OBITUÁRIO

Atenéia Feijó, jornalista e escritora

Com larga passagem na imprensa, incluindo o JORNAL DO BRASIL, "O Estado de S. Paulo", "O Dia" e "Manchete", Ateneia era uma jornalista que tinha prazer em escrever

Por GILBERTO MENEZES CÔRTES
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Publicado em 05/05/2023 às 22:30

Alterado em 06/05/2023 às 09:34

A jornalista e escritora Atenéia Feijó, que nos deixou na madrugada de sexta-feira, 5 de maio, após longa batalha contra a doença conhecida pelo nome de Creutzfeldt-Jakob, foi dos primeiros jornalistas brasileiros a fazer ampla reportagem, na então revista Manchete, sobre o povo yanomami. Em julho de 1976, ela publicou 12 páginas, fartamente ilustrada com fotos de José Moure, numa reportagem que antecipava o genocídio praticado no governo Bolsonaro contra os índios yanomamis.

Com o criativo título “Roraima: Viagem à terra de Macunaíma”, relatando o que viu na Terra Indígena Yanomami, a cobertura mostrou a cobiça desmedida de garimpeiros vindos dos mais diversos cantos do Brasil e que punham em perigo povos cujo contato com humanos era recente. Na época, o objeto da cobiça não era o ouro, mas o urânio e a cassiterita, matéria-prima para a fabricação do estanho que voltou à baila.

 

Macaque in the trees
Atenéia Feijó (Foto: Acervo JB)



Vale recordar que a demarcação das terras da Reserva Indígena Raposa do Sul, identificada pela Funai em 1993, só ocorreu em 2005 no governo Fernando Henrique Cardoso e que a reserva só foi reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal em 2009. Mas no governo Bolsonaro o direito de posse dos índios voltou a ser contestado.

Com larga passagem na imprensa, incluindo o JORNAL DO BRASIL, “O Estado de S. Paulo”, “O Dia” e “Manchete”, Ateneia era uma jornalista que tinha prazer em escrever. Daí, o salto para a literatura foi um pulo. O contato com os índios da Amazônia motivou um dos seus primeiros livros: “O índio Aviador”, publicado em 1994, em parceria com Marcos Terena, da etnia Xané, de Mato Grosso, que se tornou um dos mais respeitados líderes indígenas do país.

A partir daí, não parou mais, em produção variada. A Ecologia, outra de suas paixões, foi tema de livros voltados para o público infanto-juvenil “A Múmia Verde” e “A Criatura da Mina”. O choque da experiência em Roraima levou Ateneia a escrever um romance policial, “O Jantar da Lagartixa”, que envolve a misteriosa morte de um jornalista que andou investigando coisas em Roraima.

Ela também escreveu, em parceria com Engels Maciel uma espécie de compêndio sobre a cachaça “Cachaça Artesanal. Do Alambique à Mesa”. Na área de gastronomia e culinária, escreveu ainda “Bolos. Preparo e Confeitos”, com parceria de Rosaly Bonfante, que ganhou edições em Portugal. Seu filho, Mário, observou que a mãe se despediu na “madrugada do Dia Mundial da Língua Portuguesa”.

O velório de Ateneia Feijó será neste sábado, dia 6 de maio, a partir das 10h, na Capela A do Cemitério São Francisco Xavier, no Caju. O corpo irá para o jazigo da família às 13h.

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