Argentina vai às urnas para eleger presidente em cenário incerto
Além de Milei, os principais postulantes são o ministro da Economia Sergio Massa, da aliança progressista União pela Pátria (UP), e a conservadora Patricia Bullrich, da coalizão Juntos pela Mudança (JxC). Todos têm chances de chegar ao segundo turno
Mais de 35 milhões de eleitores serão chamados às urnas neste domingo (22) para escolher o novo presidente da Argentina, em uma disputa marcada pela ascensão do ultraliberal Javier Milei, da coalizão A Liberdade Avança (LLA), comparado por muitos com o brasileiro Jair Bolsonaro.
Ao mesmo tempo, os argentinos renovarão parcialmente o Congresso, com a eleição de 24 senadores em oito províncias e 130 deputados. Ao todo, cinco candidatos disputam a sucessão do peronista e impopular Alberto Fernández, que desistiu de disputar a reeleição, na Casa Rosada, mas somente três se apresentam com chances reais.
Além de Milei, os principais postulantes são o ministro da Economia Sergio Massa, da aliança progressista União pela Pátria (UP), e a conservadora Patricia Bullrich, da coalizão Juntos pela Mudança (JxC).
As últimas pesquisas, divulgadas há uma semana, mostram uma disputa acirrada e um cenário aberto, com a ampla fatia de indecisos podendo exercer papel determinante no resultado final.
Nas primárias de agosto, 69% do eleitorado participou, e Milei acabou na frente com 29,86% dos votos, seguido por Massa (21,43%) e Bullrich (16,81%), embora suas coalizões tenham chegado, respectivamente, a 27,28% e 28% dos votos na ocasião.
Para se eleger em primeiro turno, um candidato precisa obter pelo menos 45% da preferência, ou então 40% e uma vantagem de 10 pontos sobre o segundo colocado, cenário que as pesquisas apontam como improvável.
Em caso de segundo turno, os dois postulantes mais votados se enfrentam novamente em 19 de novembro, e o vencedor tomará posse em 10 de dezembro, no aniversário de 40 anos da volta da democracia à Argentina.
Os eleitores também elegerão os governadores das províncias de Buenos Aires, Catamarca e Entre Ríos, bem como o próximo prefeito da capital.
Milei capitaliza o voto de protesto
O populista com a motosserra interpreta o desconforto das massas
Ele considera as mudanças climáticas "uma farsa de esquerda", promete fechar o Banco Central e basear a economia argentina exclusivamente no dólar americano. Javier Milei, o excêntrico inimigo da casta, o antissistema do topete rebelde que se reconhece no partido de extrema direita espanhol Vox, cavalga o protesto dos trabalhadores que não conseguem chegar ao fim do mês e almeja vencer no primeiro turno das eleições presidenciais, que amanhã convocarão mais de 35 milhões de cidadãos às urnas.
Um resultado que não é de forma alguma certo. As pesquisas apontam um cenário incerto, no qual o progressista peronista Sergio Massa, da coalizão União pela Pátria (UP), e a conservadora Patricia Bullrich, da aliança Juntos pela Mudança (JxC), perseguem o anarcocapitalista da coligação A Liberdade Avança (LLA) com margens percentuais estreitas. Com isso, os cerca de 10% a 12% de eleitores indecisos podem ser determinantes.
E mesmo que os observadores não excluam a hipótese de um cisne negro - como aconteceu nas primárias gerais, quando Milei saltou surpreendentemente para o topo da preferência, com 29,8% -, para conquistar a Casa Rosada é preciso obter 45% dos votos, ou 40% com uma vantagem de 10 pontos para o segundo colocado.
Caso contrário, a disputa será adiada por um mês, com segundo turno no dia 19 de novembro.
Ainda assim, o novo "Trump sul-americano" mostrou capacidade de interpretar a raiva acumulada ao longo de anos de declínio socioeconômico no país, com um descontentamento que em agosto chegou a resultar no saque a supermercados nas províncias mais pobres.
Embora o ultraliberal pregue que quer fechar as torneiras dos subsídios estatais, com a privatização de hospitais, escolas e transportes - indo contra os próprios interesses de muitos dos seus apoiadores -, o fenômeno da sua ascensão deve ser visto dentro do quadro de um país marcado por uma profunda crise econômica, inflação de 140% e pela grande vontade de redenção.
Mas também deve ser lido no âmbito de uma guerra contra a política corrupta, acusada de ter arrastado a Argentina para a beira do abismo: a "casta de ladrões" que Milei - "rei de um mundo perdido" - declara querer destruir em pedaços, como representado plasticamente durante comícios segurando uma serra elétrica. A mesma promessa eleitoral que, em 2018, levou Jair Bolsonaro à vitória no Brasil.
Aliás, não é por acaso que o deputado Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do ex-presidente brasileiro, acompanhará a apuração no Hotel Sheraton Libertador, em Buenos Aires, ao lado de Milei, bem como representantes do Vox. A bem-sucedida estratégia digital da campanha do ultraliberal se deve a Fernando Cerimedo, fundador do site La Derecha Diario e já envolvido nas campanhas do chileno José Antonio Kast e de Bolsonaro, em um fio que liga as Américas de norte a sul, passando por Steve Bannon, ex-assessor de Trump. (com Ansa)