Reuters
BAGDÁ - O promotor-chefe do julgamento de Saddam Hussein por genocídio disse neste domingo que tem uma fita de áudio e documentos provando que o ex-líder iraquiano ordenou pessoalmente o ataque com gás contra curdos no norte do Iraque nos anos 1980. Saddam e outros seis ex-comandantes voltam à corte nesta segunda-feira para o julgamento da campanha militar contra os curdos, que segundo os promotores matou cerca de 180 mil pessoas. A operação incluiu o uso disseminado de armas químicas.
Entre os acusados está o primo de Saddam, Ali Hassan al- Majeed, conhecido como 'Ali Químico'. Eles justificaram a operação de 1988 como um ato militar legítimo contra milícias curdas que se aliaram ao Irã, inimigo do Iraque, durante a guerra de 1980 a 1988. O promotor-chefe, Munkith al-Faroon, disse ter gravações de encontros em Bagdá de Saddam com autoridades de seu Partido Baath do norte do Iraque. Em uma delas, o líder afirma que eles deveriam usar as armas somente com sua autorização.
- A promotoria vai apresentar as fitas à corte, que decidirá se devem ser aceitas como evidência - disse Faroon.
Faroon disse também que a promotoria tem documentos assinados por Saddam e emitidos por seu gabinete em que ele ordena o uso de armas químicas contra os curdos durante a operação, chamada Anfal (Espólios de Guerra). Os documentos e as fitas serão importantes para a promotoria tentar provar a responsabilidade criminal de Saddam. Grupos de direitos humanos disseram que a promotoria não mostrou provas no primeiro julgamento de Saddam, em que ele foi condenado à morte.
O grupo de Nova York Human Rights Watch disse que no primeiro caso a promotoria teve 'falhas importantes em termos de tipos de evidência necessários para provar intenção, conhecimento e responsabilidade criminal' dos acusados. Saddam foi apontado culpado de crimes contra a humanidade por ter ordenado a morte ou a tortura de centenas de xiitas na cidade de Dujail, depois de um atentado contra sua vida naquele local, em 1982.
O julgamento de Anfal, que na segunda-feira vai ouvir mais testemunhas dos 1.175 acusadores, já ouviu diversos relatos de como jatos iraquianos bombardearam aldeias curdas ao longo da fronteira iraniana com armas químicas. O conhecido caso do uso de gás na cidade de Halabja, em 1988, é a base de outra acusação. Faroon disse que ele e outras autoridades acabaram de voltar de visitas a diversas aldeias onde encontraram foguetes que não explodiram e que os o armamento para análise de especialistas em químicos.