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Reuters: 'Investigação golpista de Bolsonaro enfraquece oposição de direita no Brasil'

A mais importante agências de notícias do planeta dedica um texto analítico sobre os últimos acontecimentos policiais no Brasil envolvendo o ex-presidente da República

Por JB INTERNACIONAL com Política JB
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Publicado em 15/02/2024 às 10:15

Policiais federais deixam a sede do Partido Liberal durante uma operação que visa alguns dos principais assessores do ex-presidente Jair Bolsonaro em Brasília, Brasil, 8 de fevereiro de 2024 Foto: Reuters/Adriano Machado

Anthony Boadle - As batidas policiais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus associados por supostamente planejarem um golpe após as eleições de 2022 enfraqueceram a oposição de direita ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes das eleições locais de outubro, dizem analistas.

Bolsonaro, um radical de extrema-direita que se inspirou no ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, entregou seu passaporte à polícia na última quinta-feira (8), e quatro de seus ex-assessores foram presos. Mandados de busca e apreensão foram cumpridos contra quatro de seus ex-ministros, três deles generais da reserva do Exército.

Isso, segundo analistas, foi um duro golpe para o Partido Liberal (PL), de direita de Bolsonaro, o maior partido de oposição. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, também foi preso na quinta-feira acusado de porte de arma e colocado em liberdade provisória no sábado.

"A oposição bolsonarista foi muito prejudicada por isso", disse André Cesar, analista da Hold Assessoria Legislativa, consultoria de políticas públicas. "O PL vai perder musculatura política e ter que repensar planos de triplicar seus prefeitos nas eleições de outubro."

A polícia brasileira acusou Bolsonaro de editar um decreto para derrubar o resultado da eleição de 2022 que perdeu para Lula, pressionar chefes militares a participar de uma tentativa de golpe e conspirar para prender um ministro do STF.

O presidente do PL, Costa Neto, tem contado com a popularidade de Bolsonaro junto aos principais apoiadores para reforçar a participação de seu partido em outubro, quando os eleitores elegerão prefeitos e vereadores em 5.568 municípios de todo o Brasil.

No entanto, o suposto envolvimento de Bolsonaro em uma conspiração golpista pode arrefecer o apoio de brasileiros moderados de centro-direita, que não eram fãs de Bolsonaro, mas votaram nele para se opor a Lula, segundo a empresa de pesquisas Quaest.

PUBLICAÇÕES CRÍTICAS NAS REDES SOCIAIS
Uma pesquisa nas redes sociais realizada na sexta-feira (9) pela Quaest mostrou que 58% das postagens eram críticas a Bolsonaro, enquanto 42% eram favoráveis, indicando que ele ainda tem apoio considerável, apesar das alegações de planejar um golpe, embora menos do que os 49,1% que votaram nele contra 50,9% em Lula em 2022.

"Haverá um desgaste enorme no PL que beneficiará o Partido dos Trabalhadores", disse um ex-parlamentar do PL que deixou o partido no ano passado, e pediu anonimato.

O PL não respondeu a um pedido de comentário. Mas o líder do PL no Congresso, José Medeiros, disse que a investigação é uma perseguição política com o objetivo de minar Bolsonaro e o partido para impedir um retorno da direita na corrida presidencial de 2026.

Antes mesmo da operação de quinta-feira, Lula já desfrutava de laços esquentando com alguns ex-aliados de Bolsonaro.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que foi ministro da Infraestrutura de Bolsonaro e um líder conservador em ascensão, tem sido politicamente pragmático e recentemente se reuniu com Lula para um aperto de mão muito divulgado.

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, também em ascensão na direita brasileira, disse na quinta-feira que "aprendeu a trabalhar com pessoas que eu penso diferente", em referência a Lula e seus aliados de esquerda.

Os grandes perdedores das consequências do suposto golpe serão os mais próximos ideologicamente de Bolsonaro, enquanto os moderados cortejam eleitores centristas que decidem as eleições no Brasil, disse Lucas de Aragão, da consultoria de risco político Arko Advice.

"Os direitistas moderados enfrentam críticas por não apoiarem Bolsonaro o suficiente, mas sabem que terão o voto bolsonarista em uma eleição polarizada, esquerda-direita", disse.

(Reportagem de Anthony Boadle e Lisandra Paraguassu em Brasília; Edição em inglês por Sharon Singleton, Tradução: Jornal do Brasil)