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Relação diplomática com o Brasil vira pauta no último debate presidencial na Argentina

Prevaleceram os confrontos diretos, em vez das propostas; Massa soube pressionar Milei, que ficou mais preocupado e se defender do que atacar

Por GABREL MANSUR
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Publicado em 13/11/2023 às 10:56

Alterado em 13/11/2023 às 10:56

Massa apareceu à frente de Milei nas pesquisas pela primeira vez Foto: Reprodução

O peronista Sérgio Massa, candidato governista, e o 'libertário' Javier Milei, representante da extrema-direita, realizaram, neste domingo (12), o primeiro e último debate antes do pleito final à Presidência da Argentina. O segundo turno acontece no próximo domingo (19).

No evento, realizado na Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires (UBA), os candidatos opuseram suas ideias por quase duas horas. Apesar de olharem para questões internas, os candidatos aproveitaram para tratar das relações internacionais. Um dos temas que apareceram no debate entre o democrata e o ultradireitista foi o governo Lula e as relações da Casa Rosada com o Palácio do Planalto.

Massa questionou se Milei iria cortar relações diplomáticas com os governos do Brasil e da China, algo que custaria mais de US$ 20 bilhões à economia argentina, além da perda estimada de dois milhões de empregos. O ultralibertário se esquivou de responder, lançando mão da sua tese de que o comércio exterior deve ser protagonizado pela iniciativa privada (empresas exportadoras, por exemplo), com mínima interferência do governo.

Milei ainda afirmou que o governo de Alberto Fernández não manteve relações com Jair Bolsonaro, o que não é verdade. "Você pertence a um governo em que Alberto Fernández não falava com Bolsonaro. Que problema tem em eu falar ou não com [o presidente] Lula [PT]?”, questionou Milei, sugerindo a ideia de que, caso seja eleito, dará um passo atrás na relação entre os dois países.

Em contrapartida, Massa recordou que, quando ainda era deputado, visitou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Brasil, e que a proposta de Milei é um “preconceito ideológico”.

"Acho que o que você não está querendo dizer para as pessoas é que, por preconceito ideológico, você vai deixar dois milhões de argentinos sem trabalho. A ruptura do Mercosul, das relações com o Brasil e com a China, representam dois milhões de empregos a menos e um impacto nas exportações argentinas de 28 bilhões de dólares. A política externa não pode ser regidas por caprichos, por ideologia; devem ser regidas por interesse nacional”, resumiu Massa.

Ainda dentro do tema "relações internacionais", o ministro aproveitou para lembrar as críticas do mileísmo ao Papa Francisco, considerado por Massa "o argentino mais importante da história", e também destacou a presença do ex-chefe do Exército Martín Balza, de 89 anos, a quem definiu como um "herói das Malvinas".

Quanto ao Papa, Massa insistiu em pedir a Milei que pedisse desculpas a ele. O economista, então, disse que já "o fez em particular". O ministro também confrontou declarações de apoio a Margaret Thatcher, a ex-primeira-ministra conservadora britânica na Guerra das Malvinas. Milei a apoiou como "figura internacional", enquanto Massa a definiu como uma "inimiga da Argentina".

Quem venceu o debate?

No cômputo geral, especialistas avaliam que o atual ministro da Economia levou vantagem especialmente pelo papel passivo de Milei, que pouco falou sobre a crise deixada pelo Governo que o próprio governante e candidato integra.

Nesse sentido, Massa buscou se distanciar da ala mais kirchnerista da sua coalizão. Por duas vezes, lembrou a Milei que o debate de ontem não dizia respeito a “Macri ou Cristina [Kirchner]”, mas a eles dois. Também por conta do papel dos indecisos na campanha, Massa, em mais de uma oportunidade, aproveitou para ressaltar os riscos institucionais de um eventual governo Milei.

O ultralibertário, por sua vez, ressaltou as suas críticas à ‘casta’ do país, fazendo referência aos grupos de interesse que, segundo ele, levam a Argentina às sucessivas crises econômicas.

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