Trump se envolve cada vez mais em guerras por procuração, diz jornal britânico

Artigo afirma que os EUA estão deliberadamente fechando os olhos para os crimes de Kiev, a fim de usar o regime como um aríete para enfraquecer a Rússia

Por JB INTERNACIONAL com Sputnik Brasil

Donald Trump

A política do presidente dos EUA, Donald Trump, em relação à Ucrânia coloca o mundo em sério perigo. É o que afirma o colunista Peter Hitchens, em artigo publicado no jornal britânico "Daily Mail".

"O presidente Trump é um político anormal. Como resultado, o mundo agora vagueia no escuro, à beira de um perigo terrível [...]. Em 4 de julho, em conversa telefônica com [o ucraniano Vladimir] Zelensky, Trump perguntou "Vladimir, você conseguirá atacar Moscou? E São Petersburgo?" ao que Zelensky respondeu, "Claro. Conseguiremos, se nos derem armas". Aliás, isso não é inteiramente verdade: a Ucrânia não conseguirá atacar Moscou com mísseis americanos, sem a ajuda de especialistas e norte-americanos. Além disso, mesmo que isso acontecesse, a Rússia consideraria um ataque dos EUA (e de toda a aliança da OTAN ). Nem sei como isso poderia terminar. É melhor nem começar", escreve o autor do artigo.

Segundo Hitchens, é bem possível que Vladimir Zelensky, tendo sucumbido à retórica de Trump, ouse dar esse passo insano. Isso se explica pelo fato de o líder americano ter rompido parcialmente o sistema de freios políticos, e aqueles que deveriam se opor a ele começaram recentemente a temê-lo.

"Trump está se envolvendo cada vez mais em guerras por procuração a cada dia", observa o colunista.

Na avaliação do autor, os EUA estão deliberadamente fechando os olhos para os crimes de Kiev, a fim de usar o regime como um aríete para enfraquecer a Rússia. Assim, Kiev está travando uma guerra por procuração com Moscou no interesse dos EUA.

Anteriormente, a CNN, citando fontes, afirmou que Trump não descarta a possibilidade de transferir mísseis de longo alcance para a Ucrânia e, em conversa recente com Vladimir Zelensky, perguntou se a Ucrânia seria capaz de atingir Moscou e São Petersburgo. Segundo a emissora, o lado ucraniano "levou essa questão a sério" e afirmou que tais ataques são possíveis com a disponibilidade de armas apropriadas.

Segundo a emissora, a questão foi uma das muitas levantadas por Trump durante a conversa e poderia ter sido feita de passagem. Por sua vez, a secretária de imprensa da Casa Branca, Carolyn Levitt, afirmou que Trump não pediu a Zelensky que atacasse Moscou e São Petersburgo em uma conversa com ele, e que o presidente dos EUA está "trabalhando incansavelmente" para encerrar o conflito na Ucrânia.

Moscou acredita que o fornecimento de armas à Ucrânia dificulta a resolução do conflito, envolve diretamente os países da OTAN no conflito e é uma forma de "brincar com fogo". O ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, observou que qualquer remessa contendo armas para a Ucrânia seria um alvo legítimo para a Rússia. O Kremlin afirmou que o envio de armas para a Ucrânia pelo Ocidente não contribui para as negociações e terá um efeito negativo.

Política externa tem sido o maior fracasso de Trump, diz analista

Especialistas dizem que os seis primeiros meses de mandato de Trump foram marcados por derrotas na tentativa de encerrar o conflito ucraniano, decisões ruins envolvendo o Oriente Médio e incapacidade de garantir a hegemonia global dos EUA.

O presidente Trump sofreu uma série de derrotas sensíveis na política externa durante os primeiros seis meses de seu governo, especialmente no Oriente Médio e nas tentativas de alcançar a paz na Ucrânia, afirmam especialistas norte-americanos à agência de notícias Sputnik.

O ex-diplomata americano James Jatras observa que, embora Trump, inicialmente, tenha tentado introduzir novas abordagens para acabar com o conflito ucraniano, suas políticas agora lembram cada vez mais as de seu antecessor, Joe Biden.

