BRASIL

Sob discurso de 'ordem e punitivismo', militares serão força nas eleições, diz analista

Com forte presença no governo federal, os militares devem continuar no centro do debate político em meio às eleições presidenciais de 2022

Por JORNAL DO BRASIL com agências

Publicado em 25/04/2022 às 08:06

Alterado em 25/04/2022 às 08:08

O crescimento da presença dos militares na política brasileira chama atenção Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Solon Neto - O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), ganhou as manchetes na terça-feira (19) devido ao seu discurso de comemoração do Dia do Exército, no qual enalteceu o papel dos militares na história brasileira. Da mesma forma, o vice-presidente, Hamilton Mourão (Republicanos), voltou a chamar o golpe de 1964, que instaurou a Ditadura Militar, de "revolução democrática".

Essas são amostras recentes da notória relação de proximidade do Planalto com os militares, que ocupam milhares de cargos no governo federal. Com a chegada das eleições presidenciais, o papel dos militares no governo deve continuar em evidência.

Recentemente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder das pesquisas de intenção de voto para o pleito deste ano, afirmou que cogita retirar oito mil militares de cargos comissionados do governo federal caso vença as eleições.

O crescimento da presença dos militares na política brasileira chama atenção. A cientista política Mayra Goulart, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aponta que nas eleições de 2020 houve um aumento expressivo do número de militares da ativa e da reserva como candidatos, em comparação com o processo eleitoral de 2016. Para ela, isso está relacionado com a intensificação de um discurso de ordem e punitivismo que continua forte entre os eleitores brasileiros.

"Essa mesma conformação permanece intacta. A gente teve no governo [do presidente Jair] Bolsonaro alguns desgastes, mas acredito que esse tenha sido o flanco menos desgastado", avalia a cientista política em entrevista à agência de notícias Sputnik Brasil.

Para a pesquisadora da UFRJ, alguns escândalos envolvendo militares, como o recente caso de compra de Viagra e, anteriormente, o da hidroxicloroquina, não reduziram a credibilidade desse setor entre a parcela mais conservadora da população. "Eles [os militares] continuam sendo vistos como bastiões da ordem", afirma.

Goulart salienta que o governo Bolsonaro mantém nos militares um braço importante de sustentação política intrinsicamente relacionado à sua imagem. A pesquisadora recorda que na trajetória legislativa Bolsonaro atuou "quase como um sindicalista dos militares".

Autora de tese de doutorado sobre a democracia na Venezuela, Goulart traça um paralelo entre esse país e o Brasil no campo da atuação de militares na política. Segundo ela, um dos fatores que garantem a postura pró-governo dos militares venezuelanos são os benefícios obtidos nessa atuação. Para ela, isso também está presente no Brasil.

"No caso do bolsonarismo, além dessa questão pecuniária — eles lucram muito, seja porque estão aparelhando o governo ou porque conseguem angariar cargos e mais verbas para o Ministério da Defesa —, há uma confluência ideológica nesse discurso conservador do Bolsonaro", conclui. (com agência Sputnik Brasil)