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Historiador diz que eixo Brasil-Argentina formará bloco sul-americano

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Agência EFE

BUENOS AIRES - Brasil e Argentina serão "o eixo de um bloco de países" na América do Sul, superando a "liderança militar" dos Estados Unidos, "que está em decadência", assegurou nesta segunda-feira o brasileiro e doutor em Ciência Política Luiz Alberto Moniz Bandeira. O historiador previu que o novo bloco regional será a Comunidade Sul-Americana de Nações, impulsionada pela "liderança" brasileira e argentina, uma vez que a Comunidade Andina (CAN, formada por Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru) "está morta".

- A CAN já não é um projeto integracionista viável não só pela saída da Venezuela, em abril de 2006, mas também porque não tem um pólo industrial como o Mercosul - disse.

Moniz Bandeira, ex-professor de universidades do Brasil, Alemanha, Argentina e Portugal, destacou que o Mercosul, fundado em 1991 por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, se transformou em um "pólo muito poderoso" desde que, no ano passado, aceitou a entrada da Venezuela como membro pleno.

- O Mercosul não deve esperar que os outros venham. Deve dar um salto qualitativo do ponto de vista institucional para fortalecer a união aduaneira e coordenar políticas econômicas - advertiu.

Admitiu que os membros do bloco sul-americano, especialmente o Brasil, são desfavoráveis a implantar normas que fiquem "acima" das leis nacionais.

- Mas a integração sempre traz conflitos, embora acabe se impondo, como ocorreu na União Européia (UE), além de suas controvérsias internas - ressaltou.

O acadêmico disse que os Estados Unidos estão em uma etapa de "decadência" frente à aparição de "um mundo multipolar", que deverá compartilhar com a China, Índia, Rússia, UE e uma América do Sul que atuará como um "bloco" sustentado por Brasil e Argentina.

- O Brasil compreende que é necessária uma integração com a Argentina para que possa existir um pólo de poder mundial para negociar com os outros gigantes - apontou Bandeira, que apresentou em Buenos Aires seu livro 'A formação do império americano, desde a guerra contra a Espanha à Guerra do Iraque'.

O analista sustentou que a recente viagem do presidente dos EUA, George W. Bush, ao Brasil, Uruguai, Colômbia, Guatemala e México "não mudará nada' nem servirá para fortalecer a liderança americana na região. Também minimizou a importância da viagem que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, realizou em paralelo à de Bush por Argentina, Bolívia, Nicarágua, Jamaica e Haiti.

- Chávez sustenta que os EUA podem provocar conflito na fronteira entre Venezuela e Colômbia, mas a realidade é que isso não convém aos EUA, porque o país compra dos venezuelanos 15% do petróleo que consome: não pode se expor a uma situação de conflito - ressaltou.

- Bush foi ao Uruguai para tentar retirar o país do Mercosul, mas há muita resistência dos uruguaios a uma aproximação com os EUA, apesar das queixas pelas assimetrias econômicas com o bloco sul-americano - disse o acadêmico.

- O Uruguai não sairá do Mercosul: tem 3,3 milhões de habitantes e ninguém vai fazer um investimento ali se o país renunciar ao acesso ao mercado de 200 milhões que a Argentina e o Brasil têm em conjunto - especificou.

Moniz Bandeira afirmou que o Brasil fez "muitas concessões ao Uruguai", e aconselhou que "sejam oferecidas vantagens para a instalação de empresas interessadas em vender produtos" ao Mercosul.