Carros estacionados sobre calçadas, camelôs vendendo, livremente produtos piratas, bares obstruindo a passagem de pedestres com mesas e cadeiras, caminhões descarregando em hora e local proibidos. Não vai ser fácil a tarefa do o coronel PM Henrique Lima de Castro Saraiva, 50 anos, carioca de Bangu, que assumiu, no último dia 5, o comando da Guarda Municipal do Rio.
Ex-chefe de relações públicas da PM, onde está há 28 anos, Lima Castro participou da implantação de 14 Unidades de Polícia Pacificadora no Rio. Na GM, ele quer multiplicar as Unidades de Ordem Pública (UOPs) nos bairros para reprimir o comércio ilegal e a ocupação desordenada do solo urbano. Para isso, convocou cinco oficiais da PM para ajudá-lo na empreitada de ordenar uma cidade com quase 7 milhões de habitantes. Ele falou ao Jornal do Brasil com exclusividade.
Qual o seu maior desafio no comando da GM?
Fazer as Unidades de Ordem Pública terem o mesmo sucesso das UPPs, que baniram o narcotráfico de comunidades carentes. O objetivo é devolver o espaço público da cidade aos cariocas. Assim como nas UPPs, as UOPs vão agir 24 horas por dia. Vamos ganhar essa guerra.
O efetivo da Guarda Municipal é suficiente?
Não. A legislação que criou a Guarda, em 1993, permite até 10 mil homens na corporação. Temos 5.200, e a nossa meta é formar, pelo menos, mais 3 mil homens até a realização dos grandes eventos, como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. No último dia 14, formamos mais 157 guardas, que já fazem parte do efetivo da UOP da Tijuca.
O prefeito Eduardo Paesdisse que a GM atuaria até 21 horas, mas há queixas de que quando o dia escurece os guardas somem das ruas, facilitando a ação de assaltantes. É verdade?
Assumi o comando há 20 dias apenas e, se isso acontecia, vai acabar com a chegada das UOPs. A exemplo das UPPs, que tive a felicidade de ver implantadas ainda na ativa, as UOPs estarão de plantão de 24 horas por dia, com maior contingente de guardas nos horários de pico. Isso já acontece na Praça Saens Pena, na Tijuca, a primeira UOP, que foi inaugurada há 10 dias.
O Estado já criou 14 UPPs, quantas UOPs a GM pretende instalar na cidade?
Nosso objetivo até o fim do ano é instalar cinco unidades. Depois da Tijuca, virão as de Copacabana, Centro, mais uma na Zona Sul e outra na Zona Oeste. Todas terão uma base. A da Tijuca fica perto do antigo Museu do Índio. E as UOPs não vão impactar as 15 inspetorias da GM já existentes, como as UPPs não anulam a atuação dos batalhões da PM.
Como combater camelôs, que vendem produtos piratas, caminhões que fazem carga e descarga em horários proibidos e bares que tomam calçadas com mesas e cadeiras?
Costumam dizer “Ah! isso não tem jeito”. Tudo na vida tem jeito, menos a morte. E vamos ser implacáveis. O remédio definitivo para combater esses males serão as UOPs, que farão marcação cerrada o dia inteiro para dar um fim nisso. Sou carioca, de Bangu, e essa desordem me incomoda muito. Me tira do sério. Desde que assumi, já apreendemos milhares de mídias piratas, peças de carros na feira de Acari e animais silvestres e exóticos em outra feira, em Honório Gurgel.
E os hotéis da Zona Sul, que estacionam carros de hóspedes na calçada, prejudicando a circulação de pedestres?
Também estamos de olho nisso. Tanto que na quarta-feira, dia 26, vou ter uma reunião com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis para tratar do assunto. Sabemos da importância do turismo para o Rio, da fantástica renda que gera, mas os hotéis têm que colaborar, porque o carioca não pode ser prejudicado no seu direito de ir e vir.
Por que a desordem na cidade chegou a esse ponto?
Por causa de políticas públicas inócuas e mal conduzidas, que tornaram o espaço público mal ocupado.
Como coronel PM, o senhor tem porte de arma. É a favor de que os guardas municipais usem arma de fogo?
Estou cedido pelo Estado ao município e mantenho todas as prerrogativas de oficial da PM. Senão, não viria para a Guarda. Mas sou contra dar porte de arma de fogo aos guardas municipais. O contexto da Guarda Municipal é manter a ordem e a segurança, mas não com arma. Até porque, se um guarda armado atirar e acertar um outro alvo que não o desejado vai gerar um grande transtorno.
A Guarda Municipal e a Polícia Militar se dão bem?
Sim, mas nosso objetivo é estreitar essa relação de harmonia e fazer guardas e policiais trabalharem juntos nas ruas, como já acontece no patrulhamento da Lapa à noite. Dá maior sensação de segurança às pessoas, e isso se reflete positivamente na vida de todos.
O guarda municipal ganha bem ou o senhor é a favor de um aumento? Qual a relação com os salários da PM?
O salário inicial de um guarda passa de R$ 1 mil e está na faixa do de um PM. Mas pretendo me reunir com o prefeito Eduardo Paes para analisar essa questão. Assim como ele está empenhado em dotar a GM da melhor estrutura, também é sensível a essa questão salarial.
Quem faz parte de sua equipe de trabalho?
São cinco oficiais. Como a GM não tem um comando próprio, fui convocado pelo prefeito e, indicado pelo comandante da PM, coronel Mário Sérgio, trouxe homens da Polícia Militar de minha confiança. Mas, o objetivo é fazer a instituição ter comando próprio. Para isso, vamos inserir o corpo da Guarda no nível decisório das questões.
Quem são seus cinco homens de confiança?
O coronel Almeida Neto, como chefe de gabinete, é a certeza de organização estrutural. O coronel Carlos Rodrigues é o corregedor. O tenente-coronel Hugo Freire, como diretor de Ordem Pública, é quem está à frente das UOPs. O tenente-coronel Luiz Cláudio é o chefe de recursos humanos. E o major Martins, como sub-diretor operacional, vai tocar a guarda independente das UOPs.
Quantos guardas já foram punidos este ano por aceitarem propina do comércio ou de carga e descarga ilegais.
Não tenho esse dado. Denúncias existem, e vamos dar mais velocidade aos processos. Para isso, trouxe o coronel Carlos Rodrigues. Durante anos, ele foi corregedor da PM e terá a mesma função aqui. Havendo denúncias de desvio de conduta, não passaremos a mão na cabeça de ninguém. O guarda tem de saber que ele representa o prefeito da cidade junto à população.