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Michel Portal, o ‘Bailador’

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E m setembro de 2008, o clarinetista-saxofonis ta francês Michel Portal – um dos grandes improvisadores vivos do jazz – proporcionou à plateia do Festival de Ouro Preto um set inesquecí vel, ao lado do também excepcional pianista sérvio Bojan Z, há muito radicado em Paris.

Todos os que lá estavam sentiram o impacto desse modo de expressão musical sempre surpreendente conhecido como jazz, apresentado no mais alto grau de exigência técnica e de réussite artística. E naquela base do aqui e agora, entre o straight e o free , com swing ex plícito ou implícito, além de apropriações étnico-culturais muito bem dosadas.

Portal – 75 anos e agenda sempre cheia – convocou novamente Bojan Z para com ele produzir o CD Bailador (Le Chant du Monde/EmArcy/Universal), em sexteto que tem na seção rítmica os notáveis Jack DeJohnette (bateria) e Scott Colley (baixo acústico) e, mais na linha de frente, os jovens e já consagrados Lionel Loueke (guitarra), 37 anos, e Ambrose Akinmusire (trompete), 28. Loueke é um sofisticado músico nativo do Benin, que não esconde sua africanidade, inclusive em originais vocalizações. Akinmusire, nascido na Califórnia, descendente de nigerianos, venceu em 2007 a Thelonius Monk Competion (a mais importante do gênero nos Estados Unidos), tendo assinado contrato de exclusividade com o selo Blue Note, no ano passado.

O recém-lançado álbum de Portal contém seis composições de sua pena: a faixa-título (7m35), Dolce (8m), Cuba si, Cuba no (5m50), Ombres (5m08), Alto blues 6m08) e a ornetteana Tutti no hystérique (3m48). Pela primeira vez em sua discogra fia, ele não usa o clarinete em si bemol (seu instrumento de cabeceira). O clarinete baixo é a voz predominante em cinco faixas, com realce para a – como antecipa o título em francês – sombriamente bela Ombres , a única em duo (com Loueke). Portal serve-se do sax alto no plangente Alto blues e em Cu ba si, Cuba no , e do sax soprano em Ci trus juice (9m20), peça de autoria de Eddy Louiss, de sabor oriental (vertente ibérica), tratada em clima quente apimentado pelas vergastadas de mestre DeJohnette. Este, por sua vez, assina One on one (11m10).

É o próprio líder quem explica por que deu preferência ao clarone no contexto de Bailador : “Não há muita coisa gravada com um clarinete e um trompete. Só o clarinete baixo soa bastante vigoroso em oposição ao trompete.

O contexto não é intimista, frágil, tênue. É preciso potência, e com Ambrose Akinmusire eu sinto o desejo de tocar clarinete baixo, sax soprano e até sax al to. Este último, em geral, só costumo tirar do estojo uma vez por ano”.

O texto de apresentação do álbum da EmArcy é bem feliz, ao resumir, assim, o espírito da sessão: “A música em Bailador é torrencial, brilhante e sofisticada. Tem-se aqui Portal por inteiro: rigor e diversão, conhecimento e generosidade, técnica fascinante, prazer em profusão, precisão e balanço...

Ele pode ser ouvido como um hedonista brincalhão amante da partilha e, ao mesmo tempo, como um músico cerebral, de vanguarda. E, no entanto, sua busca nada mais é do que a de “simples melodias e temas abertos que floresçam até se transformarem num ponto de interrogação”.

Quem quiser ter uma boa ideia de Michel Portal à frente do sexteto de Bailador pode ouvi-lo na internet, num concerto na Salle Pleyel, em Paris, no mês passado (liveweb.ar.

te.tv/fr/video/Michel_Por tal_Sextet).