Sentado à frente da TV, você assiste à propaganda do canal Viva e se depara com o quase assustador vampiro Vlad, no anúncio da novela Vamp, que está para voltar. Bateu saudades de Ney Latorraca? Não, não, Vlad, Cornélio e sua vasta lista de personagens não se restringem ao plano de um canal de recordações. Depois de sete anos fora dos palcos, Ney - nem pense em chamá-lo de Neyla, ele não curte muito - estreou, na última sexta, no teatro Tom Jobim, com a peça A escola do escândalo, do amigo de fé-irmão-camarada Miguel Falabella. Inspirado no texto do irlandês Richard Brinsley Sheridan (1751-1816), a que Miguel teve acesso pela primeira vez na faculdade de Letras da UFRJ, Ney não poderia estar mais em casa senão em um contexto com muito humor e amigos...
Você ficou sete anos longe dos palcos teatrais. Como foi voltar depois desse intervalo?
Já fiz vários clássicos nos palcos, teatro faz parte do meu currículo e já estava na hora de voltar. O cenário está deslumbrante e o elenco é maravilhoso. Por isso, me preparei para fazer esse papel, inclusive, fisicamente. Parei de fumar, fiz aula de canto, entrei de corpo e alma. São 47 anos de carreira, né? E com um super retorno desses, não tem como não estar feliz e realizado.
Principalmente em uma peça com roteiro do Miguel e um elenco bem íntimo. É fundamental para você ter gente amiga por perto ou tal mistura dificulta o profissionalismo?
O teatro tem essa grande qualidade de promover encontro entre pessoas que se gostam. Faço o trabalho com quem amo e respeito. Não posso sair de casa para me aborrecer. Faço o que quero, na hora que quero. E o público vê isso e aplaude a espontaneidade resultante. Assim se faz um espetáculo que não agride a inteligência de quem o assiste. Todos que estão envolvidos nesse grande projeto são originalmente do teatro e a parceria se torna, dessa forma, muito tentadora.
Acha que esse poder de escolha de parcerias vem com o tempo, ou é da essência artística do ator?
Foi uma conquista minha mesmo. Eu prefiro vender bolinho na rua ou fazer malabarismo nos sinais a desenvolver algo medíocre. Penso que o prestigio é um atributo que não tem preço. E eu quero isso, sempre lutei. A TV é a vitrine, mas o teatro é sólido, é muito puxado. Ser oriundo do teatro em termos de formação cênica já é , automaticamente, um carimbo a favor. Agora, claro, tem exceções, como a Glória Pires, que nunca pisou em um palco de teatro e é uma excelente atriz. Eu, inclusive, já fiz muita coisa na TV, sempre na aposta, achando tudo um grande exercício. Independente do que faça, na minha carreira, preciso ter o risco da insegurança. No dia em que me sentir pleno, chegarei à conclusão de que é a hora de parar.
A história da peça é passada no século XVIII, mas a temática do humor continua atual. O que faz esse gênero ser atemporal?
Porque o bom teatro fala da maledicência e tem coisas na nossa sociedade que nunca vão mudar. Faz parte do caráter e da essência humana, não adianta. Independe da época, é uma questão de relações interpessoais. Algumas pessoas desenvolvem mais, buscam passar o tempo com livros e outros meios de cultura. Já outras saem para falar mal dos outros. E o humor brinca com isso. É uma arma fantástica. Você pode falar grandes verdades e expor denúncias sem ser de forma agressiva.
Aliás, falando em seus trabalhos na TV, viu que Vamp vai ser reprisada, no canal Viva, no mês que vem? Por que acha que a novela desperta tanto interesse no público, até os dias de hoje?
Não sabia da reprise, é mesmo? Mas, tenho certeza que vai ser muito bem recebida, principalmente, pelo público novo. As crianças e os adolescentes que não a assistiram nas outras vezes que passou vão descobri-la e poder curtir também . E a temática acaba atingindo a família inteira e desperta o lado infantil dentro de cada um. E olha que viemos bem antes de Crepúsculo, hein? Lembro que ia fazer só nove capítulos, mas, quando vi, fiz a novela inteira. Engraçado é que ando na rua e ficam gritando Vlad, Cornélio, Nosferatu, entre outros nomes dos personagens marcantes das novelas. No fundo, nós, atores, nos tornamos um pouco disso também, não é mesmo?
Isso te incomoda?
Acho muito bonito, mostra que valeu a pena toda dedicação a um trabalho que se eternizou. É muito bom ser reconhecido e querido pelas pessoas. Não posso dizer que sou uma unanimidade, mas vejo que muitas pessoas gostam de mim. E quando estou ali, no palco, na minha casa e vejo as cortinas se abrirem seguidas de muitos aplausos e manifestações de carinho, confirmo, cada vez mais, que tudo valeu a pena.