N o dia 15 de setembro de 1960, depois de paginar e inventar o primeiro número deste caderno, Reynaldo Jardim viu Jânio de Freitas retornar da reunião com a Condessa Pereira Carneiro e com Odylo Costa, filho, e informar: “Olha aqui: vai se chamar mesmo Caderno B ”. O espírito da modernidade que sempre motivou a equipe do Jornal do Brasil , culminando na criação do primeiro jornal 100% digital do país no ano passado, teve no poeta e jornalista que nos deixou no primeiro dia deste mês um legítimo representante. Jardim foi o responsável, nos anos 50, pela reforma gráfica do periódico, onde criou o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil ( S DJB), o Caderno de Domingo e, claro, este Caderno B . Em 2005 e 2006, manteve uma coluna diária de poesia no B, na época comandado por seu amicíssimo Ziraldo, que agora nos relata lembranças e histórias inesquecíveis vi vidas por este, como define o cartunista, “inventor comp u l s ivo ” .
– Reinaldo foi um dos nossos jornalistas mais importantes do século 20, um reformulador da nossa imprensa – frisa Ziraldo. – Seu talento e sua criatividade foram fatores importantes para transformar o Jornal do Brasil no jornal mais importante do país durante o século que passou, um jornal que pautou toda a imprensa brasileira e abriu caminhos para sua modernização.
Autor de dezenas de livros de poesia, entre eles Paixão segundo Barrabás , Maria Bethânia, guerreira guerrilha , Joana em flor , Viva o dia e, mais recentemente, Sangradas escrituras , finalista do Prêmio Jabuti de 2010, Jardim tinha um conhecido “bicho carpinteiro”. Ou seja, não conseguia mesmo parar quieto.
– Ele foi um gênio – resume o cartunista. – Escultor, ilus trador, desenhista, prosador, diretor de arte, designer, animador cultural, artista de vanguarda (desde quando existiu a vanguarda entre nós, brasileiros). Saiu por aí, inventando jornais e revistas, orientando e encantando jovens que hoje são jornalistas importantes Brasil afora.
Apesar do papel fundamental que teve no jornalismo brasileiro, Reynaldo Jardim, no começo da carreira, trabalhava numa agência de publicidade, onde conheceu (o amigo por toda a vida) Z i ra l d o.
– Quando saí de Minas Gerais e vim para o Rio, fui trabalhar na Grant – lembra o chargista. – Tinha 16 anos e lá conheci o Reynaldo, que tinha vindo de São Paulo e devia ter uns 22. Eu achei-o elegantíssimo, inteligentíssimo, com uma agilidade mental que eu não tinha conhecido ainda. Era bastante assustador para um garoto como eu, mas ele sempre teve muita paciência para ensinar.