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Pai da psicanálise

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Como não poderia deixar de ser, o livro também focaliza a ascensão do nazismo e sua influência, sobretudo na Áustria, e tenta explicar por que muitos austríacos teriam aderido ao partido hitlerista a ponto de apoiarem a anexação da Áustria pela Alemanha. Podemos ler trechos da correspondência de Freud com intelectuais amigos seus, que partiram para o exílio, entre eles Arnold e Stefan Zweig.

O escritor, além de comentar a produção intelectual do autor de A interpretação dos sonhos , esmiúça sua vida financeira, mostrando que Sigmund Freud não a negligenciou, e que, contra as leis em vigor na Áustria de então, possuía dinheiro no estrangeiro para o caso de uma emergência.

Há insinuações sobre o relacionamento de Freud com várias mulheres. A primeira é com Anna, sua própria filha; depois vem Minna Bernays, irmã de sua mulher. Também é mencionada a constante atuação da princesa Marie Bonaparte (sobrinha-bisneta de Napoleão I, da França) para ajudar o pai da psicanálise nos momentos em que os nazistas estiveram em seus calcanhares.

A ressalva que se pode fazer ao livro é que o autor muitas vezes se prende a fatos que não podem ser comprovados por documentos, como diz no começo: “Há quem afirme que Freud e Minna eram amantes e que ela teve que fazer um aborto”.

Outro ponto também polêmico é sobre um tio de Freud, que foi preso na segunda metade do século 19 acusado de falsificar dinheiro. Tais passagens revestem o livro, vez ou outra, em ares de fofoca.

Uma questão importante está no capítulo As contas bancárias secretas , em que Cohen explica como o sistema bancário suíço se aproveitou do dinheiro dos judeus que pereceram no Holocausto. O trecho vale como uma boa crítica, mostrando que houve muita gente que lucrou sob a sombra hitlerista e não pagou o preço quando o nazismo foi derrotado.

Deve-se louvar a inclusão de dois apêndices. Um com o elenco de personagens, incluindo toda a família Freud, desde seus pais e tios até os descendentes. Depois são enumerados o primeiro grupo de psicanalistas, os médicos de Freud e os principais nazistas que tiveram alguma ligação com a psicanálise e com a família Freud.

A fuga de Freud, de David Cohen. Editora Record. 320 páginas. R$ 47,90.

Haron Gamal é professor e doutor em literatura brasileira pela UFRJ.