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França vota, com extrema-direita em busca do poder

Embora se espere que o RN conquiste a maioria dos assentos na Assembleia Nacional, as últimas pesquisas indicaram que ele pode ficar aquém de uma maioria absoluta.

Por JB INTERNACIONAL com Reuters
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Publicado em 07/07/2024 às 08:31

Alterado em 07/07/2024 às 08:31

Eleitores votam no segundo turno das eleições parlamentares francesas antecipadas, em uma seção eleitoral em Paris Foto: Reuters/Sarah Meyssonnier

A participação eleitoral numa segunda volta das eleições parlamentares aumentou acentuadamente em relação à última vez em 2022, disse o Ministério do Interior francês, num escrutínio que pode ver o partido de extrema-direita Reunião Nacional (RN) emergir como a maior força.

Embora se espere que o RN conquiste a maioria dos assentos na Assembleia Nacional, as últimas pesquisas indicaram que ele pode ficar aquém de uma maioria absoluta.

Um Parlamento enforcado prejudicaria severamente a autoridade do presidente Emmanuel Macron e anunciaria um período prolongado de instabilidade e impasse político na segunda maior economia da zona do euro.

Caso o RN, nacionalista e eurocético, garanta a maioria, inaugurará o primeiro governo de extrema direita da França desde a Segunda Guerra Mundial e enviará ondas de choque pela União Europeia, em um momento em que partidos populistas estão fortalecendo o apoio em todo o continente.

A participação era de 26,3% por volta do meio-dia (1000 GMT), contra 18,99% durante o segundo turno em 2022, disse o ministério, destacando o extremo interesse da população em uma eleição que destacou visões polarizadas na França.

Foi o maior nível de participação ao meio-dia desde 1981, segundo o instituto de pesquisas Harris Interactive e Ipsos.

A votação encerra às 18h (16h no horário de Brasília) em cidades pequenas e 20h em cidades maiores. Os institutos de pesquisa entregarão projeções iniciais com base em contagens antecipadas de uma amostra de seções eleitorais às 20h.

Pesquisas de opinião preveem que o RN de Marine Le Pen emergirá como a força dominante na Assembleia Nacional, à medida que os eleitores punem Macron por uma crise de custo de vida e por estar fora de contato com as dificuldades que as pessoas enfrentam.

No entanto, o RN é visto como incapaz de atingir a meta de 289 assentos que daria ao protegido de Le Pen, Jordan Bardella, de 28 anos, o cargo de primeiro-ministro com maioria de trabalho.

A margem de vitória projetada pela extrema direita diminuiu desde que a aliança centrista Juntos, de Macron, e a Nova Frente Popular (FN), de esquerda, retiraram dezenas de candidatos de disputas triplas no segundo turno em uma tentativa de unificar o voto anti-RN.

"A França está no precipício e não sabemos se vamos saltar", disse Raphael Glucksmann, membro do Parlamento Europeu que liderou a chapa de esquerda da França na votação europeia do mês passado, à rádio France Inter na semana passada.

A violência política aumentou durante a curta campanha de três semanas. O ministro do Interior, Gerald Darmanin, disse que as autoridades registraram mais de 50 agressões físicas a candidatos e militantes.

Algumas boutiques de luxo ao longo da avenida Champs Elysées, incluindo a loja Louis Vuitton, barricaram vitrines, e Darmanin disse que estava mobilizando 30.000 policiais em meio a preocupações de protestos violentos caso a extrema direita vença.

Um pária de longa data para muitos devido ao seu histórico de racismo e antissemitismo, o RN ampliou seu apoio para além de sua base tradicional ao longo da costa do Mediterrâneo e do norte desindustrializado, aproveitando a raiva dos eleitores contra Macron por causa dos orçamentos domésticos apertados, segurança e preocupações com a imigração.

"Os franceses têm um desejo real de mudança", disse Le Pen à TV TF1 na quarta-feira.

O QUE VEM POR AÍ PARA MACRON?
Macron surpreendeu o país e irritou muitos de seus aliados políticos e apoiadores quando convocou eleições antecipadas após uma humilhação do RN na votação do Parlamento Europeu do mês passado, na esperança de enganar seus rivais em uma eleição legislativa.

Seja qual for o resultado final, a sua agenda política parece agora morta, a três anos do fim da sua presidência.

"Nosso país está passando por uma grave crise, estamos a poucas horas de uma nova ordem", disse o engenheiro Pascal Cuzange, que votou na aliança de Macron mais em protesto contra as alternativas do que em apoio ao presidente.

"Há o risco de o país se tornar ingovernável."

A elite empresarial francesa também está preocupada com o risco de política volátil e instabilidade à frente.

"Estamos muito preocupados com o que vai acontecer", disse Ross McInnes, presidente da empresa aeroespacial Safran, à Reuters. "Seja qual for a configuração política que sairá da votação de domingo, provavelmente estamos no final de um ciclo de reformas que começou há dez anos."

Um governo liderado pelo RN levantaria grandes questões sobre quem realmente fala pela França na Europa e no cenário global, e sobre para onde a UE está indo, dado o poderoso papel da França no bloco. É quase certo que as leis da UE restringirão seus planos de reprimir a imigração.

O RN promete reduzir a imigração, afrouxar a legislação para expulsar migrantes ilegais e endurecer as regras em torno do reagrupamento familiar. Na economia, o RN diluiu algumas de suas promessas políticas de linha de frente para reforçar os gastos das famílias e reduzir a idade de aposentadoria, limitada pelo crescente déficit orçamentário da França.

Bardella diz que o RN se recusará a formar um governo se não conseguir a maioria, embora Le Pen tenha dito que pode tentar se ficar aquém.

A França não está acostumada a construir amplas coalizões interpartidárias no caso de um Parlamento enforcado. O primeiro-ministro Gabriel Attal, que parece propenso a perder o cargo, está entre vários líderes políticos que descartaram tal cenário. Outra possibilidade nesse cenário é um governo interino que administre os assuntos do dia a dia, mas sem mandato de reforma.

Os preços dos ativos franceses subiram com as expectativas de que o RN não conquistará a maioria, com as ações bancárias em alta e o prêmio de risco que os investidores exigem para segurar a dívida francesa diminuindo. Economistas questionam se os pesados planos de gastos do RN estão totalmente financiados.

O aposentado Claude Lefloche disse que o futuro da França está em jogo: "A França está doente, a economia está doente", disse ele na cidade de classe média de Conflans Sainte-Honorine, a oeste de Paris. "Meu voto hoje será uma expressão de insatisfação."

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