Líder da oposição venezuelana, a conservadora Maria Corina Machado ganha Prêmio Nobel da Paz almejado por Trump

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Por JB INTERNACIONAL com Reuters

A líder da oposição venezuelana Maria Corina Machado gesticula durante um comício de encerramento da campanha eleitoral presidencial em Caracas

A líder da oposição venezuelana Maria Corina Machado, que vive escondida, ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 2025 nesta sexta-feira (10) por lutar contra a ditadura no país, recebendo o troféu apesar da insistência repetida do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que ele o merecia.

Machado, uma engenheira industrial de 58 anos, foi impedida em 2024 pelos tribunais da Venezuela de concorrer à presidência e, assim, desafiar o presidente Nicolás Maduro, que está no poder desde 2013.

"Quando os autoritários tomam o poder, é crucial reconhecer os corajosos defensores da liberdade que se levantam e resistem", informou o Comitê Norueguês do Nobel em sua citação.

'ELA ESTAVA SOBRECARREGADA'
Depois de ser impedida de concorrer em 2024, Machado se dedicou à campanha por seu substituto, o ex-embaixador Edmundo González, atraindo multidões que às vezes chegavam aos milhares, de acordo com participantes e imagens capturadas pela mídia.

Mas vários membros do círculo íntimo de Machado foram presos, incluindo seu chefe de segurança na época da campanha, e seis membros de sua equipe se refugiaram na embaixada da Argentina depois que os promotores emitiram mandados de prisão.

Kristian Berg Harpviken, secretário do órgão de premiação, disse que conversou com Machado por telefone pouco antes do anúncio ser feito em Oslo.

"Ela disse que foi esmagador e que este é um prêmio para todo um movimento, o movimento na Venezuela que lutou pela democracia", disse Harpviken.

Não ficou imediatamente claro se ela poderá comparecer à cerimônia de premiação em Oslo em 10 de dezembro.

Ela é a primeira venezuelana a ganhar o Prêmio Nobel da Paz e a sexta da América Latina.

O escritório de direitos humanos das Nações Unidas saudou o prêmio a Machado como um reconhecimento das "claras aspirações do povo da Venezuela por eleições livres e justas".

OS EUA TÊM SIDO FORTES APOIADORES DA OPOSIÇÃO VENEZUELANA
A preparação para o prêmio deste ano foi dominada pelas repetidas declarações públicas de Trump de que ele merecia ganhar o Prêmio Nobel da Paz. Trump também é um crítico feroz de Maduro.

"Acho que a principal conclusão é que o comitê está novamente demonstrando sua independência, que eles não seriam influenciados por opiniões populares ou líderes políticos para conceder o prêmio", disse Halvard Leira, diretor de pesquisa do Instituto Norueguês de Assuntos Internacionais.

"Trump interpretará isso como quiser, mas este é um prêmio dado a uma causa que os Estados Unidos apoiaram muito ao longo dos anos.

"A oposição democrática da Venezuela é algo que os EUA estão ansiosos para apoiar. Então, nesse sentido, seria difícil para qualquer um constituir isso como um insulto a Trump."

O prêmio a Machado ocorre em um momento em que os Estados Unidos atingiram várias embarcações que supostamente transportavam drogas na costa da Venezuela nas últimas semanas.

Trump também disse que os EUA analisariam atacar cartéis de drogas "vindo por terra" na Venezuela.

ACORDO DE GAZA TARDE DEMAIS PARA TRUMP, ESTE ANO
O comitê tomou sua decisão final antes que um cessar-fogo e um acordo de reféns sob a primeira fase da iniciativa de Trump para encerrar a guerra em Gaza fossem anunciados nessa quarta-feira.

Antes do anúncio do Nobel, especialistas no prêmio também disseram que é muito improvável que Trump vença, já que suas políticas são vistas como um desmantelamento da ordem mundial internacional que o comitê do Nobel preza.

O prêmio da paz é o quinto Nobel concedido esta semana, depois de literatura, química, física e medicina. A organização japonesa Nihon Hidankyo, um movimento de base de sobreviventes da bomba atômica de Hiroshima e Nagasaki, venceu em 2024.

O Prêmio Nobel da Paz, no valor de 11 milhões de coroas suecas, ou cerca de US$ 1,2 milhão, deve ser entregue em Oslo em 10 de dezembro, aniversário da morte do industrial sueco Alfred Nobel, que fundou o prêmio em seu testamento de 1895.