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EUA acusam príncipe saudita de autorizar assassinato de Khashoggi

Relatório de inteligência foi divulgado nesta sexta-feira

Por Jornal do Brasil
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Publicado em 26/02/2021 às 17:34

Alterado em 26/02/2021 às 17:34

Khashoggi foi assassinado, mas os restos mortais nunca foram encontrados Foto:Tolga Bozoglu/Epa

O príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, provavelmente "autorizou" uma operação para "capturar ou matar" o jornalista dissidente Jamal Khashoggi, segundo o relatório de Inteligência dos Estados Unidos divulgado nesta sexta-feira (26).

O repórter, crítico do governo saudita, foi assassinado em 2018, dentro da embaixada da Arábia Saudita em Ancara, na Turquia, quando foi até o local para buscar uma certidão para poder se casar.

"Avaliamos que o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Muhammad bin Salman, aprovou uma operação em Istambul, na Turquia, para capturar ou matar o jornalista saudita Jamal Khashoggi', diz o documento do gabinete do diretor de Inteligência Nacional.

O relatório sobre a investigação revela que bin Salman considerou Khashoggi como uma ameaça ao reino e apoiou amplamente o uso da violência, se necessário, para silenciá-lo.

"Baseamos esta avaliação no controle do príncipe herdeiro da tomada de decisões no Reino, no envolvimento direto de um conselheiro-chave e membros da equipe de proteção de Muhammad bin Salman na operação e no apoio do príncipe herdeiro ao uso de medidas violentas para silenciar dissidentes no exterior, incluindo Khashoggi", acrescenta o texto.

Além disso, a Inteligência americana ressalta que "tem alta convicção" sobre as responsabilidades dos envolvidos na morte de Khashoggi, mas não sabe dizer se bin Salman tinha conhecimento antecipado que a operação terminaria com o assassinato.

Segundo o relatório, desde 2017, o príncipe tem o controle absoluto das organizações de segurança e inteligência do Reino, o que seria "altamente improvável" que as autoridades sauditas tenham realizado uma operação desse tipo sem sua autorização.

Os investigadores americanos listaram 21 pessoas de "alta confiança" como cúmplices ou responsáveis pela morte do jornalista em nome de bin Salman. Entre elas estão sete que faziam parte de um grupo de elite encarregado da segurança privada do herdeiro, chamado de Força de Intervenção Rápida (RIF, na sigla em inglês).

"Julgamos que os membros do RIF não teriam participado da operação contra Khashoggi sem a aprovação de Muhammad bin Salman", afirma.

Em 2019, o príncipe saudita disse assumir "total responsabilidade" pelo assassinato do repórter, uma vez que aconteceu sob seu comando, mas negou ter ordenado. Na ocasião, autoridades locais afirmaram que a morte de Khashoggi foi obra de funcionários sauditas de segurança e inteligência desonestos.

No ano passado, os tribunais da Arábia Saudita anunciaram que sentenciaram oito cidadãos sauditas à prisão pelo assassinato de Khashoggi. Eles, no entanto, não foram identificados.

De acordo com investigações, Khashoggi foi visto com vida pela última vez no dia 2 de outubro de 2018, quando foi chamado para uma reunião no consulado saudita em Istambul. Seu corpo, porém, foi desmembrado, mas os restos mortais dele nunca foram encontrados.

A revelação do relatório acontece um dia depois do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, telefonar para o pai do príncipe, o rei Salman.

Durante a conversa, o democrata reforçou seu compromisso de "ajudar a Arábia Saudita a defender seu território dos ataques de grupos aliados ao Irã", mas também ressaltou a "importância que os EUA dão aos direitos humanos e ao Estado de Direito", informou a Casa Branca.

Sem dar mais detalhes, a porta-voz americana, Jen Psaki, disse que existe "uma série de medidas sobre a mesa". Já o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, revelou que Biden "vai revisar por completo as relações [com os sauditas] para se assegurar que promovam os interesses do povo americano e para se assegurar que reflitam seus valores".(com agência Ansa)