Reuters
WASHINGTON - A rede norte-americana NBC qualificou nesta segunda-feira de guerra civil o conflito no Iraque, uma decisão que contraria a posição oficial da Casa Branca e que, segundo analistas, vai acentuar a desilusão da opinião pública com a presença militar dos EUA naquele país.
A NBC, uma das principais redes norte-americanas, disse no seu programa 'The Today Show' que a incapacidade do governo iraquiano em conter a crescente violência entre facções rivais faz com que a situação possa ser considerada uma guerra civil.
O governo Bush há meses se recusa a aceitar essa definição, embora o general norte-americano que supervisiona a operação no Iraque em agosto tenha admitido esse risco. Na segunda-feira, um funcionário da Casa Branca contestou a avaliação da NBC.
Gordon Johndroe, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, disse que, embora a situação seja séria, nem o presidente George W. Bush nem o primeiro-ministro iraquiano, Nuri Al Maliki, consideram que se trata de uma guerra civil.
Para Ted Carpenter, responsável pela área de Estudos de Defesa e Política Externa do Instituto Cato, de esquerda, a decisão da NBC 'certamente é um importante marco'.
- Ela muda a terminologia, e provavelmente mudará a perspectiva dos espectadores, e suspeita-se que outros veículos da mídia cedo ou tarde vão acompanhar.
O descontentamento popular com o conflito foi um dos principais fatores que levaram à derrota do Partido Republicano (governista) nas eleições parlamentares deste mês. Analistas dizem que os norte-americanos não vão tolerar que as tropas norte-americanas sirvam como árbitro entre facções numa guerra interna.
- Parece que os norte-americanos estão sendo mortos quase acidentalmente, enquanto os iraquianos estão sendo mortos de propósito - disse Stephen Hess, professor de Mídia e Questões Públicas na Universidade George Washington.
A violência entre xiitas e sunitas aumentou de forma dramática em uma semana. Na quinta-feira, uma série de carros-bomba matou mais de 200 pessoas em um bairro xiita de Bagdá, provocando represálias em bairros sunitas.
O rei Abdullah, da Jordânia, disse no último domingo que uma guerra civil é iminente no Iraque. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, alertou na segunda-feira sobre esse risco.
Especialistas diferem sobre a definição de guerra civil. Embora sunitas e xiitas não estejam organizados em exércitos regulares, o nível da violência entre as seitas leva muitos a verem uma guerra civil de fato.
A ONU estima que 120 iraquianos morrem por dia e que cerca de 100 mil fogem do país por mês.
- Está ficando tolo para o governo ou para qualquer um negar que há uma guerra civil - disse Michael O'Hanlon, pesquisador-sênior do Instituto Brookings, para quem o atentado de fevereiro contra a mesquita xiita de Samarra representou o marco na transição entre a insurgência antiamericana e a guerra civil.
Loren Thompson, analista de defesa do Instituto Lexington, não considera que o Iraque esteja em guerra civil, porque a maior parte da população não está envolvida na violência.
Mas Thompson acha que, caso realmente haja uma guerra civil, será impossível para os EUA manterem sua presença militar.
- Os EUA vão sair quando sentirem que têm de tomar partido para continuar operando no Iraque - afirmou.