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Militante palestino morre em prisão de Israel após 87 dias de greve de fome

Jihad Islâmica jurou vingança, provocando temores de uma nova escalada da violência na Faixa de Gaza

Por GABRIEL MANSUR
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Publicado em 02/05/2023 às 16:32

Alterado em 02/05/2023 às 16:32

Khader Adnan Reprodução/Twitter

Dirigente do movimento palestino Jihad Islâmica, Khader Adnan, de 45 anos, morreu nesta terça-feira (2), sob custódia de Israel, depois de mais de 87 dias de greve de fome. As forças israelenses prenderam o militante em 5 de fevereiro, perto de sua casa na cidade de Jenin, na Cisjordânia, e o manteve na prisão à espera do julgamento desde então - ele era acusado de envolvimento com o grupo radical, que Tel Aviv considera terrorista, e de incentivo verbal à violência.

O palestino foi indiciado por seu envolvimento na Jihad Islâmica e por discursos que incitavam à violência, disse uma autoridade israelense sob condição de anonimato. Um tribunal militar de apelações recentemente rejeitou seu pedido de libertação, acrescentou.

A administração da prisão israelense anunciou, em comunicado, a morte do prisioneiro, "encontrado inconsciente em sua cela" e posteriormente hospitalizado. A Jihad Islâmica e o Clube dos Prisioneiros Palestinos também confirmaram a morte de Adnan. Ele havia sido preso inúmeras vezes em Israel e já havia feito quatro greves de fome, o que o tornou um símbolo para os palestinos.

De 2012 para cá, Khader foi detido cinco vezes; em todas as ocasiões ele se manifestou da mesma forma contra as prisões que considerava "arbitrária", mas nunca ficou tanto em jejum. Em 2012, ele já havia passado 67 dias sem comer em uma detenção prévia. Em 2015, ficou 56 dias. Em 2018, 58 dias; e em 2021, por 25 dias.

Khader Adnan começou seu protesto no início de sua detenção em 5 de fevereiro, mas segundo a administração penitenciária de Israel, ele "se recusou a fazer exames médicos e receber atendimento". A versão é contestada pelo advogado de Adnan, Jamil Al-Khatib, e por um médico de uma organização de direitos humanos que se reunira com ele dias antes, que afirmam que o governo se negou a oferecer ao palestino o acompanhamento devido.

"Exigimos que ele fosse transferido para um hospital civil, onde poderia ser assistido de maneira apropriada. Infelizmente, nossa demanda foi recebida com rejeição e intransigência", afirmou Al-Khatib à agência de notícias Reuters.

O palestino foi indiciado por seu envolvimento na Jihad Islâmica e por discursos que incitavam à violência, disse uma autoridade israelense sob condição de anonimato. Um tribunal militar de apelações recentemente rejeitou seu pedido de libertação, acrescentou.

Protestos

Em coletiva de imprensa em sua casa em Arraba, no norte da Cisjordânia ocupada, sua esposa Randa Musa declarou que sua morte é um "orgulho". Na sexta-feira, a mulher afirmou que suas condições de detenção eram "muito difíceis" e denunciou que Israel se recusou a transferi-lo para um hospital civil ou permitir a visita de seu advogado.

O primeiro-ministro palestino, Mohammad Shtayyeh, descreveu a morte como "um assassinato deliberado" por Israel por "recusar seu pedido de libertação, ignorá-lo clinicamente e mantê-lo na cela apesar da gravidade de sua saúde".

Já o presidente do Clube dos Prisioneiros Palestinos, Qaddura Faris, afirmou que Adnan é o primeiro palestino a morrer como resultado direto de uma greve de fome, embora outros tenham morrido por "tentativas de alimentá-los à força".

Após a notícia de sua morte, os partidos políticos palestinos anunciaram uma greve geral na Cisjordânia nesta terça-feira, com o fechamento de tribunais, escolas, universidades e lojas.

Vingança e escalada de violência

Após a morte do militante, a Jihad Islâmica jurou vingança, provocando temores de uma nova escalada da violência na Faixa de Gaza. Em nota, a organização disse que a morte de Adnan havia sido "poderosa e honrosa" e que Tel Aviv - capital de Israel - "pagará o preço por este crime".

"Se o povo palestino não tivesse pessoas como Khader, nossa causa não teria repercussão", disse Ziad al-Nakhale, dirigente da facção. Apesar de ter presença limitada na Cisjordânia, ela é o segundo grupo mais bem equipado de Gaza em termos de armas.

O discurso não ficou apenas no papel. Durante a madrugada, três foguetes e um obus foram lançados de Gaza em direção a Israel, embora tenham caído em campos abertos ou perto da cerca da fronteira, anunciou o Exército. À tarde, tanques israelenses dispararam contra a Faixa de Gaza e mais foguetes foram disparados do território palestino em direção a Israel, observaram os jornalistas da AFP.

Estes novos disparos foram reivindicados, em comunicado conjunto, pelos grupos armados da Faixa de Gaza, que afirmaram tratar-se de uma "primeira resposta" à morte de Adnan.

Quem foi Khader Adnan?

Khader Adnan era de Araba, uma vila palestina próxima a Jenin, onde morava com sua esposa e nove filhos. Ele era cozinheiro, mas também estudou economia e estava fazendo mestrado. O militante era líder intelectual da Joihad Islâmica, partido que compõe o movimento de resistência nacional palestino, unindo ideologias da esquera revolucionária com o islã político.

Adnan foi detido 12 vezes desde 2004. No total, foram oito anos de prisão, sempre sob o status de "detento administrativo". Na mais recente, que culminou em seu óbito, ele foi acusado de "filiação política" e "incitação política". A Palestina refuta as denúncias e afirma que a mudança na terminologia foi para "evitar críticas contra sua detenção árbitrária".

A "prisão administrativa", segundo movimentos palestinos, é uma ferramenta do regime israelense para reprimir qualquer atividade política de palestinos.

Khader também foi brevemente detido pela Autoridade Palestina após manifestações contra o assassinato do ativista polítio Nizar Banat. Em cartas escritas durante sua última detenção, Adnan disse que a "ocupação israelense vai ao extremo contra nosso povo, especialmente contra prisioneiros". Acrescentou que foi "humilhado, agredido e assediado por interrogadores sem motivo algum".