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Ataque aéreo israelense em Gaza mata sete trabalhadores de ONG de ajuda alimentar

O Hamas, grupo islâmico que controlava Gaza, disse que o principal problema com a distribuição de ajuda era o ataque israelense a trabalhadores humanitários. Após o último incidente, emitiu um comunicado dizendo que o ataque visava aterrorizar trabalhadores de agências humanitárias internacionais, dissuadindo-os de suas missões.

Por JB INTERNACIONAL com Reuters
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Publicado em 02/04/2024 às 08:58

Alterado em 02/04/2024 às 08:58

Um palestino inspeciona o veículo onde funcionários da World Central Kitchen (WCK), incluindo estrangeiros, foram mortos em um ataque aéreo israelense, de acordo com a ONG, enquanto o exército israelense disse que estava conduzindo uma revisão completa nos mais altos níveis para entender as circunstâncias do ataque Foto: Reuters/Ahmed Zakot

Cidadãos da Austrália, Reino Unido e Polónia estavam entre as sete pessoas que trabalhavam para a cozinha central do chef José Andrés que foram mortas num ataque aéreo israelita no centro de Gaza nessa segunda-feira (1º), informou a ONG World Central Kitchen (WCK).

Os trabalhadores, que também incluíam palestinos e uma dupla cidadã dos Estados Unidos e Canadá, viajavam em dois carros blindados estampados com o logotipo da WCK e outro veículo, relata o comunicado.

Israel há muito nega que esteja dificultando a distribuição de ajuda alimentar urgentemente necessária em Gaza, dizendo que o problema é causado pela incapacidade de grupos de ajuda internacional de levá-la a quem precisa.

Apesar de coordenar movimentos com a Força de Defesa de Israel, o comboio foi atingido quando deixava seu armazém em Deir al-Balah, depois de descarregar mais de 100 toneladas de ajuda alimentar humanitária levada para Gaza por mar, informa a WCK.

"Este não é apenas um ataque contra o WCK, este é um ataque a organizações humanitárias que aparecem nas situações mais terríveis em que os alimentos estão sendo usados como arma de guerra", disse Erin Gore, executiva-chefe da World Central Kitchen. "Isso é imperdoável."

O exército israelense disse que está fazendo uma revisão completa nos mais altos níveis para entender as circunstâncias do que chamou de um trágico incidente, e prometeu uma investigação por "um órgão independente, profissional e especializado".

"As IDF (Forças Armadas de Israel) fazem amplos esforços para permitir a entrega segura de ajuda humanitária e têm trabalhado em estreita colaboração com a WCK em seus esforços vitais para fornecer alimentos e ajuda humanitária ao povo de Gaza", disseram os militares.

Israel tem estado sob crescente pressão internacional para aliviar a fome severa em Gaza, que foi devastada por meses de combates que destruíram grande parte do enclave e forçaram a maioria da população a deixar suas casas.

As Nações Unidas e outros grupos internacionais acusaram Israel de dificultar a distribuição de ajuda com obstáculos burocráticos e de não garantir a segurança dos comboios de alimentos, sublinhado por um desastre em 29 de fevereiro, no qual cerca de 100 pessoas morreram enquanto esperavam por uma entrega de ajuda.

O Hamas, grupo islâmico que controlava Gaza, disse que o principal problema com a distribuição de ajuda era o ataque israelense a trabalhadores humanitários. Após o último incidente, emitiu um comunicado dizendo que o ataque visava aterrorizar trabalhadores de agências humanitárias internacionais, dissuadindo-os de suas missões.

Na semana passada, a Corte Mundial ordenou que Israel tomasse todas as medidas necessárias e eficazes para garantir o fornecimento de alimentos básicos à população palestina do enclave e deter a propagação da fome.

Em resposta, as autoridades israelenses acusaram as Nações Unidas e outros organismos internacionais de "fracasso" sobre os problemas em levar ajuda às pessoas famintas em Gaza, dizendo que elas não têm capacidade logística para realizar seu trabalho.

Andres, que começou o WCK em 2010 enviando cozinheiros e comida para o Haiti após um terremoto, disse anteriormente que estava com o coração partido e de luto pelas famílias e amigos daqueles que morreram.

"O governo israelense precisa parar com esse assassinato indiscriminado", disse ele nas redes sociais.
"Precisa parar de restringir a ajuda humanitária, parar de matar civis e trabalhadores humanitários e parar de usar comida como arma. Chega de vidas inocentes perdidas. A paz começa com a nossa humanidade comum. Precisa começar agora."

AUSTRÁLIA CONFIRMA MORTE
O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, confirmou a morte do trabalhador humanitário Lalzawmi "Zomi" Frankcom, de 44 anos, e disse que seu governo entrou em contato com Israel para exigir que os responsáveis sejam responsabilizados.

"Esta é uma tragédia humana que nunca deveria ter ocorrido, isso é completamente inaceitável e a Austrália buscará uma responsabilização completa e adequada", disse Albanese em entrevista coletiva na terça-feira.

Albanese também falou que civis inocentes e trabalhadores humanitários precisam ser protegidos, e reiterou seu apelo por um cessar-fogo sustentável em Gaza, juntamente com mais ajuda para aqueles que sofrem de "tremenda privação".

A Polônia, que também perdeu um cidadão, emitiu um comunicado se opondo ao "desrespeito ao Direito Internacional Humanitário e à proteção de civis, incluindo trabalhadores humanitários".

Um vídeo obtido pela Reuters mostrou um grande buraco no teto de um veículo WCK com tração nas quatro rodas e seu interior queimado e rasgado, além de paramédicos movendo corpos para um hospital e exibindo os passaportes de três dos mortos.

"Estamos com o coração partido e profundamente perturbados com o ataque que matou trabalhadores humanitários em Gaza", disse a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Adrienne Watson, nas redes sociais. E completou: "Os trabalhadores de ajuda humanitária devem ser protegidos enquanto entregam a ajuda que é desesperadamente necessária, e pedimos a Israel que investigue rapidamente o que aconteceu."

A WCK disse que está pausando suas operações na região imediatamente, e que tomará decisões em breve sobre o futuro de seu trabalho.

WCK entrega ajuda alimentar e prepara refeições para pessoas necessitadas. No mês passado, a empresa disse que serviu mais de 42 milhões de refeições em Gaza em 175 dias.

A WCK esteve envolvida no primeiro envio de ajuda para Gaza através de um corredor marítimo a partir de Chipre em março. Um segundo carregamento de ajuda marítima de 332 toneladas chegou a Gaza no início desta semana.

Desde o início das operações em 2010, a organização tem fornecido alimentos para comunidades atingidas por desastres naturais, refugiados na fronteira dos EUA, profissionais de saúde durante a pandemia de COVID-19 e pessoas em conflitos na Ucrânia e Gaza.