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'Terraferma' é o grande destaque da mostra Foco Itália

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Triste são os outros 427 filmes que terão que dividir o Festival do Rio de 2011 com o belíssimo Terraferma. Tudo bem, isso talvez seja um exagero. Afinal, também temos Almodóvar. Mas fato é que, escrita e dirigida, pelo italiano Emanuele Crialese, a história da família Pucillo é imperdível. Prepare-se para 88 minutos que, com certeza, vão fazer você sair do cinema sentindo que presenciou algo especial.

Ganhador do Prêmio especial do júri no Festival de Veneza 2011, Terraferma nos transporta para uma pequena e paradisíaca ilha na região da Sicilia. Ali, Ernesto (Giuseppe Fiorello) e seu neto, Filippo (Filippo Pucillo), tentam viver da pesca.

Mas o lugar não é mais tão pacato. Além de ser o destino de uma horda de turistas, também se encontra inconvenientemente na rota de imigrantes ilegais em busca de terra firme europeia – daí o nome do filme.

De início, somos levados a crer que a trama principal gira em torno dessa dificuldade de Ernesto - o perfeito velho teimoso - em se adaptar à transformação do vilarejo em um ponto turístico.

"Fomos ensinados a pescar", ele retruca quando a família sugere que a casa seja alugada para visitantes de outras regiões. Enquanto Filippo e sua mãe, Giulietta (Donatella Finocchiaro), tentam arrumar hóspedes, Ernesto insiste em trabalhar no velho barco de pescaria, como se nada pudesse mudar aquela tradição.

Com esse enredo por si só, o filme já seria ótimo. O diretor mostra que é mestre em construir oposições entre cenas que mostram o quanto deve ser estranho olhar o mundo mudar de fora. Para sustentar o filme, há, ainda, a crítica sutil, embora ácida, ao turismo de massa, que elege vilarejos e os transformam em verdadeiros resorts, com direito à macarena e tudo mais. Entretanto, logo vemos que estamos diante de um filme muito mais denso e talvez até político.

A relutância em aceitar as mudanças e a crítica ao turismo servem, na verdade, a um propósito bem maior – e infinitamente mais interessante. As maneiras antiquadas do pescador Ernesto são determinantes para que ele decida abrigar em sua própria garagem uma imigrante ilegal africana. Aliás, a chegada da hóspede inesperada é também bem irônica, já que um dos objetivos de Giulietta era que Filippo conhecesse mais gente diferente, de outros lugares. Que tal da Etiópia?

A questão é que a decisão da família, obviamente, traz muitos problemas. A família se vê envolvida com lei, uma vez que facilitar a imigração ilegal é crime na Itália. E assim o filme tira de baixo do tapete a discussão sobre a xenofobia, uma das grandes questões na Europa hoje. Enquanto as relações dentro da casa dos Pucillo se transformam, situações construídas pelo diretor conseguem mostrar com excelência o quanto o debate é muito mais profundo do que qualquer filme poderia retratar.

Com a filmagem sensível dos pequenos detalhes, uma fotografia belíssima e atuações melhores ainda, Terraferma já é o candidato italiano ao Oscar de melhor filme estrangeiro.  O filme chega ao festival como parte da mostra Foco Itália, uma forma de comemoração do ano do país no Brasil. E que comemoração.

Cotação: **** (Excelente)