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Portugal libera entrada de turistas dos EUA, mas brasileiros seguem proibidos e sem previsão

Saem os britânicos, entram os norte-americanos. Após a retirada de Portugal da lista verde do Reino Unido, o governo português vai passar a aceitar a entrada de turistas dos Estados Unidos. Aos brasileiros continuam proibidas as viagens turísticas, sem previsão de autorização em terras lusitanas

Por LAURO NETO

Publicado em 10/06/2021 às 07:54

Turistas fazem fila no Aeroporto de Faro após o Reino Unido anunciar a retirada de Portugal da lista verde, em 6 de junho de 2021 Reuters / Pedro Nunes

O anúncio foi feito por Pedro Siza Vieira, ministro da Economia e da Transição Digital, nessa terça-feira (8), mesmo dia em que milhares de turistas britânicos começaram a abandonar Portugal antecipadamente. Foi quando passou a vigorar a determinação do governo do Reino Unido de quarentena àqueles que regressassem do território português.

Não por coincidência foi a data escolhida para o Turismo de Portugal anunciar o seu programa internacional "Time to be" (Tempo de ser), seguindo a orientação do primeiro-ministro, António Costa, de diversificar os mercados para não ficar tão dependente dos britânicos.

Afinal, é a segunda vez este ano que o país é pêgo de surpresa por decisões do governo do Reino Unido de proibição de viagens devido à pandemia de covid-19. A primeira foi quando os britânicos decidiram suspender os voos com Portugal, em janeiro, alegando as raízes históricas do país com o Brasil, cuja variante P1 ainda era uma novidade ameaçadora. À época, a decisão britânica provocou descontentamento diplomático.

Desta vez, não foi diferente. Agora, sob a alegação da presença de uma variante nepalesa, suposta mutação da cepa indiana, os britânicos fecharam o cerco de novo. E novamente causaram um embaraço diplomático para Portugal, que apostava (quase) todas suas fichas na retomada do turismo do verão europeu e nas libras convertidas em euros.

Contudo, a invasão dos turistas britânicos no Algarve, sedentos de sol e de liberdade, durou pouco tempo. Três semanas, mais precisamente, até a nova determinação de confinamento no retorno ao Reino Unido. Só não durou menos do que a invasão dos hooligans no Porto para a final da Champions League, que, além de estadias curtas, gerou confusão, brigas e o perigo de contaminação por terem furado a bolha de segurança.

O governo português minimizou os prejuízos no Porto em função das libras. Mas não a nova surpresa desagradável da retirada de Portugal da lista verde britânica para viagens internacionais. Depois de classificá-la como "uma decisão cuja lógica não se alcança", Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, subiu o tom em entrevista à TVI, dizendo que a decisão é mais humilhante para a tradição britânica de decisões racionais.

O chanceler português também usou a racionalidade (e as variantes) para justificar o Brasil na lista de países cuja entrada só é permitida para viagens essenciais, por motivos de trabalho, estudo, saúde ou reunião familiar.

"O que nós usamos é este critério. Depois, para países específicos, como a África do Sul, Índia e Brasil, por causa das variantes, exigimos, para além do teste, quarentena. Parece-nos que este critério é racional e parece-nos que, numa altura como esta, a racionalidade é o nosso melhor aliado", disse Santos Silva à TVI.

Ministro cita Brasil como mercado estratégico, mas não dá prazo

Já Siza Vieira citou duas vezes o nome do Brasil como mercado turístico estratégico durante a apresentação do programa "Tempo de ser", em Arouca, a 330 quilômetros de Lisboa. No entanto, ao ser questionado pela Sputnik Brasil quando seria o "tempo de ser e estar" dos turistas brasileiros em Portugal, o ministro não mencionou mais o nome do país e não deu qualquer previsão de reabrir as portas a eles.

"Vamos seguir a recomendação da União Europeia em matéria de viagens, avaliando, a cada momento, qual é a situação que existe nos vários países. Nesse momento, estou em condições de referir que Portugal entende que visitantes provenientes dos Estados Unidos com a vacinação completa e reconhecida pela Agência Europeia de Medicamentos [EMA] poderão fazer viagens não essenciais a partir, julgo eu, da próxima semana", tangenciou Siza Vieira.

A estimativa diz respeito ao novo despacho governamental que deve ser publicado no dia 15 de junho, renovando o estado de calamidade e atualizando as listas de países autorizados a fazer viagens turísticas ou apenas essenciais. O Brasil vai permanecer na segunda lista pelo menos até o dia 1º de julho, quando deve entrar em vigor o Certificado de covid-19 da UE.

