EFE
Bruxelas - O relator do Parlamento Europeu (PE) sobre as atividades da CIA (agência de inteligência dos Estados Unidos), Giovanni Cláudio Fava, considerou nesta quarta-feira que a maioria dos Governos da União Européia (UE) aceitou de forma ativa ou passiva a prática da Administração americana de deter e interrogar ilegalmente suspeitos de terrorismo.
- É difícil achar alguém que não tenha nenhuma responsabilidade nesta história ou que seja totalmente isento do que aconteceu - afirmou o socialista italiano, ao apresentar a minuta de conclusões da comissão parlamentar que examinou a atuação da CIA durante quase um ano.
Como prova da responsabilidade compartilhada, o texto, que ainda terá que ser votado e em seu caso emendado, cita o encontro entre a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, e seus homólogos da UE e da Otan em dezembro de 2005 em Bruxelas.
Certas atas da reunião, às quais a comissão teve acesso graças a uma 'fonte confidencial', confirmam que os Estados da UE 'tinham conhecimento do programa de transferência ilegal e de detenções secretas', informa o texto.
No entanto, Fava ressaltou que cada Governo reagiu ao escândalo com diferente 'sensibilidade'.
Citou como exemplo positivo o ministro de Exteriores espanhol, Miguel Ángel Moratinos, primeiro a falar na comissão, e como negativo, o ministro britânico para a Europa, Geoffrey Hoon, que negou as acusações tachando-as de 'invenções da imprensa'.
O relatório mostra que as 1.245 escalas de vôos operados pela CIA desde o 11 de setembro de 2001 na Europa estão bem divididas: Alemanha (336 escalas), Reino Unido (170) Irlanda (147), Portugal (91), Espanha (68) e Grécia (64), entre outros.
Mas só aponta para a cooperação ou para o conhecimento da operação em alguns dos 18 casos concretos de prisões ilegais investigados em três membros da UE: Itália, Reino Unido e Alemanha.
Afirma, portanto, que houve 'participação ativa' de agentes secretos italianos no seqüestro do egípcio Abu Omar em Milão, em 2003, e acha 'muito provável' que o então Governo de Silvio Berlusconi tivesse conhecimento da operação.
Além disso, atribui a esse Governo uma 'cooperação constante' com os serviços secretos envolvidos na detenção ilegal do italiano Abu al-Kassem Britel no Paquistão, em março de 2002.
Sobre o Reino Unido, sustenta que agentes britânicos interrogaram o etíope Binyam Mohammed no Paquistão e o britânico Martin Mubanga na base americana de Guantánamo (Cuba).
Além disso, 'telegramas dos serviços de segurança' britânicos sugerem, segundo o texto, que os seqüestros do iraquiano Bisher al-Rauhi e do jordaniano Jamil el-Banna na Gâmbia em 2002 foram em parte resultado da 'informação errônea' fornecida pelo MI5 (serviço secreto interno britânico).
Paralelamente, conclui que as autoridades alemãs 'tiveram pelo menos conhecimento' da prisão ilegal do alemão Khaled el-Masri na Macedônia em dezembro de 2003.
Além disso, assinala que o turco residente na Alemanha Murat Kurnaz, detido no Paquistão em 2001, foi interrogado por agentes alemães em Guantánamo em duas ocasiões, em 2002 e 2004.
E, citando uma 'fonte institucional confidencial', assegura que a polícia federal alemã forneceu ao FBI (polícia federal americana) informações que ajudaram a prender o alemão Mohammed Zammar, detido sem acusações em dezembro de 2001 em Casablanca (Marrocos).
Por outro lado, o texto lembra que o Governo sueco negou em 2001 o pedido de asilo dos egípcios Mohammed el-Zari e Ahmed Agiza, e que por causa da negativa, ambos foram transferidos em um vôo da CIA para o Cairo, onde foram presos e torturados.
Por outro lado, critica a falta de colaboração da Polônia, e, embora só se baseie em indícios, assinala que o país 'pode ter abrigado' um centro temporário de detenção da CIA.
Apenas o Governo da Bósnia-Herzegovina, país que não é membro da UE, 'não nega ter participado de uma transferência ilegal', especificamente de seis argelinos que ainda estão presos em Guantánamo.
Fava defendeu a investigação até o final da possível conivência de cada Estado membro em relação às prá