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Crítica | Não me abandone jamais | Conceitos morais em xeque

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O fio condutor de Não me abandone jamais é um triângulo amoroso entre três jovens que se conhecem desde a infância, alunos de um bucólico e aparentemente tranquilo internato no interior da Inglaterra. Porém, o argumento que dá corpo ao filme do diretor Mark Romanek, baseado no livro do escritor japonês Kazuo Ishiguro, consegue ir um pouco mais além: mistura drama, romance, suspense e até ficção científica de forma arrebatadora.

O roteiro tem início na década de 50, quando o espectador é informado sobre o aumento na expectativa de vida dos seres humanos graças aos avanços das pesquisas sobre transplantes de órgãos. Então, o que no livro de Ishiguro só é revelado nos últimos capítulos, vem à tona nos primeiros 20 minutos de projeção: as crianças do tal internato são especiais. Aos poucos, o tal eufemismo vai dando lugar a uma história incrivelmente densa e bastante perturbadora, capaz de deixar a plateia boquiaberta.

A direção de Romanek tem lá seus vícios estilísticos. Abusa de certos clichês, como longos closes em objetos inanimados, música tristonha e uma narração em off que explica demais o argumento – recurso que, em parte, até se faz necessário para dar conta da profundidade do livro. A belíssima fotografia e o figurino caprichado ajudam a dar um tom de pesar ao filme. A atuação do trio principal é irretocável. Carey Mulligan, Andrew Garfield e Keira Knightley se doam integralmente aos seus personagens. Forte e pungente, Não me abandone jamais é uma história de amor que esconde uma discussão existencialista pertinente, colocando em xeque conceitos éticos e morais.