BRASIL

Seguidores de Bolsonaro interrompem missa em Fortaleza para hostilizar padre que lamentava mortes por covid

Lino Allegri tem 82 anos e precisou ser afastado pela Igreja por questões de segurança

Por Jornal do Brasil
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Publicado em 20/07/2021 às 08:01

Alterado em 20/07/2021 às 08:50

Padre italiano Lino Allegri está afastado por segurança Foto: Arquidiocese do Ceará

O padre italiano Lino Allegri, 82 anos, pároco da igreja Nossa Senhora da Paz, sofreu ataques de bolsonaristas em duas missas realizadas em sua comunidade por lamentar a morte de mais de 500 mil brasileiros durante a pandemia de Covid-19 e a falta de gestão do presidente Jair Bolsonaro na crise sanitária.

O episódio mais recente ocorreu no fim de semana por um homem que gritava que ele "havia transformado o altar em palanque político". No início do mês, um grupo de oito pessoas também hostilizou o religioso.

Allegri, que também atua na Pastoral da Rua, deve entrar no Programa Estadual de Proteção aos Defensores e Defensoras de Direitos Humanos (PPDDH) após pedido da Defensoria Pública e do Ministério Público do Ceará (MPCE).

Além dos ataques verbais nas missas, Allegri relatou que ele e outros religiosos da paróquia vem sendo ameaçados fisicamente através de mensagens de WhatsApp. Muitas das hostilizações partem porque o italiano é adepto da Teologia da Libertação, que coloca o pobre e o oprimido no centro da vida cristã.

Na noite de domingo (19), o governador do estado, Camilo Santana, também anunciou que uma investigação formal será aberta pela Secretaria de Segurança estadual por perseguição e crime de ódio.

Horas antes, bolsonaristas lotaram a missa da manhã de domingo após a Diocese afastar Allegri por motivos de segurança. O padre continua a ser o pároco responsável, mas as missas serão celebradas por Francisco Sales de Sousa, ao menos, por enquanto.

Em declaração ao jornal "O Povo", o articulador paroquial Mario Fonseca, defendeu o sacerdote e suas homilias.

"Ele usou a sua palavra de sacerdote para denunciar uma necropolítica. As pessoas têm dificuldade de entender isso e acham que é um palanque político. Essa não é uma igreja apenas carismática que quer comprar um lote no céu e não está preocupada com o povo sofredor aqui na terra. Eles expressam indignação por falta de incompreensão do modelo de igreja libertadora, o que eles rotulam de comunismo", disse Fonseca à publicação.

Aos 82 anos, Allegri foi ordenado sacerdote em 1965 e, desde então, vem dedicando sua vida aos mais pobres. (com agência Ansa)