O documento vai permitir a livre circulação dentro da UE de cidadãos que comprovem vacinação completa por um imunizante reconhecido pela EMA ou pela Organização Mundial da Saúde (OMS), tenham anticorpos por terem se recuperado da doença ou apresentem um teste RT-PCR negativo.

Confrontado pela Sputnik Brasil com o fato de a OMS ter aprovado o uso emergencial da CoronaVac (principal fármaco aplicado no Brasil) e indagado se os turistas brasileiros não seriam liberados nem com a vacinação completa, Siza Vieira tergiversou novamente.

"O certificado corresponde a um regulamento aprovado durante a presidência portuguesa num tempo muito curto e que visa, sobretudo, assegurar que temos critérios uniformes de viagem dentro da União Europeia. A liberdade de circulação de pessoas é um dos princípios fundamentais da UE e, por isso, aquilo que quisemos assegurar foi que os cidadãos que cumprissem os mesmos requisitos pudessem recuperar essa liberdade de circulação", disse.

Ironicamente, na apresentação do programa "Tempo de ser", feita pelo presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo, o Brasil figura como um dos mercados a serem priorizados em 2021, com grande potencial de crescimento, ao lado dos Estados Unidos e da China. Eles estão no nível 2, abaixo apenas da Espanha, Reino Unido, Alemanha, França, Holanda, Irlanda e Itália, que se destacam pela proximidade geográfica e pelo conhecimento do destino.

Contudo, no texto de apresentação à imprensa, o Brasil não é citado. A campanha, com investimentos anuais de 10 milhões, faz parte do plano de retomada "Reativar o Turismo. Construir o Futuro". Em uma primeira fase, será focada nos mercados europeus, abrangendo, mais tarde, os intercontinentais, como Estados Unidos e Canadá.

Maior ponte pedonal suspensa do mundo, sem banheiro por perto

Os vídeos promocionais destacam alguns dos produtos turísticos com maior potencial de valorização, como surfe, sol, mar e natureza, enoturismo e gastronomia, aldeias e patrimônio. A estratégia é estimular a procura em todo o território nacional, promovendo o negócio turístico no interior do país, mas também no litoral e nas cidades que foram particularmente afetadas no último ano por causa da pandemia de covid-19.

A campanha foi apresentada em uma tenda montada à entrada da 516 Arouca, a maior ponte pedonal suspensa do mundo, sobre o Rio Paiva, com 516 metros de comprimento e 175 metros de altura em seu ponto mais alto. A atração turística foi inaugurada no fim de abril, integrada aos Passadiços do Paiva, um circuito de caminhada às margens do rio, com praias fluviais e propício à prática de rafting e de rapel nas encostas montanhosas.

No entanto, causa estranheza que não haja banheiros abertos ao público próximos às duas extremidades da ponte, o que traz obstáculos ao passeio. Por outro lado, a hospitalidade e a receptividade são os pontos altos da região. Seja no restaurante Parlamento, onde se faz uma degustação de autênticas carnes arouquesas, seja pelos guias turísticos.

Carioca é o guardião da ponte e dos visitantes

Se os turistas brasileiros ainda não podem viajar a Portugal para conhecer a nova atração turística, o carioca Arthur Melo representa o país trabalhando como controlador da ponte, cuidando da entrada das pessoas e prestando o auxílio necessário aos visitantes. Indagado pela Sputnik Brasil se há muita gente que desiste da travessia por medo, ele diz que realmente há algumas pessoas que não fazem a travessia por medo.

"Ocorreram poucas situações até o momento. Porém, normalmente quem tem muito medo de altura ou vertigens, anda 10 metros e já volta para trás", conta Melo.

Aos 24 anos, ele mora há três e meio em Portugal e trabalha na ponte desde a abertura, quando ainda era restrita a moradores de Arouca. Antes, trabalhou por dois anos como controlador das entradas dos Passadiços do Paiva. O brasileiro diz que no primeiro mês de funcionamento da ponte ao público, passaram por lá entre 15 e 20 mil visitantes.

"O trabalho é tranquilo. Temos contato com uma grande diversidade de pessoas, desde portugueses a russos. Ultimamente, tenho visto muitos brasileiros, principalmente do Sudeste e do Nordeste", relata. (com agência Sputnik Brasil)