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Cubanos ainda tentam se acostumar a silêncio de Fidel

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Agência JB

HAVANA - O silêncio se instalou no ambiente político cubano, e para a população isso traz ao mesmo tempo alívio e inquietação. Após décadas fazendo longos e frequentes discursos, o líder cubano Fidel Castro praticamente desapareceu desde que se afastou do poder, no final de julho, por causa de uma cirurgia. Seu irmão Raúl, presidente interino, é muito menos eloquente. Agora, os discursos de Fidel já não interrompem a programação da TV cubana; ele não é mais o centro da vida nacional, como era desde o triunfo da revolução, em 1959. Nos últimos meses, o comandante só foi visto em algumas fotos e rápidos vídeos. Os cubanos só não sabem como interpretar isso.

- Ele foi uma pessoa que definiu tudo para nós. Agora ninguém diz nada, o que me faz perguntar o que vai acontecer - disse o segurança Ernesto Valdares.

- Não há discursos, nada, está muito diferente - afirmou uma mulher que se identificou apenas como Dora.

Muita gente em Cuba, ao encontrar estrangeiros, se declara 'fidelista', mas no mesmo fôlego garante não se interessar por política. São pessoas que juram lealdade eterna a Fidel, mas que não sentem a mesma paixão por Raúl, que tem muito menos carisma que o irmão. Mas mesmo alguns 'fidelistas' acham que o silêncio do líder tem um lado bom. 'Para dizer a verdade, é um alívio não tê-lo falando tanto. Ele estava o tempo todo na televisão', disse Dora. Raúl, 75 anos, só aparece esporadicamente em eventos públicos, e, quando fala, é pouco, em parte para não menosprezar o irmão convalescente. Analistas dizem que Raúl -- ministro da Defesa desde 1959 -- é um tecnocrata acostumado aos bastidores, responsável por fazer do Exército a instituição mais eficiente do país.

Sem notícias, os cubanos especulam sobre o futuro. Ernesto, balconista de uma loja de roupas em Havana, acha que tudo continuará igual, seja com a morte ou a recuperação de Fidel.

- As pessoas de cima não quer que nada mude, estão se dando bem - afirmou.

Já Valdares acha que um novo governo será obrigado a fazer algo para melhorar a precária economia de Cuba, onde o salário médio é de 15 dólares por mês e há racionamento de alimentos.

- Tenho muito orgulho de ser cubano e estou contente com o jeito que as coisas estão, mas precisamos de mais dinheiro. Se Raúl substituir Fidel, ele terá de fazer algumas mudanças - afirmou.