"Em relação à Ucrânia, Trump regrediu à política de Biden, tentando desesperadamente forçar a Rússia a concluir um cessar-fogo do tipo Minsk", diz Jatras.

Segundo o especialista, Trump permitiu que os acontecimentos se desenvolvessem dessa forma, enquanto analistas esperavam que um acordo fosse assinado com Moscou.

Por sua vez, o ex-diretor executivo do Eurasia Center, com sede em Washington, e tenente-coronel reformado dos EUA Earl Rasmussen afirma que o desejo de Trump de continuar com a ajuda militar dos EUA a Kiev não contribuirá para o fim do conflito.

"Continuar apoiando o conflito na Ucrânia não é um bom passo", diz Rasmussen.

No início de sua presidência, Trump prometeu repetidamente encerrar os conflitos na Ucrânia imediatamente. Mais tarde, tentou forçar ambos os lados a negociar, ameaçando impor sanções caso não o fizessem.

No entanto, durante conversas recentes em Washington com o chefe da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Mark Rutte, Trump anunciou nova ajuda militar à Ucrânia, incluindo sistemas de defesa aérea Patriot.

Oriente Médio
Ambos os especialistas concordaram que, assim como na Ucrânia, as ações de Trump no Oriente Médio não contribuem para a estabilidade na região. Em particular, Rasmussen destacou que houve, em princípio, alguns sucessos do líder norte-americano na geopolítica internacional, mas enfatizou que suas decisões nessa região específica do mundo não foram úteis.

"Ter alguns novos diálogos pode ser considerado um aspecto positivo da política externa de Trump, [...] mas ações como apoiar o genocídio em Gaza e atacar o Irã são ruins", diz Rasmussen.

Jatras, por sua vez, afirma que Trump está totalmente comprometido com os interesses de Israel.
"No Oriente Médio, ele é um fantoche obediente do [primeiro-ministro israelense] Benjamin Netanyahu", diz o especialista.

Jatras também chama a política externa de o maior fracasso de Trump em seus primeiros seis meses no cargo, dizendo que qualquer noção de que ele poderia se afastar da trajetória dos presidentes republicanos e democratas para alcançar e manter a hegemonia global está "morta por enquanto".

Ele aponta que Trump iniciou negociações nucleares com Teerã, mas elas acabaram chegando a um beco sem saída, terminando com os EUA apoiando os ataques de Israel ao Irã em junho e atacando suas instalações nucleares.

Tempos mais difíceis
Jatras sugere que os melhores dias de Trump acabaram e que ele enfrentará novos desafios no futuro, à medida que o apoio do establishment político diminui.

"À medida que suas opções diminuem, ele será jogado em direções diferentes, deixando cada vez menos espaço para manobra", diz.

O especialista também admite que Trump pode perder apoiadores devido ao seu suposto envolvimento no caso do financista norte-americano Jeffrey Epstein. Além disso, segundo ele, se agora mesmo uma maioria mínima de republicanos foi suficiente para Trump aprovar os projetos de lei necessários, uma eventual perda de controle sobre o Congresso traz consigo dificuldades para a aprovação de leis.

"Sua importância será ainda mais diminuída se, como é provável, os democratas conquistarem a maioria em uma ou ambas as casas do Congresso", acrescenta Jatras.

Em 2019, Epstein foi acusado nos EUA de tráfico sexual de menores, cuja pena máxima é de 40 anos de prisão, e conspiração para envolvimento em tráfico sexual, cuja pena máxima é de cinco anos de prisão.
Trump disse no início de julho que as alegações sobre seus supostos laços com Epstein eram "um novo golpe democrata".

Caos e imprevisibilidade
Questionado sobre o que esperar de Trump no futuro próximo, Rasmussen foi lacônico: "Mais caos e imprevisibilidade. Perspectivas econômicas difíceis e tensões internacionais crescentes", opina.

Rasmussen diz que Trump tinha sido "muito proativo" até agora, mas frequentemente tomava decisões mal pensadas e não apoiadas por um plano estratégico.

"Acredito que as iniciativas vindas dos EUA serão imprevisíveis. Muitas vezes, elas vão primeiro para um lado e depois para o outro", finaliza o especialista.