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Olho na intolerância racial

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Não bastassem os problemas que tem o país, esses que se caracterizam como essencialmente nacionais, sem maiores conotações externas, andam os órgãos de segurança empenhados em identificar a extensão de sinais de intolerância racial, sobretudo denunciados no Sul; certamente uma preocupação não dispensável, porque não há intolerante, quando houver, que não acabe sendo terrorista. Depois de descobertos alguns núcleos simpáticos às ideias nazistas, contra as quais soldados brasileiros foram ao teatro da Segunda Guerra Mundial, a Polícia Federal identificou, nas últimas horas, um esquema de arrecadação de recursos para financiar forças beligerantes do Oriente Médio. O que se tem pretendido é saber, em última análise, se essas são ocorrências isoladas, incapazes de arrastar o Brasil a maiores comprometimentos; não para se envolver com as partes, mas não se comprometer, pela omissão, com iniciativas que sinalizem o terrorismo.
Na Europa, ampliam-se as preocupações com o surgimento de núcleos, formados principalmente por jovens, cada vez mais animados a propor o renascimento do nazismo. E os governos têm reagido com vigor, se necessário passando por cima de argumentos baseados no direito à livre manifestação, pois exatamente naquela parte do mundo foi cobrado o maior sacrifício resultante de um dos mais graves conflitos a que assistiu a civilização. E advertem aqueles países para os riscos de não terem como evitar eventual exportação do mal que procuram combater. Além dos movimentos neonazistas, estão os intermináveis conflitos entre árabes e judeus, mais graves que os saudosistas hitleristas, porque em relação àqueles não se trata apenas de desenterrar ideias sepultadas, mas guerra verdadeiramente conflagrada.
Por que as atenções dos setores de segurança voltam-se para o Sul? O fato mais concreto e recente foi a identificação do cidadão libanês de fronteira, articulador de campanha de financiamento das atividades do Hezbollah, o chamado Partido de Deus. O Brasil, mesmo que fosse possível discutir suas preferências diplomáticas e econômicas, não pode se prestar a sediar projetos de natureza violenta, sob pena de ser chamado, no futuro, a oferecer explicação ao Estado cuja agressão foi financiada com dinheiro aqui recolhido. Em relação àquela guerra, a atuação nacional deve limitar-se a contribuir para a paz, mesmo que aparentemente tão distante.
Foi também no seio de comunidades do Sul brasileiro, tão ordeiras e pacíficas, tradicionais sedes da colonização europeia, que surgiram suspeitas sobre simpatias ao neonazismo; suspeitas não totalmente sustentáveis, porque logo se descobriu que era em São Paulo que se produziam materiais de propaganda do antissemitismo, suásticas, livros de loas a Hitler e farto material destinado a negar o Holocausto. Nada que autorizasse admitir complôs comprometedores, o que não desautoriza medidas de precaução, adotadas pelos órgãos de segurança, de forma que os ensaios isolados de racismo e beligerância não levem a situações mais graves.
As amplas fronteiras, com rápida e insuficiente policiamento da ligação com países vizinhos, têm permitido, não raras vezes, que se alojem, do lado brasileiro, crimes arquitetados no exterior. A se tomarem investigações sobre casos anteriores, relacionados com radicalismo e intolerância, revela-se que temos sido alvo desses projetos indesejáveis. Exportam para o Brasil coisas que estão fora do seu feitio, longe de suas tradições. De nada mais precisamos para estarmos atentos.