ASSINE
search button

Sabotagem em linhas de trem mudam ambiente de greve na França

Compartilhar

Agência EFE

PARIS - As sabotagens das linhas de trem de alta velocidade mudaram hoje o ambiente do oitavo dia de greve nos transportes públicos na França, exatamente no momento em que o início de negociações traz a esperança de acabar com a paralisação, que vem causando graves danos à economia francesa.

Os 'atos de sabotagem coordenados', segundo qualificou a companhia ferroviária SNCF, ocorreram 'simultaneamente' de madrugada em todas as linhas de alta velocidade que saem de Paris: a do Leste, a do Atlântico, a do Norte e a do Sudeste.

A queima de cabos de sinalização e a destruição de comutadores obrigaram alguns trens a circular em marcha lenta e a alterar seus respectivos trajetos.

Os 400 TGVs (trens de alta velocidade) em funcionamento, de um normal de 700, apresentavam entre 45 minutos e quatro horas de atraso nesta tarde.

O Governo francês dirigiu palavras muito duras contra as ações de sabotagem, que já estão sendo investigadas.

O primeiro-ministro francês, François Fillon, foi contundente a respeito do ocorrido, e não hesitou em falar de 'atos criminosos' e anunciar 'punições muito severas' para os responsáveis, diante da Assembléia Nacional francesa.

Fillon declarou que, se os autores destas sabotagens 'acharam que assim poderiam interromper a negociação na SNCF', tal 'estratégia irresponsável' faz com que as conversas sejam ainda mais necessárias.

Os sindicatos que prosseguem com a greve também condenaram os incidentes, conscientes da impopularidade de seu protesto contra os regimes especiais de pensões.

Uma pesquisa publicada nesta quarta-feira pelo jornal 'Le Figaro' elevou para 68% a proporção de franceses que consideram a paralisação como um ato injustificável. Por sua vez, 69% dos pesquisados querem que o Governo se mantenha firme em sua posição.

A Confederação Geral de Trabalhadores (CGT), grande protagonista da greve e considerada um elemento-chave para sua eventual resolução, se apressou em considerar as sabotagens como "inadmissíveis', atribuindo-as a 'covardes' e dizendo que são "destinadas a tirar o crédito' dos trabalhadores da SNCF.

Incidentes do tipo foram registrados isoladamente nos últimos dias.

A CGT lançou publicamente a questão de quem são os beneficiados por estas sabotagens no momento da abertura das negociações trilaterais entre empresas, sindicatos e Governo, na SNCF e na empresa de transportes metropolitanos de Paris, RATP.

O Executivo francês aceitou iniciar as conversas mesmo antes do cumprimento da condição inicial, que previa o fim das paralisações, tendo a esperança de que isso acontecesse com a presença de todos os atores envolvidos na mesa de negociações.

O presidente da RATP, Pierre Mongin, disse estar 'satisfeito com o caráter construtivo' do primeiro encontro, que se estendeu por quatro horas, e permitiu 'fixar um método de trabalho'.

- No que se refere a isso, já não há nenhuma razão para prolongar a greve atual - afirmou.

Já a presidente da SNCF, Anne-Marie Idrac, já havia criado um clima favorável, ao assegurar que não seria 'mesquinha' no momento de fazer propostas.

Apesar disso, e de uma nova redução hoje na percentagem de grevistas (22,8% na SNCF após os 27% de terça-feira, e 16,4% na RATP após 18,4% do dia anterior), o nono dia consecutivo de greve se anuncia para esta quinta-feira.

O número de trens e de serviços no transporte metropolitano em Paris certamente irá aumentar, mas a situação continuará longe do normal, com 583 dos 700 trens de alta velocidade em funcionamento, e entre a quarta parte e um terço do metrô de Paris em atividade, além de uma atividade quase nula nos trens de subúrbios.

O Governo francês foi quem fixou o marco das negociações, excluindo dos debates o aumento do período de contribuição que dá direito a aposentadoria integral, de 37,5 anos para 40 anos, ponto considerado fundamental por Sarkozy.

O processo tem limite de um mês, e as direções das duas empresas avançaram em temas nos quais pode haver concessões, como as compensações financeiras e os sistemas complementares de pensões.

Nas empresas do setor energético EDF e GDF, onde seus trabalhadores também contribuem para os regimes especiais, as direções tentaram fechar acordos ao aceitarem, para 2008, um aumento de 15% da verba salarial, pagando melhor os jovens e equilibrando os salários de homens e mulheres.