A troca de afagos de Lula com o papa Francisco e o prefeito de Roma

Em viagem à Itália, presidente brasileiro também se encontrou com a primeira-ministra de direita Giorgia Meloni, autora de uma série de críticas antigas ao petista, e Sergio Mattarella

Por GABRIEL MANSUR

Lula e o Papa: abraços

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, se encontraram com o papa Francisco, no Vaticano, nesta quarta-feira (21). O chefe de estado e sua esposa tiveram uma audiência privada com o pontífice.

O principal tema da conversa de 45 minutos girou em torno da Guerra da Ucrânia, em que tanto Lula quanto Francisco estão empenhados em promover conversas em busca da paz.

"Agradeço o Papa Francisco pela audiência no Vaticano e a boa conversa sobre a paz no mundo", escreveu o presidente em uma rede social.

Troca de presentes

Na tradicional troca de presentes, Janja ofereceu ao papa uma gravura de autoria de J. Borges - xilógrafo pernambucano considerado um dos maiores artistas do gênero. Além de ilustrar o calendário da ONU de 2002, Borges já teve suas obras expostas no Museu do Louvre, em Paris, e no Museu de Arte Moderna de Nova York (MomA).

Já Lula foi presenteado com uma escultura de uma flor, com dizeres sobre a paz.

“Estamos em tempos de guerra e a paz é muito frágil. Queria te presentear com isso que fazemos aqui nas nossas oficinas e diz: a paz é uma flor frágil”, disse o papa.

O papa também ofereceu cópias do Documento sobre a Fraternidade Humana, assinado em 2019, e da sua mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano, comemorado em 1º de janeiro. "Ninguém pode salvar-se sozinho. Juntos, recomecemos a partir da Covid-19 para traçar sendas de paz", diz o início do texto do último documento.

Círio de Nazaré

O presidente também disse que desejava convidar o Papa para visitar o Brasil e acompanhar o Círio de Nazaré, em outubro, em Belém. Francisco esteve no Brasil há 10 anos, na edição de 2013 da Jornada Mundial da Juventude. Aos 86 anos, o pontífice já deu a entender que diminuiria o ritmo de viagens em decorrência de sua saúde.

"Talvez tenhamos que mudar um pouco o estilo, mas eu tentaria continuar a fazer isso, estar perto das pessoas, porque é uma forma de servir", afirmou, em julho do ano passado. No início deste mês, o líder religioso foi submetido a uma cirurgia com anestesia geral em razão de risco de obstrução intestinal.

Mais sobre o encontro

Nas redes sociais, Lula agradeceu ao pontífice, primeiro latino-americano a liderar a Igreja Católica, pela audiência realizada no Vaticano e pela "boa conversa sobre a paz no mundo".

Em nota, a Santa Sé disse que houve uma "troca positiva de pontos de vista sobre a situação sociopolítica" e que foram abordados temas de interesse comum, como a luta contra a pobreza, o respeito aos povos indígenas e a proteção ao meio ambiente.

A viagem

O presidente iniciou o dia de encontros e reuniões com uma audiência por volta de 4h30 (horário de Brasília) com o ex-primeiro-ministro italiano Massimo D'Alema. Antes da reunião com o pontífice, o petista também teve uma audiência bilateral o presidente da Itália, Sergio Mattarella.

Após a reunião com o Papa, Lula se encontrou com a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, uma das principais expoentes da extrema-direita mundial. Giorgia é também autora de uma série de críticas antigas ao petisra, especialmente em relação ao caso Cesare Battisti, condenado por quatro homicídios ocorridos no fim dos anos 1970, na Itália. Ele passou quase 40 anos como fugitivo da Justiça italiana, 14 deles no Brasil.

Por fim, ele se encontrou com o prefeito de Roma, Roberto Gualtieri. Amigos de longa data, os dois trocaram elogios e agradecimentos, e o político italiano destacou que, sob o governo lulista, o Brasil voltou a ser uma importante referência internacional.

Gualtieri, do Partido Democrático, de centro-esquerda, foi uma das personalidades internacionais que visitou Lula durante o período em que o ex-presidente esteve preso em Curitiba, entre 2018 e 2019, no âmbito da Operação Lava Jato. Na época da visita, em julho de 2018, Gualtieri exercia mandato de eurodeputado por sua legenda.

Em coletiva de imprensa ao lado do petista, o político italiano disse que foi um prazer encontrar não só um “verdadeiro amigo”, mas uma personalidade “relevante para todos os progressistas do mundo”.

O chefe de estado brasileiro, por sua vez, afirmou que o encontro com Gualtieri teve como objetivo agradecê-lo pela solidariedade durante “um momento difícil”.

“Quero expressar minha gratidão pela lealdade, solidariedade e comportamento do prefeito quando eu estava detido na Polícia Federal no meu país”, disse Lula. “Gualtieri foi me visitar, conversou com muita gente para prestar solidariedade aos meus processos.”

Por ora, Lula encerra seus compromissos na Itália. Nesta quinta-feira (22), ele deve ainda fazer uma coletiva de imprensa às 8h30 do horário local (3h30 em Brasília), para compartilhar o balanço da viagem antes de partir para a França.