ARTIGOS

A decisão final

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Por TARCISIO PADILHA JUNIOR
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Publicado em 13/01/2021 às 10:00

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O conceito tradicional de ordem internacional sobre equilíbrio e moderação, resultante da experiência de confrontos no continente europeu, foi corrompido pelo presidente Trump.
Seu volume de tuítes, por 4 anos, vertendo como uma torrente incontrolável de versões que fizeram as vezes de acontecimentos, excitou um desejo insatisfeito de protagonismo instantâneo.

Na história do pensamento político se encontram conceitos contrastes de política: o aristotélico e depois cristão, pelo que "agir político" visa ao bem da cidade ou bem comum; o realista (invoca razões de Estado), pelo que a esfera da política se faz autônoma em relação ao âmbito da moral. Crê Norberto Bobbio que analitica e historicamente não podem ser separados.

Diz Bobbio que visão positiva e visão negativa de política se reencontram e se contrapõem. Aflora a oportunidade de se questionar o que constituem virtude e vícios do político no conturbado mundo em que vivemos. Desde que toda virtude se define melhor quando se faz presente o vício que se lhe opõe, qual o papel desempenhado pela prepotência no agir politicamente?

A prepotência é abuso de potência, não só ostentada, mas concretamente exercida, portanto ainda pior que a insolência. O insolente exibe a sua potência, o prepotente a pratica, por meio de toda sorte de excessos. A inédita invasão do Capitólio chama atenção para a complexidade do lento processo de reconstrução política a ser empreendido pelo presidente Biden.

O poder não é um fenômeno natural, pertence à esfera política dos negócios humanos. Nesse terreno considera-se fundamental a disposição do ser humano para agir. Quaisquer que sejam as vantagens e desvantagens apregoadas na busca de proximidade com o poder de plantão, seu resultado político é sempre o mesmo: o ressecamento das fontes autênticas de poder.

O mero exercício do poder tende a produzir a paixão pelo poder; muito perigoso, na medida em que a única prova segura do poder é impedir que pessoas façam o que querem fazer. A democracia assegura que a maioria deve prevalecer. Porém, ela não é um mecanismo absolutamente adequado se não vem acompanhada de uma delegação de poderes em larga escala.

A decisão final não é mais do que a conclusão de uma longa série de pequenas decisões, e todos aqueles que tiveram a oportunidade de enriquecer a discussão carregam doravante uma parte da responsabilidade. Com efeito, no decorrer das discussões, eles tiveram a possibilidade de absorver o efeito destas e de ajustar, em função de sua própria posição, sua atitude.

Engenheiro, é autor de "Por Inteiro" (Editora Multifoco, 2019)