula emitir, com uma hora de vantagem, uma nota oficial lamentando a morte de Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé.

Só uma hora depois houve manifestação oficial da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, que emitiu uma nota lamentando em nome do governo brasileiro o passamento da maior personalidade brasileira. E o final da nota da Secom termina com um parágrafo com os votos pessoais do presidente fujão.



Pelé viverá para sempre

Pelé não morreu. Quem faleceu, aos 82 anos, foi o cidadão Edson Arantes do Nascimento, chamado de Pelé aos 16 anos e que foi, aos 17 anos, um dos principais responsáveis pela 1ª Copa Jules Rimet conquistada na Suécia.

Depois, participou da conquista do Bi no Chile, em 1962. Machucado no 2º jogo, passou a batuta a Garrincha, que meio que carregou o time nas costas. E coroou sua carreira vestindo a camisa 10 Canarinho no Tri do México.

Mas a imagem que mais eternizou Pelé é do camisa 10 do Santos, que conquistou o bi-campeonato mundial de Clubes, em 1962 e 1963. O vulto negro trajando uma camisa branca com o número 10 às costas correu os maiores estádios do mundo e encantou milhões de espectadores em Paris, Turim, Milão, Londres e na América Latina, na África e na Ásia.

Pelé é eterno, como o título de um filme de Anibal Massaini, lembrado pela rádio CBN, que conta que o próprio jogador, quando se preparava para deixar os gramados, passava a se referir a si mesmo na 3ª pessoa, para separar a figura do maior jogador de todos os tempos, “o Atleta do Século XX”, do Edson Arantes do Nascimento. É o maior símbolo brasileiro em 522 anos de história.

Se até os anos 50 o vulto brasileiro mais respeitado no mundo era Alberto Santos Dumont, o “Pai da Aviação”, ídolo de meu tio Carlito, que tinha uma vasta coleção de manchetes sobre os feitos do brasileiro que contornou a Torre Eiffel, as manchetes sobre Pelé valem um museu especial sobre a história do futebol. O ex-presidente Barak Obama deu a dimensão exata de Pelé para o povo negro, o que deve nos encher de orgulho.

Pelé embaixador

Pelé é o maior divulgador da imagem do Brasil nos quatro cantos do mundo. Na Coréia do Sul, em 1985, cobrindo uma reunião do FMI, quando disse que era do Brasil, o motorista de táxi logo balbuciou “Pelê”, com fraca acentuação. Em Moscou, em 1988, ao falar Brasil, lá vinha a exclamação: “Pelé”. Era nosso cartão de visitas. Nosso cicerone em qualquer situação adversa.

E ele tinha poder absoluto. Numa excursão do Santos, que era associada à exportação de bens de consumo brasileiro para a África, conseguiu que fosse estabelecido um armistício entre dois grupos tribais que se digladiavam no Congo. Todos queriam ter o privilégio de assistir ao “Rei” jogar bola na capital Brazaville.

Em uma excursão do Santos na Colômbia, em julho de 68, durante amistoso com a seleção olímpica da Colômbia, em Bogotá, houve uma briga geral e Pelé foi um dos expulsos da partida pelo juiz Guillermo "Chato" Velásquez. Enquanto ele desceu para o vestiário, e já estava tirando as chuteiras, a torcida protestava furiosamente. Para acalmar o público. Foram chamar Pelé de volta.

E ele conta: “mas como, eu fui expulso”. Está tudo resolvido, lhe disseram. O juiz que fazia jus ao apelido, foi retirado de campo e a partida seguiu apitada por um “bandeirinha”, para delírio do público, que pagou para ver Pelé.

Armando Nogueira, em sua coluna “Na Grande Área”, narrou os planos do jogo revanche da final da Copa Libertadores entre o Santos e o Boca Juniors, em setembro de 1963. No 1º jogo, no Maracanã, palco preferido do ataque formado por Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, o Santos venceu por 3 a 1, com um público presente de mais de 63 mil espectadores. Meus irmãos mais velhos não me levaram para essa (vi vários outros jogos).

O técnico do Boca fez uma intensa preparação para o jogo de volta que se realiza no estádio de La Bombonera, com mais de 50 mil fanáticos torcedores. Ele traça instruções. Desde a saída de bola todos, do goleiro ao ponta-esquerda, deviam ficar de olho no camisa 10.

