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Prisão de chefe do exército uruguaio gera polêmica

Militar é punido por presidente após críticas contra reforma da previdência

Presidência -
Guido Manini Ríos deu declarações contrárias a projeto que modifica previdência militar
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Após mandar prender por 30 dias o comandante do exército do Uruguai, Guido Manini Ríos, por desrespeito à Constituição, fato que causou polêmica no país e repercutiu na América Latina, o presidente Tabaré Vázquez saiu em defesa da medida, enquanto a oposição criticou a decisão do dirigente.

O governante foi enfático: “ele se equivocou e, em função disso, foi punido”. Manini é acusado de violar o artigo 77 da Constituição e o Regulamento Nacional de Serviços 21, que estabelece que os militares não podem dar opiniões sobre projetos de leis. O chefe do exército fez declarações contrárias a uma reforma das pensões dos militares em debate no Congresso.

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Guido Manini Ríos deu declarações contrárias a projeto que modifica previdência militar (Foto: Presidência)

“Comentar um projeto de lei que está em discussão no Parlamento é uma atividade política”, disse Vázquez. O presidente, no entanto, elogiou Manini e garantiu que não havia perdido a confiança no subordinado. “Não há nenhuma perda de confiança na lealdade institucional do comandante do exército, demonstrada em mais de uma oportunidade, e tampouco está em jogo a boa fé com que atua”, complementou o dirigente uruguaio. Vázquez é da Frente Ampla, mesmo partido do ex-presidente José Mujica. Foi durante o fim de seu mandato, em 2015, que Manini tomou posse do cargo. Na ocasião, o militar afirmou que os “integrantes do exército são leais a seus comandantes naturais, a sua instituição e, sobre todas as coisas, a sua pátria”.

Por outro lado, adversários de Vázquez condenaram a decisão. “Aplicar 30 dias de prisão ao chefe do exército é apenas uma tentativa de humilhação das forças armadas”, argumentou o ex-presidente Julio María Sanguinetti. Segundo ele, as declarações de Manini apenas “defendiam os direitos de seus subordinados, que hoje estão em estado de pobreza”. O senador Álvaro Delgado, do Partido Nacional, afirmou que o comandante foi punido “apenas por dizer a verdade sobre os prejuízos da reforma da previdência militar”. Vários outros oposicionistas se manifestaram a favor do chefe do exército, argumentando que ele “defendeu a tropa”.

Durante seu primeiro mandato, Vázquez chegou a destituir do cargo o então chefe do exército, Carlos Díaz, por ter se encontrado com Sanguinetti e o ex-ministro da Defesa Miguel Dalmao.

Histórico de polêmicas

Durante entrevista para uma rádio, Guido Manini Ríos se posicionou contra a reforma e questionou o ministro do Trabalho, Ernesto Murro. Não foi a primeira vez que ele veio a público para desaprovar o governo de Vázquez. Em maio de 2017, o comandante condenou o projeto de lei, apesar das ordens do presidente para que os funcionários estatais não comentassem aspectos da reforma. Além disso, em outras ocasiões, Manini fez comentários críticos no Twitter. O comandante também já foi questionado por fazer declarações religiosas em canais oficiais do exército e participar de missas trajado como militar. Por lei, o Uruguai é um país laico e o governo deve se abster de fazer declarações do tipo.

A decisão de puni-lo foi tomada durante Conselho de Ministros. O chefe do exército terá que passar 30 dias em uma unidade militar sem poder realizar suas funções. Manini está fora do Uruguai em agenda oficial e deve retornar ao país no dia 18 de setembro.

A polêmica surge pouco depois do candidato a presidente pelo PDT, Ciro Gomes, afirmar que em seu governo o chefe do exército brasileiro, Eduardo Villas Bôas, seria demitido e preso por suas declarações sobre o processo eleitoral. O comandante afirmou que dependendo do resultado das eleições, o próximo presidente pode não ter “legitimidade”.