OBITUÁRIO

Um chororô de verdade: PC Guimarães nos deixou

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Por GILBERTO MENEZES CÕRTES
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Publicado em 06/10/2023 às 08:34

Alterado em 06/10/2023 às 13:24

PC Guimarães era uma unanimidade entre os 'coleguinhas' Arquivo

Os incontáveis amigos de Paulo Cezar Guimarães – só no Facebook são 7 mil, fora os milhões de adeptos do Botafogo, clube de sua paixão – estão entre incrédulos e inconsoláveis. No começo da noite dessa quinta-feira (5), uma postagem da jornalista Rita Luz, sua vizinha em Visconde de Mauá (RJ), informava ter sido avisada pela faxineira, que também dava expediente na casa onde PC morava, tentando concluir a biografia do jornalista Armando Nogueira, que ele tinha nos deixado.

Como? bradaram todos - (de Antero Luiz a Deborah Dumar, a amiga de infância desde os tempos do Grajaú, ou seria Aldeia Campista? Romildo Guerrante, Roberto Ferreira, Isabel Pacheco, Denise Assis, Tânia Malheiros, Yacy Nunes, Paulo Motta, Murilo Rocha e tantos outros que a memória falha ou não cabem aqui). Fiquei perplexo. Trocava figurinhas com o PC (um pândego por natureza, e que virou um artista múltiplo e não reconhecido), provocando sua paixão pelo Botafogo e o amor não correspondido, transformado em ódio, pelo Flamengo. Hoje, quinta, mandei dois posts no Zapp e não veio a ironia, de bate-pronto. Estranhei.

A resposta à provocação veio da pior maneira, pelo relato de Rita Luz (Antero já tinha confirmado). Segundo Rita, a médica que o atendia no Posto de Saúde da região, a dra. Marisa, informou que PC sofrera um infarto fulminante, aos 70 anos. Esperamos que não tenha sofrido. Apenas deixou a imensa dor da ausência para sua adorada Bebete e a filha, e os amigos de uma vida.

Os colegas de “O Globo”, onde convivi com ambos na metade dos anos 80, já estavam sentidos com a morte, na véspera, do jornalista Alexandre Bertola. Agora, estamos, jornalistas do Rio e do Brasil, chorando (não o chororô do futebol, que virou marca das reclamações da torcida do seu querido Botafogo) o pranto sentido da saudade. PC Guimarães, jornalista com brilhante carreira na editoria de Política de “O Globo”, nos governos Brizola, e professor adorado pelos alunos da Faculdade de Comunicação Hélio Alonso (Facha), partiu para outro plano. Visconde de Mauá (ele nem sabia), era sua Pasárgada, próxima do Céu. E foi lá mesmo, na manhã desta sexta-feira (6), que seu corpo ficou para sempre, no cemitério de Maringá.

Autor de livros antológicos sobre o mundo do futebol, o 1º, de 2014, “O Jogo do Senta”, revivia um histórico jogo entre Flamengo e Botafogo, em General Severiano, no qual, em meio a uma derrota acachapante, os jogadores do Flamengo sentaram-se no gramado para impedir o prosseguimento do jogo. O 2º, lançado em 2017, sobre um dos mais folclóricos botafoguenses, o cronista Sandro Moreira, que por muitos anos teve deliciosa coluna de futebol na editoria de Esportes do velho “Jornal do Brasil”, atraiu ao salão nobre da sede do Clube da Estrela Solitária, um público que não comparecia aos jogos. Ele, na época, tinha uma coluna no JB Online exclusivamente dedicada ao Botafogo, o time de sua paixão.

Agora que a equipe alvinegra está dando a volta por cima, mantendo-se na liderança do Campeonato Brasileiro, sete pontos à frente do Bragantino e oito do Palmeiras, apesar dos tropeços recentes sob a batuta do técnico português Bruno Lage, que PC tanto malhava sempre, os jogadores do Botafogo, comandados por Lúcio Flávio, têm mais um motivo para se desdobrar em campo: o título de campeão seria uma bela homenagem ao PC. E o chororô iria lavar a alma dos torcedores da Estrela Solitária e dos seus incontáveis amigos de todas as camisas. Uma Estrela lá do alto mandará um sinal de gratidão. Obrigado PC.

Com sua partida lembrei (e os amigos hão de lembrar também) de um velho filme, de 1974, do diretor italiano Ettore Scola, “Nós que nos Amávamos Tanto”, que, além de atores renomados, rendia homenagem aos dois maiores diretores de cinema do país: Federico Fellini e Vittorio De Sica.

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