Lula conversa com Meloni sobre Mercosul-UE e recua de ultimato

'Ela me pediu paciência de no máximo um mês', disse o presidente

Por JB INTERNACIONAL

Lula e Meloni durante encontro em Roma

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou nesta quinta-feira (18) com a premiê da Itália, Giorgia Meloni, e recuou do ultimato que havia dado para a União Europeia aprovar o acordo de livre comércio com o Mercosul ainda em 2025.

O telefonema não estava na agenda oficial do petista, que revelou o teor da conversa durante uma coletiva de imprensa em Brasília.

"Ela disse para mim que se a gente tiver paciência de uma semana, de 10 dias, no máximo um mês, a Itália estará junto com o acordo", contou Lula.

O presidente declarou ter ficado "surpreso" ao descobrir nos últimos dias que Roma também não queria aprovar o acordo já nesta semana, devido a pressões do setor agrícola local para que a UE garanta reciprocidade nas regras trabalhistas e fitossanitárias adotadas pelo setor no Mercosul.

"Na conserva com Meloni, ela ponderou para mim que não é contra o acordo, que ela está vivendo um certo embaraço político por conta dos agricultores italianos, mas que ela tem certeza que é capaz de convencê-los a aceitar o acordo", acrescentou Lula.

Na última quarta (17), o presidente havia dado um ultimato para a UE aprovar o tratado comercial a tempo de assiná-lo na cúpula de líderes do Mercosul em Foz do Iguaçu, em 20 de dezembro, afirmando que era "agora ou nunca", porém hoje se mostrou aberto à hipótese de estender o prazo.

"Eu disse para ela [Meloni] que vou colocar na reunião do Mercosul o que ela falou e propor aos companheiros decidir o que eles querem fazer.

Se não for possível assinar agora, não posso fazer nada. Mas vamos aguardar amanhã, a esperança é a última que morre", destacou o petista, salientando que a parceria é "mais favorável à União Europeia" do que ao bloco sul-americano, além de "extremamente importante do ponto de vista político".

"É uma resposta de sobrevivência do multilateralismo àqueles que querem construir o unilateralismo", disse. Lula ainda mandou um recado para a França, que pede mais garantias ao agro europeu para aprovar o acordo, e ressaltou que o país "não tem muito a perder com a agricultura brasileira". "Até porque eles produzem uma coisa, e nós produzimos outras", declarou.

Os líderes dos Estados-membros da UE estão reunidos em Bruxelas, em meio a protestos de agricultores europeus com tratores, para discutir uma série de questões, incluindo o pacto com o Mercosul.

A aprovação do acordo na UE exige uma maioria qualificada de pelo menos 15 dos 27 membros do bloco, desde que representem no mínimo 65% da população, condição que pode ser atingida quando a Itália der o seu aval para o texto. (com Ansa)