O mundo do cinema amanheceu mais triste em 4 de fevereiro. A atriz francesa Maria Schneider, 58 anos, deu adeus aos milhares de fãs e admiradores após lutar por vários anos contra um câncer. Ela ficou conhecida pelo papel que desempenhou, com apenas 19 anos, ao lado de Marlon Brando no filme O último tango em Paris . A personagem – jovem amante de um empresário de meia-idade – deu a Maria a imagem de uma mulher corajosa e polêmica. Cenas de sexo, não muito comuns naquele tempo, marcaram a carreira promissora que teria a francesa. O filme foi um verdadeiro escândalo à época.
Após o histórico longa-metragem, a atriz atuou em vários outros filmes, dentre eles La baby sitter (1975), de René Clement, e La Dérobade (1979), de Daniel Duval.
Ao saber da triste notícia da morte de Maria Schneider, que teve uma vida atribulada pelo vício em heroína, lembrei-me do artigo escrito pelo cronista Renato Carneiro Cam pos, meu tio, na época em que O último tango em Paris estava em exibição nas telas de cinema do Recife (1973). No texto, tio Renato menciona um dos aspectos mais fascinantes do filme do então jovem cineasta Bertolucci. O longa retrata o sexo como uma forma de protesto que serve como reação a situações absurdas do cotidiano. O ato sexual é uma maneira de pensar, ou melhor, é uma maneira de não pensar. Esquecer das coisas, fugir do convencional e, até mesmo, protestar contra uma sociedade sem valores morais.
Como disse Renato, “o filme pode representar uma cabeça de carneiro nas muralhas já arrombadas de uma falsa moral burguesa; de uma sociedade de consumo que, para vender seus produtos, automóveis, cigarros, roupas e calçados e todo tipo de objeto, emprega mulheres semidespidas em anúncios semipornográficos.
É como se as pessoas sentissem que espírito e alma não podem lutar contra máquinas, formas autoritárias de governo, sistemas imperialistas econômicos, e que somente a carne, simplesmente a carne, é que está mais próxima desse mundo”.