EFE
CUZCO (Peru) - A proteção do patrimônio imaterial uniu o Brasil a mais seis países da América Latina com a implementação em Cuzco, antiga capital do Império Inca, do primeiro centro do mundo para resguardar a cultura ancestral dos povos.
Brasil, Argentina, Bolívia, Colômbia, Chile, Equador e Peru inauguraram nesta sexta-feira o Centro Regional para a Proteção do Patrimônio Cultural Imaterial da América Latina (Crespial), com a presença de representantes da Unesco.
- Durante muitos anos, a cultura e costumes das etnias e comunidades eram consideradas anedóticas. No entanto, hoje são vistas como expressões mais puras da identidade de um povo - disse à Efe a diretora do Instituto Nacional de Cultura do Peru, Cecilia Bákula.
Ela acrescentou que os países-membros do Crespial trabalharão de maneira conjunta 'não só para conhecer o patrimônio cultural imaterial, mas para registrar, inventariar e promover as suas manifestações, evitando que se percam no tempo'.
A iniciativa foi tomada pelo Governo peruano, com o objetivo de integrar mais os países da região e sensibilizar para a inclusão das comunidades na defesa do seu patrimônio.
A escolha de Cuzco como sede do órgão foi uma decisão unânime dos países-membros da Unesco. A diretora da área de Registro e Estudo da Cultura Contemporânea do Peru, Soledad Mujica, disse à Efe que a opção 'é um reconhecimento do papel histórico da cidade na América Latina'.
Os países-membros do Crespial elegeram o antropólogo e historiador peruano Jaime Urrutia para dirigir a instituição nos próximos quatro anos. Ele trabalhou na ONG Cepes, que implanta programas de combate à pobreza, e fez parte da Comissão da Verdade e Reconciliação que investigou a guerra interna no Peru entre 1980 e 2000.
Em entrevista coletiva, ele anunciou que o órgão receberá uma verba de US$ 500 mil anuais do Instituto de Cultura de Cuzco e mais US$ 180 mil da Unesco.
A sede institucional do Crespial, no Palácio de Qusicancha, foi inaugurada com a exibição de danças tradicionais de Cuzco. Houve também uma cerimônia simbólica de 'pagamento à terra' (agradecimento aos deuses andinos) por membros de comunidade Kero da província de Paucartambo. O 'vayaroc' (chefe) da comunidade Mamuera, Pablo Noa, entregou uma simbólica vara de comando a Jaime Urrutia.