E Armando, que driblava na pequena área, sintetizou: “Pelé marcado. Pelé vigiado. Pelé agarrado”. Tudo no figurino desenhado pelo treinador. De repente, o arremate: “Bola na área, gol de Pelé”. O Santos venceu de 2 a 1 e foi bicampeão da Libertadores.

Dois meses depois, em um sábado à noite de novembro, sob chuva torrencial no Maracanã, o Santos, sem Pelé e Zito, machucados, vence uma partida memorável contra o Milan, que ganhara a 1ª partida no San Ciro por 4 a 2. Pois o Santos devolveu o placar, mesmo depois do Milar abrir 2 a 0 no 1º tempo. O grande herói da noite foi o pernambucano Almir.

Tive de ouvir pelo rádio. Meus irmãos também me deixaram fora dessa. Mas as histórias do jogo épico duraram várias semanas. Ao fim e ao cabo, o Santos venceu a 3ª partida dois dias depois no Maraca e foi bicampeão mundial.

Felizes os que viram Pelé jogar no Maracanã, seu palco preferido no Brasil (o campo do Santos, em Vila Belmiro, era próprio para o Santos antes de Pelé. Mas o Pacaembu era pequeno para ele (o Morumbi surge em fins dos anos 60) e a torcida paulista (corinthianos, palmeirenses e são paulinos, obviamente, não gostavam de ser fregueses do Santos de Pelé.

Vi vários jogos pelo Santos e a Seleção. Estava lá quando ele fez o antológico gol de bicicleta nos 5 a 0 contra a Bélgica em 1965, que ficou imortalizado no clique de Alberto Ferreira, do JB, que ornava a sala do editorial da Avenida Brasil 500, onde exerci minha última função no velho JORNAL DO BRASIL.

'Eu sou Pelé'

Vi o jogo em que o Vasco da Gama ganhava de 2 a 0, num sábado à noite, e o zagueiro Fontana provoca Brito, se ele tinha visto o Pelé em campo (faltavam só cinco minutos). Aí o Rei se invoca. Cava um corner, pede para Pepe cobrar pelo alto, cabeceia e marca na rebatida do goleiro, e nem vibra. Corre para pegar a bola e a trazer para o meio de campo, sem perda de tempo. Em novo ataque, faz outro gol. Pega a bola e dá a Fontana. Segundo conta Renato Maurício do Prado, teria dito:“Dá para a sua mãe; diz que foi o Edson que mandou”. Minha versão é de que sua reação motivou o título do filme “Eu sou Pelé”.

A graça da história, além do resmungo do primo paraense, vascaíno, que até então vibrava com os dois gols do centroavante Célio, que veio da Portuguesa Santista, e dizia, “esse cara não existe”, foi a decepção do presidente do Vasco, Manoel Joaquim e Lopes, que descera da Tribuna de Honra quando o jogo parecia decidido em 2 a 0 para pagar um gordo bicho e, ao chegar ao vestiário, encontrou os jogadores cabisbaixos. Pelé empatara o jogo.

Vi o gol mil, em 1969 e confesso. Em 1963, assisti a uma humilhante goleada de 7 a 1 do Santos no Flamengo. No returno do Rio São Paulo, ganhamos de 5 a 1 na Vila Belmiro.

Perder para o Pelé não doía. Era encantamento.

 

O tombo do general

Um dos mais fiéis escudeiros de Jair Bolsonaro, o general Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira, atual ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, que foi o responsável pela nota oficial sobre Pelé, está desolado com a derrota do presidente.

E não é porque terá seu salário de ministro, acima de R$ 45 mil, reduzido a pouco mais de R$ 23 mil quando virar somente um general de Exército reformado, a partir de 1º de janeiro de 2023. Pau para toda obra de Bolsonaro, de quem foi ministro-chefe da Secretaria de Governo e ministro da Casa Civil, a mágoa vem de não ter sido escolhido pelo futuro ex-presidente como assistente especial a partir da saída de todos do governo.

Na tarde de 4ª feira, ele estava cabisbaixo e não escondeu a decepção ao descobrir que não estava na relação de nomeados para assessorar Jair Bolsonaro ao iniciar seu tempo como ex-presidente.

Para piorar a decepção, o General Ramos também não teve sucesso nos contatos junto a parlamentares para se encaixar na próxima legislatura em algum gabinete. Queria levar junto sua assessora de imprensa.



Do Planalto à planície

Ramos está sentindo a diferença entre o Planalto (Palácio do) e a planície. Sem as chaves do Poder, parlamentares antes tão solícitos e desejosos de seus pistolões, agora nem atendem a suas chamadas.

Tags: