MUNDO

Argentina: comitê eleitoral descarta chance de fraudes

Leia os perfis dos candidatos Milei e Massa

Por JB INTERNACIONAL
[email protected]

Publicado em 18/11/2023 às 08:02

Alterado em 18/11/2023 às 12:02

Sergio Massa e Javier Milei vão disputar o segundo turno nas eleições presidenciais na Argentina, no dia 19 novembro Foto: Juan Mambromata e Tomas Cuesta/AFP

A Câmara Nacional Eleitoral da Argentina (CNE) rechaçou neste sábado (18) a possibilidade de fraudes no segundo turno das eleições para presidente, em meio a acusações sem provas feitas pela campanha do ultraliberal Javier Milei.

"São versões absolutamente infundadas, mas que geram esse clima que tenta ser de desconfiança", disse Sebastián Schimmel, secretário de implantação eleitoral da CNE, entrevistado pela Rádio Mitre.
Durante a semana, a campanha de Milei acusou a Gendarmaria Nacional de organizar uma "fraude colossal" no primeiro turno, quando o governista de centro-esquerda Sergio Massa terminou na liderança, com 36,8% dos votos - o ultraliberal teve 30%.

"Não existe nenhuma denúncia nem nenhum fato que justifique essa preocupação", acrescentou Schimmel. A CNE também convocou dirigentes das coalizões dos dois candidatos para "preservar a convivência democrática", segundo o jornal La Nación.

Em um clima de crescente tensão, ambas as campanhas mobilizaram exércitos de fiscais para acompanhar os processos de votação e apuração neste domingo (19).

'Camaleão' Massa garante estabilidade

Habilidoso, seguro de si, politicamente flexível e disposto a correr riscos, Sergio Massa, ministro da Economia argentino e candidato presidencial pela Unión por la Patria (UxP) de centro-esquerda, aceitou o desafio de manter no poder a coalizão governista peronista, apesar de uma situação econômica (inflação, pobreza, escassez de reservas, desvalorização) verdadeiramente alarmante.

Ele fez isso com uma campanha voltada para o futuro, com a intenção de convencer os argentinos de que, se eleito, será capaz de acabar com a histórica "grieta" (cisão) entre os lados de esquerda e direita.

Seu projeto é buscar um governo de unidade nacional, integrado por personalidades proeminentes de diferentes áreas, convencido de que o país deve trilhar um "ancho avenida del medio" (amplo caminho central), politicamente aberto.

Com 30 anos na política e membro de uma família italiana (seu pai, Alfonso, é siciliano de Niscemi, e sua mãe, Lucia Cherti, é triestina), Massa quer mostrar a grandeza de um país em que, graças às garantias sociais, até o filho de um imigrante pode se tornar presidente.

Nos anos 80, Massa ingressou na Unión del Centro Democrático (Ucede), um partido ultraliberal com ideias semelhantes às defendidas por Javier Milei, seu adversário no segundo turno deste domingo.

Após experiências na esquerda e no centro com dois presidentes peronistas (Nestor Kirchner e Eduardo Duhalde) e uma gestão bem-sucedida como prefeito de Tigre, sua cidade natal, em 2013, ele se tornou independente, criando o Frente Renovador, um partido de centro com inclinações progressistas.

Desde então, ocupou cargos importantes, voltando a colaborar com a ala de esquerda do peronismo na vitória da chapa formada pelo presidente Alberto Fernández e pela vice Cristina Kirchner, que o projetou para a presidência da Câmara dos Deputados.

Nos últimos anos, a necessidade de gerenciar adequadamente a dívida contraída com o Fundo Monetário Internacional (FMI) deu a ele a oportunidade de assumir a liderança do Ministério da Economia, de onde lançou sua candidatura presidencial.

Anarcocapitalista Milei promete esperança 

O grande público o conheceu inicialmente como um polemista televisivo veemente e perspicaz que garantia audiências altíssimas com seus ferrenhos ataques à "casta política corrupta" e seus discursos antissistema.

Conceitos que rapidamente ganharam popularidade e infundiram esperança em muitos argentinos, tornando o salto da televisão para a política no final quase inevitável.

O candidato ultraliberal à presidência da Argentina, o líder de 53 anos da La Libertad Avanza, Javier Milei, escalou os degraus da política em poucos anos, cavalgando o descontentamento e a raiva pela grave crise econômica do país.

Ele se define como um economista anarco-capitalista que se baseia nas teorias mais radicais do laissez-faire dos primeiros anos do século 20.

Um radicalismo libertário que ao longo do tempo o levou a apoiar, entre outras coisas, a compra e venda de órgãos e a criação de um mercado de adoções, bem como a liberalização da venda de armas e a destruição do Banco Central.

Milei se recusa a se identificar ideologicamente com a extrema-direita. No entanto, para sua aventura política, escolheu como vice uma advogada conhecida por defender muitos dos militares condenados por crimes durante a ditadura, Victoria Villaruel.

O líder de La Libertad Avanza também aderiu à Carta de Madrid, um documento promovido pelo partido de extrema-direita espanhol Vox, que visa conter a expansão do comunismo na região ibero-americana.

E se ele conquistar a presidência, Milei anunciou que não manterá relações com países da "área comunista e socialista", incluindo o principal parceiro comercial da Argentina, o Brasil liderado por Luiz Inácio Lula da Silva.

Obrigado a costurar uma aliança estratégica com a centro-direita do ex-presidente Mauricio Macri em vista do segundo turno, o candidato ultraliberal, no entanto, moderou muitas de suas propostas mais controversas nas últimas semanas, abandonando até mesmo a imagem icônica dos primeiros comícios em que ele sempre aparecia empunhando uma motosserra. (com Ansa)

Tags: