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'Chapeuzinho vermelho do inferno' é um hino ao mau gosto

E uma prova de que os filmes do Festival do Rio também podem ser extremamente ruins

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Gostar de filmes de terror é difícil. Isso porque, aparentemente, todos os diretores e roteiristas do mundo parecem ter recebido o mesmo memorando. Terror é sexo, sangue ou a combinação menos refinada possível dos dois.

Se estivermos falando de Chapeuzinho vermelho do inferno, então, também não podemos esquecer cachorrinhos sendo usados para a satisfação pessoal de uma adolescente. E, ah, a parte em que essa mesma adolescente é estuprada em cima do corpo da avó morta.

Já dá para perceber a classe do “filme”. Defini-lo é ainda mais simples. Afinal, algo que não tem direção, fotografia, muito menos trama não tem como ser de maneira alguma complexo. Mas, basicamente, é o seguinte: estão todos constantemente excitados, em todas as situações, a todo o momento.

Fora isso, não há muito o que entender. A história é confusa; a direção, risível; e o filme, como um todo, de um mau gosto inacreditável. A nós, espectadores desavisados, resta presenciar o conto da Chapeuzinho Vermelho segundo a interpretação dos roteiristas, Edgar Soberón Torchia e o próprio Jorge Molina, que, sabe-se lá por que, é orgulhoso o suficiente para colocar seu nome no título original, Molina’s ferozz. Charles Perrault, coitado, deve estar se revirando no túmulo com essa adaptação horrenda da sua história.

Miranda (Dayna Legrá) é uma adolescente que mora com a mãe, Dolores (Ana Silvia Machado), e o pai, Lúcio (Waldo Franco), até que ele morre vítima de uma criatura sobrenatural e folclórica, o Cagüero. As duas são atormentadas pela mãe do falecido, a Dona Zulma (Francisco García, sim, é um cara), possivelmente um dos personagens mais bizarros da história do cinema. Dentre seus prazeres estão ver o filho violentar a mulher na mesa de jantar e insultar o neto Dully (Raúl Capote), que tem problemas mentais e nenhuma finalidade no filme, a não ser ficar se masturbando.

O único consolo de Miranda e Dolores é Inocêncio (Roberto Perdomo), o outro filho de Dona Zulma. As duas não escondem sua animação ao vê-lo. Sim, as duas, incluindo uma menina que, no “filme”, não deve ter mais de 15 anos.

O pior de tudo, se é que isso é possível, é que a história é completamente sem propósito. Ninguém vai sair do cinema refletindo sobre o que acabou de ver, como se tudo aquilo fosse uma denúncia. Se você conseguir aguentar até o final da sessão, o máximo que conseguirá ganhar são algumas risadas. Não que o “filme” seja engraçado – não há nada engraçado em uma cena de estupro, por exemplo –, mas a gargalhada vem da incredulidade, porque simplesmente não dá para acreditar no que se está vendo.

Mas Chapeuzinho vermelho do inferno nos ensina algo de bom, pois temos que entender de vez uma coisa. Não é porque é alternativo que é bom, pessoal. Jorge Molina está aí para provar isso - aos que tiverem estômago para a experiência.

Cotação: º (Ruim)