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Centenas acompanham cortejo de ministro morto no Líbano

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Agência Reuters

BEIRUTE - Centenas de libaneses se acotovelaram nesta quarta-feira na tentativa de tocar o caixão do ministro Pierre Gemayel, cujo assassinato, atribuído à Síria por seus aliados, fez crescer o temor de que haja mais violência no país. A revolta e a apreensão tomaram conta do país antes do enterro do ministro da Indústria, um cristão maronita que foi morto a tiros dentro do carro, num subúrbio de Beirute, na terça-feira. Ele foi o sexto político libanês anti-Síria a ser morto em quase dois anos.

Vários líderes proeminentes anti-Síria acusaram Damasco pelo atentado, e afirmaram que acreditam que haverá mais ataques contra os políticos que lideraram os protestos que levaram à retirada dos militares sírios do Líbano, em 2005.

- Parece que o regime sírio vai prosseguir com os assassinatos. Acho que vai haver mais assassinatos, mas, não importa o que eles façam, estamos aqui e vamos vencer - disse o líder druso Walid Jumblatt.

O assassinato de Gemayel transformou o Dia da Independência do Líbano, na quarta-feira, numa ocasião sombria. Todas as festividades, incluindo uma parada militar, foram canceladas. O crime também elevou as tensões entre o governo anti-Síria e a oposição pró-Síria liderada pelo Hezbollah, o poderoso grupo guerrilheiro muçulmano xiita que está determinado a derrubar o gabinete.

Enviados sírios rejeitaram as acusações de envolvimento no assassinato e aderiram à onda de condenações internacionais. O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, telefonou para o premiê libanês, Fouad Siniora, para manifestar seu apoio contra a 'intrusão do Irã e da Síria' no Líbano, disse um porta-voz da Casa Branca. Bush também telefonou para o pai de Gemayel, o ex-presidente Amin Gemayel, para dar suas condolências.

O enterro de Gemayel acontecerá na quinta-feira, e a coalizão anti-Síria pediu à população que compareça em massa. O corpo do ministro, que tinha 34 anos, foi levado de um hospital próximo a Beirute para sua cidade natal, Bekfaya, a nordeste da capital, onde centenas de pessoas ladearam o caixão, agitando bandeiras verde e brancas do Partido Falange. Conforme o cortejo passava, as mulheres jogavam flores e arroz das sacadas.

Centenas de pessoas se empurravam para tentar tocar no caixão, e alguns estavam tão histéricos que mal conseguiam andar.

- Eles mataram o herói dos heróis. Eles estão matando o sonho do Líbano. As suspeitas apontam para a Síria - disse Rizkallah Gemayel, 45.

Defensores de Gemayel manifestaram sua revolta com a Síria e com o líder maronita Michel Aoun, por sua aliança com a oposição apoiada pela Síria. Cartazes com a foto de Aoun foram queimados em áreas cristãs. O papa Bento 16 chamou o assassinato de um ataque brutal e pediu ao povo libanês que esteja atento às 'forças obscuras que estão tentando destruir o país'. O patriarca maronita cardeal Nasrallah Sfeir pediu calma.

Muitos libaneses também acreditam que a Síria tenha sido responsável pelo assassinato do ex-premiê libanês Rafik al-Hariri, em 2005, ataque que precipitou a retirada síria, por causa das pressões internacionais. Uma investigação da ONU responsabilizou autoridades libanesas e sírias pelo atentado contra Hariri. A Síria nega.

Seis ministros pró-Síria já renunciaram a seus postos. Com a morte de Gemayel, basta que mais dois ministros deixem seus cargos -- por renúncia ou por estar mortos -- para que o governo de Siniora caia. O Hezbollah, que entre julho e agosto envolveu-se numa guerra com Israel no sul do Líbano, já ameaçou tomar as ruas para derrubar o governo de Siniora. Mas uma fonte política próxima ao Hezbollah disse na terça-feira que o assassinato forçaria o grupo a rever seus planos e adiar os protestos.